O alto índice de infecção hospitalar no Instituto Estadual de Cardiologia Aloysio de Castro (Iecac), no Humaitá, provocou a suspensão das cirurgias cardíacas de grande porte, há uma semana, prejudicando as cerca de 700 pessoas que esperam por uma operação. Durante vistoria ontem, o Sindicato dos Médicos constatou que, dos últimos quatro pacientes operados na unidade, três foram contaminados. Dois deles morreram.
Dados da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Iecac apontam que, em janeiro e fevereiro deste ano, o índice de infecção foi de 45%, quando o tolerável é entre 10% e 15%. Segundo o presidente do sindicato, Jorge Darze, a principal razão do alto índice de infecção hospitalar no Iecac é a má conservação da unidade. A vistoria identificou problemas nas instalações hidráulicas e elétricas do edifício. Quatro das seis salas do centro cirúrgico estão fechadas, com infiltrações e fiação exposta. Duas delas servem como depósito de material.
Secretaria estadual contesta índice de infecção
A parede externa do centro cirúrgico está sem reboco, favorecendo as infiltrações. A autoclave, usada para esterilizar os instrumentos cirúrgicos, está quebrada. As duas salas em funcionamento recebem apenas procedimentos menos arriscados, como a implantação de marca-passos.
A Secretaria estadual de Saúde contesta os números, sustentando que o índice de infecção hospitalar do Iecac está entre 0,5% e 5%. A secretaria atribui o cancelamento das cirurgias de grande porte a um pequeno aumento no índice provocado por defeitos na autoclave e na refrigeração.
A unidade coronariana do hospital, fechada há mais de cinco anos, ainda não teve a reforma iniciada. Os paciente vindos da emergência ficam misturados aos que estão em pós-operatório, aumentando as chances de contaminação. Enquanto isso, os seis leitos da sala de pós-angioplastia estão vazios, por falta de material.
Monitores de freqüência cardíaca novos juntam poeira na sala de emergência, repleta de infiltrações. Um cartaz pregado na porta da emergência anuncia que os sete leitos estão lotados. O Iecac funciona com metade de sua capacidade instalada, de 170 leitos.
A má conservação também põe em risco a saúde dos funcionários, segundo o presidente da Associação de Servidores do Iecac, Hugo de Castro. Exposto a barulho excessivo, o encarregado da caldeira apresenta sinais de surdez no ouvido esquerdo. Costureiras e almoxarifes, também alocados no subsolo, convivem com infiltrações e mofo em ambientes sem ventilação.
O Instituto Estadual de Cardiologia Aloysio de Castro tem um longo histórico de problemas. Atualmente, a unidade é administrada por uma comissão interventora, nomeada pelo estado em 2004 depois de a Fundação Antônio Luiz de Medina (Falmed) ter o contrato rompido. Em fevereiro, a comissão encaminhou ao Ministério Público estadual um relatório com o resultado de mais de um ano de investigações.
O relatório aponta indícios de superfaturamento e desvio de recursos, entre outras irregularidades. Em janeiro, a Procuradoria Geral do Estado (PGE) e auditores da Secretaria estadual de Saúde identificaram o desvio de R$ 1,4 milhão de verbas do Sistema Único de Saúde (SUS) que deveriam ter sido usadas no Iecac. Segundo a PGE, o dinheiro foi sacado irregularmente pelo controle da Falmed durante a batalha judicial que se seguiu à intervenção.
O Iecac estava incluído na lista original das dez mil obras da publicidade do governo estadual. Depois da série de reportagens do GLOBO sobre obras malfeitas, inacabadas ou não realizadas, o estado refez a lista e excluiu o hospital da nova versão. Segundo a Secretaria de Saúde, um plano de reformas, ainda sem data para começar, está em avaliação.
Em 2003, O GLOBO mostrou que um tomógrafo helicoidal de R$ 1 milhão estava há um ano encaixotado, servindo de banco p