Importações de equipamentos e insumos cresceram 20,44% no semestre, diz a Abimed. A desvalorização do dólar ante o real e a maior oferta de linhas de financiamento estão possibilitando a modernização da rede de saúde brasileira, que importou 20,44% mais máquinas, equipamentos e insumos médico-hospitalares no primeiro semestre deste ano, conforme dados da Associação Brasileira de Equipamentos, Produtos e Suprimentos Médico-Hospitalares (Abimed), baseados em estatísticas do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). No período, foram US$ 886,17 milhões FOB ante os US$ 735,75 milhões do primeiro semestre do ano passado.
As vendas no País das principais fabricantes mundiais do setor, como as norte-americanas General Eletric (GE) e Medtronic e a alemã Siemens, também indicam forte movimento de alta. A divisão Healthcare da GE registrou vendas 60% maiores no primeiro semestre, em relação ao resultado de igual fase de 2005, e a previsão é de manutenção desse percentual para o ano como um todo. Já as vendas da área Siemens Medical subiram 20%, acompanhando o mercado, e devem se manter nesse patamar de alta em 2006. As empresas mantêm os valores de faturamento em sigilo. A Medtronic estima um faturamento 25% maior neste ano, de US$ 65 milhões.
O presidente da Abimed, David Neale, considera o resultado semestral bastante expressivo e disse que o aumento fez a entidade rever suas projeções de crescimento de 5% para cerca de 15% neste ano, com as importações atingindo em torno de US$ 1,8 bilhão até o final de 2006, em comparação com os US$ 1,46 bilhão de 2005. Baseado em análises preliminares, já que a Abimed inicia agora um trabalho inédito de detalhamento do comportamento desse mercado, Neale afirmou que o crescimento decorreu, em especial, das compras do setor privado.
Os números levantados pela Abimed mostram que as importações do segmento de diagnóstico por imagem – que são produtos com alta tecnologia e, portanto, maior valor agregado e mais concentrados nos hospitais de ponta, que em sua maior parte está nas mãos da iniciativa privada – cresceram em média 57% nos períodos comparados. As importações de somente um dos capítulos que agregam também esses itens passaram de US$ 437,02 milhões no primeiro semestre do ano passado para US$ 545,75 milhões neste ano.
As compras de aparelhos de ressonância magnética, por exemplo, subiram 74%, para US$ 36,75 milhões. Marcelo Barboza, gerente para o Cone Sul da GE Healthcare, informou que as vendas da empresa de aparelhos de tomografia computadorizada, por exemplo, cresceram 100% no período, e as de equipamentos PET/CT, que detectam câncer em estágio muito inicial, devem chegar a 7 unidades este ano. "No ano passado, foi zero e no primeiro semestre já fechamos cinco negócios." Um equipamento desse custa em média US$ 1,5 milhão.
"Em compensação, em alguns produtos cuja cobertura maior é do SUS (Sistema Único de Saúde) verificamos queda", disse Neale, citando como exemplos as importações de implantes (-1%), próteses (-16%) e marca-passos cardíacos (-14%). "O mercado de marca-passo está há três anos estagnado no País", afirmou Neale, observando que o Brasil está entre os cinco últimos colocados no ranking da América Latina de gastos com a saúde per capita, com cerca de US$ 300 por ano.
A Medtronic, fabricante de marca-passo, desfibriladores e próteses, entre outros produtos, da qual Neale também é diretor, teve de reduzir sua dependência do setor público para continuar sua curva de crescimento. "Nos direcionamos mais para os hospitais privados, que hoje representam 50% da nossa receita ante 30% de três anos atrás." Neale disse que com essa estratégia e o lançamento de produtos para nichos onde a empresa não atuava resultou num faturamento triplicado nos últimos três anos.
Câmbio favorável
O gerente nacional de vendas da Siemens Medical, Armando Lopes, avalia que não é fácil medir de onde partiram as compras, mas acredita também que a maior parte foi do setor privado. "A cadeia sofre uma pressão para reduzir custos e ter maior competitividade, o que exige investimentos, possibilitados pelo câmbio favorável", afirmou Lopes. "O dólar baixo estimula as empresas a contrair empréstimos em moeda estrangeira", observou Neale, acrescentando também que a estabilidade econômica, que minimiza os fatores de risco de investimento no Brasil, impulsiona uma maior oferta externa de crédito.
Segundo Lopes, um dos serviços oferecidos pela empresa é o de financiamento, que pode ser feito pela própria divisão da Siemens. A companhia também faz a intermediação entre os seus clientes e outras instituições financeiras para concretizar negócios nessa área. Barboza, da GE Healthcare, informou que apenas 20% das vendas da empresa no País são à vista, 60% realizadas com financiamentos em moeda estrangeira, também impulsionados pela estabilidade na cotação do dólar, e 20% em moeda nacional.
Barboza observou que, além da linha de financiamento da GE, a companhia busca no mercado internacional outras ofertas de crédito e tem conseguido também desenvolver junto aos bancos instalados aqui linhas de específicas para a área de saúde. O Banco do Nordeste e o Banco Real implantaram recentemente esse serviço. O Banco do Nordeste começou a liberar os primeiros créditos no final de 2005, já o financiamento do Real para o setor existe há um ano.
Barboza disse ainda que o desempenho deve-se também ao crescimento das vendas em regiões onde historicamente são baixas. "Os equipamentos mais modernos estão ainda concentrados nos grandes centros, mas hoje notamos que as compras de outras regiões estão crescendo." Para a gerente de marketing da divisão da GE, Deborah Telesio, as atuais condições econômicas do País são uma oportunidade para as empresas atualizarem a base instalada, muito antiga ainda, até para atenderem com maior eficiência o crescimento da demanda por exames.