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Tabagismo é um desafio para 78% dos médicos

            Pelo menos 200 mil entre 26 milhões de brasileiros perdem a luta para o cigarro a cada ano e morrem prematuramente de doenças provocadas pelo vício. No mundo, o número de fumantes chega a 1,3 bilhão de pessoas – o que equivale a 20% da população do planeta. Decifrar o mecanismo psicológico da dependência de tabaco e nicotina motivou a realização de uma pesquisa com 3.760 fumantes de 15 países. Batizado de "Tabagismo: compreensão das percepções de pessoas, opiniões e reações ao tabaco" (Support, pela sigla em inglês), o estudo patrocinado pela farmacêutica Pfizer constatou que largar o cigarro é considerada a tarefa mais difícil da vida por 70% dos usuários.

            De acordo com o levantamento, 90% dos fumantes acham que abandonar o vício é apenas uma questão de força de vontade. E quase sempre não recorrem a ajuda médica, ainda que os próprios especialistas da área da saúde muitas vezes se sentem incapacitados diante do problema, como revela a pesquisa "Tabagismo: a opinião dos médicos" (Stop, pela sigla em inglês), que contou com a participação de 2,8 mil profissionais de 16 países. Lançadas ontem em Nova Orleans (Estados Unidos), durante o Congresso da Universidade Norte-Americana de Cardiologia (ACC, pela sigla em inglês), as pesquisas Support e Stop colocam o Japão como o país com maior número de fumantes; na outra ponta da lista está o México. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil está na quinta colocação no ranking do tabagismo – o país não foi incluído nas análises.

            Por sua vez, o estudo Stop revela que, embora 90% dos médicos recomendem o abandono do cigarro, apenas 47% elaboram um plano efetivo para seus pacientes atingirem essa meta. As duas pesquisas apresentam discrepâncias preocupantes: enquanto 41% dos médicos dizem conversar sobre o cigarro nas consultas, apenas 9% dos fumantes confirmam a informação; 66% dos especialistas afirmam ensinar aos tabagistas várias formas de sair do vício, mas os fumantes garantem que somente 33% dos médicos o fazem de fato. Os usuários de cigarro alegam que 26% dos médicos se preocupam com os hábitos do paciente, mas 71% dos médicos sustentam que até tomam notas sobre o tabagismo durante as consultas. No entanto, 51% dos especialistas entrevistados admitem não ter tempo para ajudar o paciente a parar de fumar. Ao todo, 78% dos médicos sentem falta de um treinamento adequado para motivar o fumante a largar o cigarro.

Tratamento

            "Para combater as mortes provocadas pelo cigarro, todos nós, médicos e pacientes, precisamos reestruturar o modo como falamos e pensamos sobre o tabagismo. Fumar não é uma manifestação de falta de determinação ou de personalidade, mas uma condição médica grave provocada pela dependência do tabaco", afirmou ao Correio a norueguesa Serena Tonstad, chefe médica do Departamento de Cardiologia Preventiva do Hospital da Universidade Ulleval, em Oslo, e uma das autoras da pesquisa Support. Segundo ela, muitos fumantes requerem tratamento por estarem viciados na inalação de nicotina. "Esse vício acaba por levar à morte prematura um em cada dois tabagistas."

            De acordo com o canadense Andrew Pipe, diretor do Centro de Reabilitação e Instituto do Coração da Universidade de Ottawa, os jovens sentem mais dificuldades em abandonar o vício, por não considerarem a saúde uma questão relevante. Já os adultos têm os círculos sociais como principais inimigos. "O fato de que seus amigos e parentes também fumam torna mais difícil deixar o cigarro", comentou. "Além disso, quanto mais a pessoa fica velha, mais prioriza outras preocupações, colocando a questão do tabagismo no fim da lista de prioridades." Ao contrário do que muitos fumantes pensam, encerrar a dependência em nicotina não é apenas uma questão de força de vontade. "O vício se prova um grande inimigo a ser derrotado depois de um tempo de consumo", lembrou Pipe.