A classe média vem enfrentando um aperto no orçamento que nem os recentes aumentos do rendimento do trabalho conseguiram aliviar. Os serviços de saúde e educação, que deveriam ser proporcionados pelo Estado diante da excessiva tributação, estão pesando no orçamento e subindo bem acima da inflação.
De 2003 até junho deste ano, as mensalidades dos planos de saúde aumentaram 57,89%, bem acima dos 30,87% do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador de inflação que serve de referência para o sistema de metas de inflação do governo. Nos preços das mensalidades escolares, o mesmo movimento. Alta de 46,83% de 2003 até agora.
— Apesar da desindexação da maioria dos itens da economia, alguns serviços continuam indexados. Mas, ao contrário de telefonia ou energia elétrica, nos quais os reajustes estão cada vez mais baixos ou até negativos, com os planos de saúde isso não aconteceu.
O setor alega que os custos subiram acima da inflação — diz Eulina Nunes, coordenadora do Sistema de Índice de Preços do IBGE.
Os reajustes vêm sendo ditados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), mas atingem apenas os planos vendidos depois de 1999, quando a regulamentação do setor entrou
— Os aumentos de planos de saúde estão sempre entre as cinco maiores influências para alta da inflação — diz Eulina.
A alta de preços e o aumento do uso desses serviços na rede particular, no lugar da pública, fizeram essas despesas crescerem de importância dentro do orçamento das famílias que ganham até 40 salários mínimos. Na última Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de 2002/2003, os planos de saúde representavam 3,34% nas despesas domésticas.
Na pesquisa anterior, de 1996, o peso no orçamento era de 2,79%. Também aumentou o peso das despesas escolares: 4,94% de hoje contra 4,22% registrados em 1996.
— Mesmo com o movimento da classe média de buscar escolas mais baratas, os reajustes foram acima da inflação.
De qualquer forma, esses aumentos vêm diminuindo ano a ano — diz Eulina.