O hospital Nove de Julho, um dos mais conhecidos da capital paulista, foi comprado por uma empresa pertencente ao controlador da Amil, por R$ 311,2 milhões. Os vendedores são os membros da família Ganme.
A aquisição foi realizada pela Esho, companhia que administra diversos hospitais, laboratórios e centros médicos e pertence a Edson de Godoy Bueno. Ele é o controlador da Amil, empresa de capital aberto que é a maior operadora de planos de saúde do país.
A Amil, por também ser controlada por Bueno, tem preferência por comprar o Nove de Julho da Esho. A decisão sobre exercer essa opção ou não deverá ser tomada nos próximos 30 dias pelo conselho de administração da companhia, segundo comunicado divulgado por ela, ontem.
Caso exerça seu direito, a Amil deverá manter as condições já estabelecidas. A Esho pagará R$ 140 milhões por 95,3% do capital social do hospital e ainda assumirá R$ 171,2 milhões em passivos e contingências. Os 4,7% de participação restantes continuam nas mãos de um dos Ganme, segundo um membro da família.
A notícia de que o grupo Amil estava perto de adquirir o Nove de Julho foi veiculada pelo Valor no início de dezembro. Ao longo dos últimos anos, houve diversas aproximações entre a operadora e o hospital, mas a concretização da venda sempre havia sido dificultada por um conflito entre os membros da família Ganme. No ano passado, os parentes alinharam-se no sentido da venda.
O Nove de Julho localiza-se numa região nobre da cidade, próximo à avenida Paulista. O hospital tem 26 mil m e 253 leitos. Em 2006, registrou receita bruta de R$ 200,1 milhões e prejuízo líquido de R$ 1,9 milhão.
No ano passado, conforme dados preliminares divulgados no comunicado da Amil, o faturamento subiu para R$ 213,6 milhões. O resultado líquido de 2007 não foi mencionado.
Segundo um relatório divulgado ontem pelo analista Josh Milberg, do Deutsche Bank, é improvável que a Amil exerça o direito de compra do Nove de Julho por dois motivos. Em primeiro lugar, a operadora já tem dois hospitais na mesma região de São Paulo (o Vila Mariana e o Santa Bárbara). Em segundo lugar, a porcentagem da receita do Nove de Julho gerada por beneficiários da Amil é pequena, em torno de 10%. Nos outros hospitais administrados pela Amil, essa proporção supera os 50%.
Milberg afirma que o preço pago pela Esho para comprar o Nove de Julho "parece alto". Segundo ele, o valor de R$ 311 milhões é quase 15 vezes maior que a margem lajida do hospital – supondo-se que ela seja 10%, ou R$ 21,4 milhões. A margem lajida mostra quanto da receita se transforma em lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações.
A meta de aquisições da Amil, por sua vez, é pagar até cinco vezes o valor da margem lajida de uma empresa (incluídas as sinergias). "Embora, mais uma vez, não esperemos que a Amil exerça sua opção de comprar o Nove de Julho, as notícias de hoje (ontem) podem elevar a preocupação com o risco de que a Amil pague a mais por outros ativos no futuro", escreveu Milberg. Segundo fontes próximas à administração do hospital, o preço de venda estipulado pelos seus acionistas era US$ 100 milhões, com dívidas incluídas. O valor teria subido, segundo essas fontes, porque outros dois grupos entraram na disputa pelo hospital.
Milberg já havia apontado para o risco de que a Amil pague a mais por aquisições num outro relatório de 18 de janeiro. A compra da Life System, anunciada em dezembro, pode ser um exemplo disso, uma vez que o valor da aquisição – R$ 110 milhões – corresponderia a 8,5 vezes a margem lajida, se esta for de 10%. "Aparentemente, a Amil pagou R$ 30 milhões a mais do que (sua concorrente) Medial havia oferecido pela Life System."
A observação do analista não é necessariamente uma surpresa. No setor de saúde, comenta-se que o estilo da Amil é assim mesmo: a empresa paga um pouco mais para evitar o avanço das concorrentes.
A Amil é hoje a maior empresa brasileira de planos de saúde na categoria medicina de grupo – excluem-se as seguradoras como Bradesco e SulAmerica e as cooperativas como a Unimed – com 2,7 bilhões de beneficiários. Seu principal mercado é o Rio de Janeiro. As segunda e terceira maiores companhias são, respectivamente, a Medial e a Intermédica. Elas têm seu principal centro de operações
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Ontem, as ações da Amil subiram 1,2%, para R$ 12,45. Desde a estréia na Bovespa em outubro elas se desvalorizaram 11%.