“A falta de leitos na Regional de Uberaba acontece há mais de dez anos, mas este não é um problema local, mas de todo o país”. A afirmação é do gerente da Gerência Regional de Saúde, Carlos Antônio Alves Farah.
Farah informa que com a Central de Regulação, o SUS Fácil, quando falta leito de UTI em Uberaba o sistema procura vaga em outras cidades do Estado e vice-versa.
As afirmações de Farah, que concedeu entrevista ao JORNAL DE UBERABA junto com o coordenador do SUS Fácil em Uberaba, José Natal França, são em decorrência da matéria divulgada na edição de ontem, que mostra a determinação do procurador da República Bruno Nominato em aumentar o número de leitos de UTI em Uberaba.
"Se forem colocados dez novos leitos, no outro dia vamos ter superlotação. Isso aconteceu recentemente. Em maio colocamos nove leitos de UTI em funcionamento no HC e no outro dia estava com superlotação. E eles não são credenciados ainda", informa, lembrando que a prioridade destes leitos é para cirurgias de urgência e emergência, como as cardíacas, que não podem esperar, como as cirurgias eletivas.
Farah e José Natal lembram que na matéria divulgada ontem foi colocado que no HC tinham 13 pessoas de Uberaba necessitando de leito, sendo atendidas em leitos improvisados. "Como disse o procurador da República Carlos Henrique Dumont Silva, o HC-UFTM é do Brasil. Ele tem razão, porque os recursos são da União e é para atender o povo. Se fosse um hospital municipal poderia atender somente a população de Uberaba, mas o HC tem contratualização para atender a macrorregião na alta complexidade. Também o hospital não pode recusar pacientes de fora. Se acontece um acidente na BR, o hospital tem de atender a pessoa, mesmo sendo de outro Estado. É diferente das cirurgias eletivas, que só têm de atender as cidades pactuadas [os 27 municípios da macro]", informam.
Depreciação – Já o coordenador do SUS Fácil lembra que na cirurgia eletiva o pagamento é feito por pacote, e se o procedimento está previsto para cinco dias e a pessoa fica mais o prejuízo é do hospital. "Na UTI o pagamento é feito por dia, mas à medida que os dias passam o valor vai diminuindo. Por isso nenhum hospital particular quer se credenciar. Às vezes um paciente deste tem de tomar duas injeções por dia, no valor de R$ 150. Só aí vai o valor da diária. E os outros procedimentos?", avalia.
Para Farah e França, a saída para a falta de leitos será a revisão da tabela do SUS para o pagamento dos pacientes de UTIs, para os hospitais da rede privada se atraírem em credenciar seus leitos. Lembram que há muitos anos a tabela não tem reajuste.
"Hoje os pacientes com as mesmas patologias de uns dez anos estão ficando mais tempo internados e os recursos estão ficando limitados. Ficam mais tempo, os medicamentos custam mais caro e estão mais avançados, mas também aumentou o número de pessoas que saem com vida das UTIs. Também a Vigilância Sanitária está mais exigente com o controle das enfermarias, espaço entre leitos, recursos humanos. Agora exige demais. Eles afirmaram que os pacientes estão sendo mal atendidos. Pelo critério deles estão, porque o número de profissionais é menor, o espaço é mais apertado, mas estão sendo atendidos. O que é melhor, os leitos inadequados ou não ter estes leitos e as pessoas morrerem?", questiona Farah. (MGS)
GRS atende portaria
Segundo o gerente da GRS, Carlos Alves Farah, o número de leitos disponíveis atende a Portaria 1.101, de 2002, que estabelece 64 como a quantidade mínima de leitos de UTI para atender uma população de 650 mil pessoas, que é a população da macrorregião de Uberaba. Segundo ele, atualmente são 73 leitos em funcionamento, sendo que 58 são em Uberaba e 15 em Araxá. "Nenhuma rede privada quer se credenciar. Também outros que eram credenciados pediram o descredenciamento. É o caso do Hospital São Domingos, que tinha oito leitos credenciados e descredenciou seis. Atualmente são dois. O Hospital São José tinha seis leitos credenciados e atualmente não tem nenhum. Os hospitais não têm interesse, por causa do valor pago", explica.
O Hospital de Clínicas da UFTM tem 44 leitos credenciados, 37 na Ficha de Cadastro de Estabelecimento de Saúde (FCES) e está com 46 em operação, já que nove leitos foram colocados em funcionamento, sendo dois neonatal e sete UTI pediátricos. "Estes leitos estão em fase de credenciamento. São os leitos que foram liberados pelo Pro-hosp 4. O HC os colocou para funcionar há três meses, mas não está recebendo pelos procedimentos. Para o Ministério da Saúde credenciar uma UTI, primeiro ela tem de estar funcionando. O HC está prestando este serviço sem receber", observa.
SUS Fácil – Em relação ao SUS Fácil, a Central de Regulação de Leitos, José Natal afirma que foi um avanço. "O acesso aos leitos está mais fácil e facilitou para o paciente. Agora ele não sai da unidade de saúde sem ter o leito. Antes tinha de ficar procurando. Acabou esta peregrinação. O sistema é online, funciona 24 horas por dia, com médico e operador. E se não consegue leito aqui, tem de buscar em outro lugar. Neste um ano e meio do SUS Fácil, estamos funcionando muito bem e melhorou o acesso", observa.
França afirma, ainda, que nos últimos dez anos Uberaba perdeu cerca de 150 leitos, com o fechamento dos hospitais Santa Cecília, Vera Cruz, São Paulo, São Lucas, e de outros descredenciamentos nos atuais hospitais, conforme pode ser verificado na tabela.
Apesar de ter diminuído o número de leitos, o médico afirma que houve melhora na prevenção, por isso as pessoas estão internando menos. "Antes as pessoas internavam para fazer diagnóstico, as crianças ficavam internadas facilmente e pessoas com doenças como diabetes ficavam mais internadas. Agora a medicina evoluiu e não é mais necessária tanta internação."