Os médicos da cidade de São Paulo decidiram boicotar oito operadoras de planos de saúde a partir do dia 30 de julho.
Os clientes da Golden Cross e das seguradoras Itaú Seg, Marítima, Unibanco, Notredame, Porto Seguro, SulAmérica e Bradesco Saúde terão que pagar ao médico o valor de R$ 42 por consulta a partir dessa data. O pagamento será feito no ato da consulta e o segurado deverá depois pedir para ser reembolsado pelas empresas.
Segundo Clóvis Francisco Constantino, presidente do CRM-SP (Conselho Regional de Medicina de São Paulo), a medida irá atingir apenas essas empresas porque foi a forma encontrada para que os pacientes não fiquem sem atendimento médico –as seguradoras e a Golden Cross prevêem em contrato o reembolso.
Segundo a categoria, os médicos chegam a receber até R$ 8 por consulta e nos últimos nove anos os convênios aumentaram as mensalidades em até 180%. No entanto, o valor pago aos médicos não foi atualizado.
Caso o paciente não tenha o dinheiro para pagar a consulta, Constantino explica que a relação médico-paciente é muito aberta e que ele não ficará sem atendimento.
“Os atendimentos de urgência e emergência sempre estiveram garantidos”, disse.
Hoje, existem no Brasil 39 milhões de usuários de plano de saúde. A AMB (Associação Médica Brasileira) –que decidiu pelo boicote na noite de ontem– ainda não tem uma estimativa de quantas pessoas a medida irá atingir em São Paulo.
De acordo com Constantino, os médicos pedem a “implantação da classificação de procedimentos, que engloba o avanço da medicina nos últimos dez anos”. “Sem isso não é possível efetuar toda a assistência médica necessária”, disse. Essa classificação inclui métodos de diagnóstico e de tratamento.
Além de garantirem em contrato o reembolso por consulta, as seguradoras foram escolhidas como alvo do boicote porque “são as que mais resistem em conversar sobre a nova lista”.
No dia 17 de agosto, os médicos irão participar de nova assembléia que irá avaliar os resultados do boicote.
Os médicos estão certos em pressionar os planos de saúde?
Os médicos da cidade de São Paulo decidiram passar a cobrar pelo atendimento a clientes de oito planos de saúde para pressionar as empresas a aumentarem o valor pago por consulta. Eles estão certos?
Sim. Os médicos estão há dez anos sem receber reajuste nos valores pagos pelas operadoras de saúde pelos serviços prestados.
20%
Não. Eticamente um médico não pode dificultar o atendimento a um paciente.
4%
Não. Os médicos recebem salários médios superiores à maioria da população e não podem fazer pressão prejudicando os pacientes.
51%
Sim. Os planos de saúde reajustam todos os anos o valor da mensalidade e devem dividir os ganhos com os médicos.
25%
Atenção: o resultado desta enquete não tem valor de amostragem científica e se refere apenas a um grupo de leitores da Folha Online.
ANS diz que usuários não ficarão sem atendimento
A ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) informou que os usuários não podem ser prejudicados pela decisão dos médicos de São Paulo, que decidiram ontem à noite boicotar oito operadoras de planos de saúde a partir do dia 30.
Segundo a ANS, nenhum médico pode se recusar a prestar o atendimento de urgência e emergência.
Nos casos das consultas pré-agendadas, a ANS orienta o usuário a ligar antes para o médico para saber se ele aderiu ao movimento.
Caso o médico diga que só está atendendo mediante pagamento da consulta, a ANS informa que é direito do usuário ligar para a empresa de saúde e exigir que o atendimento seja prestado por outro profissional.
Se a operadora de saúde não colocar outro médico à disposição do usuário, a ANS recomenda que o caso seja denunciado à agência. As denúncias podem ser feitas pelo disque-ANS, que funciona no número 0800 7019656.
Embate
Fontes do setor disseram que não acreditam que os médicos levem adiante a ameaça de suspensão do atendimento dos usuários.
Segundo eles, os médicos já fizeram a ameaça em outros Estados, mas não conseguiram de fato barrar o atendimento.
Entenda a disputa entre médicos e planos de saúde
As seguradoras especializadas em saúde são o principal alvo de um movimento das entidades médicas que já atinge 17 Estados, segundo o presidente do CRM (Conselho Regional de Medicina de São Paulo).
Os profissionais recusam-se a atender pela tabela oferecida pelas empresas e pedem ao paciente os valores que consideram justos.
Os médicos querem que as operadoras e seguradoras atendam à Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos, lançada no fim do ano passado pelo CFM (Conselho Federal de Medicina) e pela AMB (Associação Médica Brasileira).
Enquanto a classificação diz, por exemplo, que o valor-referência de uma consulta deve ser de R$ 42, os médicos recebem hoje, em média, R$ 20.
Segundo Eleuses Paiva, presidente da AMB, as seguradoras são o alvo porque resistem a negociar. Além disso, de acordo com ele, o setor é o que tem a “mensalidade mais alta e que menos se preocupa com a qualidade”.
Otelo Corrêa dos Santos Filho, diretor-adjunto de saúde da Fenaseg, entidade que reúne as seguradoras, diz que as empresas não se recusam a negociar. Segundo o dirigente, são elas que garantem a melhor remuneração.
O Idec (Instituto de Defesa do Consumidor) recomenda que os consumidores chequem antes da consulta se o profissional atende pelo valor do seguro. O atendimento de urgências e emergências tem de ser garantido.