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Médicos são alvo de campanha contra o tabagismo

            Quem não teve uma pequena decepção ao descobrir que seu médico, referência em saúde e que tanto lhe recomendou práticas saudáveis, fumava? A receita ”faça exercícios físicos, não fume e cuide da alimentação” muitas vezes não é praticada por aqueles que a prescrevem.

            A médica pneumologista e integrante da Comissão da Saúde do Médico, do Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR), Roseni Teresinha Florêncio, afirma que entre 10% e 15% dos pacientes podem abandonar o vício se o médico falar dos malefícios durante a consulta. ”Mas se atendo um paciente e sou fumante, não consigo o pleno convencimento de que ele precisa parar. Se não consigo usar este princípio para mim mesmo, não consigo passar para o paciente”, exemplifica.

            Um médico radiologista de 59 anos, que prefere não ser identificado, conta que fuma desde os 19 anos. Ele leva a sua dependência com bom humor, o que não significa que não se preocupe com ela. ”Sabe o que o cigarro disse pra mim? Você me acende e eu te apago”, brinca. Para não perder a credibilidade diante de seus pacientes, o médico fuma escondido no banheiro, constantemente lava o rosto e a boca para disfarçar o cheiro do cigarro e não tem coragem de fumar na frente dos filhos.

            No trabalho, ele convive diariamente com os efeitos causados pelo cigarro. São radiografias de pessoas com câncer no pulmão e casos de enfisema pulmonar, além de várias pessoas com falta de ar, situação que ele ”morre de medo” de passar. ”Sei que estou caminhando para isso”, diz.

            O cirurgião vascular Constantino Miguel Neto, 59, coordenador-geral do Hospital Evangélico, também assistiu aos efeitos de seu próprio vício. ”O cigarro é terrível para as doenças que trato”, afirma. Ele foi fumante durante 40 anos, mas há quatro conseguiu abandonar o vício. Neto conta que quando começou a fumar, aos 19 anos, não havia essa preocupação com a dependência. ”Era até bonito”, diz.

            Para sensibilizar os médicos sobre os malefícios do tabagismo, o CRM-PR e a Unimed Curitiba lançaram ontem o ”Programa de Combate ao Tabagismo”, que será realizado entre a classe médica cooperada. Os profissionais irão participar de palestras sobre o tema e receberão atendimento personalizado por um grupo de psiquiatras e psicólogos, que terá duração aproximada de um ano. A iniciativa faz parte do programa ”Saúde do Doutor”, realizado pela cooperativa dos médicos. ”Às vezes, o médico cuida muito do outro e acaba esquecendo de si próprio”, afirma o presidente da Unimed Curitiba, Sérgio Ossamu Ioshii.

 

O vício é um dos reflexos do trabalho

 

            A médica pneumologista e integrante da Comissão da Saúde do Médico, do Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRMPR), Roseni Teresinha Florêncio, alerta que a dependência dos médicos ao tabaco é um dos reflexos de vários problemas relacionados às condições de trabalho dos profissionais.

            Roseni cita uma pesquisa realizada em 2006, pelo Conselho Nacional de Medicina (CNM), mostrando que 40% dos médicos brasileiros trabalham de 40 a 60 horas por semana e, 21%, mais de 60 horas semanais. A atuação prioritária durante esse período é nos plantões, em que o profissional trabalha nas áreas de urgência, emergência e unidades de terapia intensiva. ”Eles passam muito tempo longe da família, não se alimentam bem, não fazem exercícios físicos e ficam muito tempo em situação de tensão e estresse”, afirma.

            De acordo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), o índice de dependência do tabagismo varia entre 13% e 25% no Brasil. Entre os médicos, a taxa é de 6,8%. ”O índice é menor entre os médicos porque eles têm consciência de que qualquer dependência é maléfica para a saúde. Mesmo assim, não deixa de ser preocupante”, observa.