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Micobactéria faz 60 vítimas em Cuiabá

As infecções hospitalares causadas por micobactérias de crescimento rápido, as chamadas MCR e contraídas em hospitais durante procedimentos cirúrgicos, já fizeram pelo menos 60 vítimas em Cuiabá, incluindo uma morte suspeita (de um homem que fez cirurgia para retirada de um tumor). A incidência motivou o Diário a iniciar hoje uma série de reportagens sobre infecções adquiridas em procedimentos médicos.

A grande maioria dos casos está relacionada às cirurgias feitas por sistema de vídeo, como redução de estômago, refluxo, retirada da vesícula biliar, hérnia de hiato, e cirurgias plásticas, como implante de silicone (seios, nádegas e outros) e lipoescultura.

Os diagnósticos foram confirmados em cirurgias realizadas entre 28 de março de 2006 e 12 de junho de 2007. De tratamento longo e cura difícil, a infecção vem sendo apontada como causa de cegueira, surdez, trombose e outras formas de comprometimento físico, profissional e emocional de pessoas de nível social e faixas etárias diversas.

Desde que fez uma cirurgia de vesícula, em março de 2007, a vida de Selma Ferreira da Silva, 32 anos, tornou-se um drama. Três dias depois da operação, conta, passou a sentir dores terríveis e calafrios, e teve de ser internada em regime de urgência. Desde então foi submetida a mais quatro procedimentos cirúrgicos para retirada de focos da infecção.

Por causa das queixas de dores abdominais e uma espécie de reumatismo que a deixou acamada por três meses, o que seria resultado dos efeitos colaterais da medicação que combate a bactéria, Selma chegou a ser considerada “louca”. “Os médicos diziam que os sintomas eram psicológicos, coisa só da minha cabeça, e até indicaram tratamento psiquiátrico”, recorda.

Ainda em tratamento, Selma se emociona quando fala da infecção e das complicações decorrentes, especialmente por causa do filho deficiente que precisa da atenção integral dela. O menino, de seis anos, é portador de uma doença neurológica rara, ainda em fase de diagnóstico, e vive sob cuidados intensivos em casa, numa estrutura similar a de uma UTI, e freqüentemente passa por internações fora do Estado.

Ano passado, diz, tentou esconder dos médicos de um hospital de São Paulo que também estava doente, para tentar acompanhar o tratamento do filho. Entretanto, durante uma crise de dores, teve de revelar sobre a infecção e aceitar ser submetida a um procedimento cirúrgico como condição para permanecer ao lado do menino.

Esta semana, uma nova “bomba” caiu sobre a cabeça de Selma Ferreira. Ela descobriu que está parcialmente surda, supostamente por causa dos efeitos colaterais da medicação que trata a infecção hospitalar. “Minha família começou a reclamar que estou falando muito alto e que demoro a responder quando sou chamada”, explica, justificando a busca do exame de audição.

Aos 29 anos, a empresária D.S.P. constrange-se ao contar sua história. Ao passar por uma lipoescultura e implante de silicone nas mamas, em maio de 2007, ela nem imaginava que se arrependeria da busca por um corpo mais bonito e seios fartos.

Hoje, com trombose em uma das pernas e risco de que o coágulo que se formou na veia se movimente e atinja seus pulmões, revelação feita pelo médico que a assiste, a empresária tenta levar uma vida normal, com os dois filhos e trabalho.

Obrigada a retirar as próteses mamárias logo que descobriu a infecção, D.S.P. abandonou o médico que a operou. Segundo ela, o cirurgião plástico não reconheceu a doença e a obrigou a ficar em repouso absoluto por três meses, o que teria provocado a trombose. “Estou doente, com seqüelas graves e correndo risco de morrer, depois de gastar mais de 30 mil entre a compra das próteses, a cirurgia plástica e os tratamentos por causa da infecção”, lamenta.