Marcela de Jesus terá de usar capacete ligado a aparelho para receber oxigênio; mãe vai alimentá-la com sonda. Caso raro, já que em geral anencéfalos morrem poucas horas após nascimento, sobrevivência de bebê é vista como "milagre".
O berço de madeira que abrigou as duas filhas mais velhas da lavradora Cacilda Ferreira ganhou colchão novo para receber ontem a caçula da família. A dois dias de fazer 5 meses, a bebê anencéfala (sem cérebro) Marcela de Jesus Galante Ferreira teve alta da Santa Casa de Patrocínio Paulista (
A menina, internada desde que nasceu, em 20 de novembro, é um caso raro da medicina, já que, geralmente, anencéfalos morrem poucas horas após o nascimento. Marcela saiu da Santa Casa sem estar ligada a nenhum aparelho -ela vai usar em casa um capacete ligado a um aparelho concentrador de oxigênio, alugado pela prefeitura. Foi transportada de ambulância para uma casa que pertence à família, a
Ela já poderia ter recebido alta há algumas semanas, não fosse o resfriado que contraiu e a falta de uma casa adequada para recebê-la -a família mora em um sítio.
Treinada no hospital, a mãe vai alimentar a bebê por sonda a cada 3 horas com leite, papinha e suco de frutas.
Solidão e rotina
No diário que mantém desde a gravidez, Cacilda disse sentir solidão. As visitas a ela e à bebê, antes freqüentes, rarearam, diz. "Agora, parece que todo mundo me abandonou. Fico esperando, mas passa a hora da visita e ninguém aparece", anotou em 19 de fevereiro. "Só Deus não me abandona."
Em 4 de fevereiro, único dia em que não ficou no hospital, Cacilda registrou: "Cheguei ao sítio e vi o berço em um canto, sofri muito, senti a falta dela. Mas sei que ela não me pertence e sim a Deus".
Marcelo Rossi
Um milagre de Deus e um resultado da fé de sua mãe. Assim classificou o padre Marcelo Rossi a sobrevivência da bebê.
"Tenho acompanhado o caso e a sobrevivência da Marcela é um milagre. Talvez ela não tivesse nem um 1% de chance de sobreviver. É impossível, quase. É um milagre de Deus, graças à fé desta mãe", disse.