O ditado “é melhor prevenir que remediar” nunca esteve tão na moda, especialmente entre as operadoras da saúde suplementar. E não é para menos: elas perceberam que, ao oferecer mecanismos para melhorar a qualidade de vida de seus usuários, conseguem, muitas vezes com programas simples de orientação e prevenção de doenças, um alívio significativo para seus cofres. Em média, a diminuição de custos assistenciais fica em torno dos 56%. Mas há empresas que já conseguiram economizar até 65%. Um resultado tão positivo que os clientes também começam a sentir o impacto, no corpo e no bolso. Num movimento de mão dupla, convênios oferecem vantagens financeiras a clientes que conseguem cumprir metas para melhorar a saúde e minimizar fatores de riscos. Especialistas em defesa do consumidor ressalvam, entretanto, que a adesão deve ser voluntária para que não haja invasão da privacidade do cliente dos planos.
Um paciente com problemas de obesidade, por exemplo, pode ganhar um desconto na mensalidade, se cumprir um programa de perda de peso. Outro com hipertensão tem a chance de ter parte ou a totalidade dos medicamentos subsidiados, caso mantenha a pressão sob controle. Diabéticos com a medição da glicose em dia ganham isenção na co-participação. «A idéia é agregar o cumprimento de metas a benefícios a mais para os usuários. Na autogestão (planos coletivos), não temos outra forma de conter custos, como manter clínicas ou hospitais próprios. Então, a ênfase é a prevenção, e buscamos formas de estimular a adesão aos programas», explica o diretor-técnico da União Nacional das Instituições de Autogestão em Saúde (Unidas), Walter Lyrio do Valle.
Mas não são apenas os planos e seguros corporativos que estão se preocupando em prevenir em vez de apenas tratar doenças instaladas. Conforme um levantamento feito pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), com 1.351 operadoras, ou seja, 97% dos beneficiários, 641 (47,4%) já desenvolvem programas de prevenção e promoção da saúde, voltados, principalmente, para adultos, idosos e as mulheres,
“Essa mudança é uma necessidade vital dentro do formato da saúde suplementar. E os resultados da pesquisa são importantes, pois mostram que mais de 80% dos usuários estão ligados a operadoras que iniciaram essa política, e existe uma amplitude de programas. A questão da prevenção tem que ser trazida para o centro do debate”, argumenta o diretor-presidente da ANS, Fausto Pereira dos Santos. O presidente da Associação Brasileira de Medicina de Grupo (Abramge), Arlindo de Almeida, acrescenta que a expectativa é que as operadoras estimulem cada vez mais a questão da qualidade de vida, inclusive por meio dos bônus aos clientes. «É uma tendência forte. E no caso da medicina de grupo, talvez seja ainda mais viável fazer isso com os serviços próprios. Fica mais fácil acompanhar os grupos especiais», afirma.
Na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), a Good Life é uma das empresas que estuda estimular a adesão de clientes e também dos prestadores de serviços aos programas de prevenção. «Já desenvolvemos várias linhas diferenciadas de cuidados com os pacientes e acompanhamento de doentes crônicos. Porém, não adianta pensar só como operadora, porque o trabalho de promoção da saúde tem que integrar todos os envolvidos», comenta o gerente do Programa Cuidar da operadora, Paulo Roberto Campello Júnior, observando que, em reunião que acontecerá nesta semana
Desde
Para atuar na prevenção, a cooperativa inaugurou um centro de promoção da saúde, com grupos de apoio em diversos programas, como monitoramento do diabetes, cessação do tabagismo, cozinha experimental que ensina a preparar os alimentos, além de monitoramento de risco em dois grandes níveis: criança no primeiro ano de vida e idosos. O porteiro Marcos Antônio da Silva, de 58 anos, é um dos usuários que já está usando a estrutura e diz não ter do que reclamar. «Faço acompanhamento da glicose, e agora que tive rachaduras na pele, estou recebendo orientação de como tratar melhor, jeito certo de cortar as unhas para não machucar. Desde que descobri a doença, há dez anos, não descuido, mas hoje estou tendo mais informações e monitoramento para não piorar», comenta, satisfeito.
Já os usuários de planos ligados à autogestão, além da vida mais saudável, estão sendo recompensados financeiramente e até no trabalho. «Os planos da Cassi e Usiminas, por exemplo, dão subsídios aos clientes que cumprem metas. Na Fundação Cesp, há um programa que paga 80% dos medicamentos para quem toma remédio controlado. A Capsaúde contribui com 100% e entrega o remédio em casa para o doente crônico que adere às linhas de acompanhamento e prevenção. Em geral, o monitoramento é feito em parceria com as empresas contratantes do convênio, e algumas, como Dupont e Ambev, têm discutido atrelar o bônus de produção a metas de saúde», enfatiza Walter Lyrio, da Unidas, ressaltando que a Fundação economizou 30% dos gastos com o grupo monitorado em relação ao que não aderiu ao acompanhamento.
A advogada do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec)