Depois de já ter sido associada ao aumento do risco de câncer da mama, a terapia de reposição hormonal (TRH) aparece agora ligada ao tumor de ovário. Pesquisa publicada anteontem no "The Lancet" mostrou que as usuárias de TRH tiveram em média um risco 20% maior de desenvolver e morrer de câncer ovariano.
O estudo, um braço do "Million Women Study", da Unidade de Epidemiologia (Cancer Research UK), em Oxford (Inglaterra), atribui à terapia cerca de mil mortes de mulheres britânicas por câncer de ovário, entre 1991 e 2005. No mesmo período, foram diagnosticados outros 1.300 casos de câncer ovariano entre as pesquisadas.
Segundo o estudo, para cada mil mulheres em TRH, 2,6 tiveram a doença no prazo de cinco anos de acompanhamento, contra 2,2 casos por milhar entre as que não usaram a terapia.
O câncer de ovário é o tumor ginecológico mais difícil de ser diagnosticado. Cerca de 75% dos casos são diagnosticados tardiamente. Por isso, é o câncer ginecológico de maior letalidade, embora seja menos freqüente -afeta de
Críticas
Segundo Nilson Roberto de Melo, professor de ginecologia da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) e presidente da Federação Brasileira das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia, embora seja um trabalho com uma casuística grande, o "Million Women Study" é criticado por ser baseado em prescrições médicas -na Inglaterra, o governo tem controle sobre as receitas médicas.
Ele afirma que, diferentemente da relação da TRH com o câncer da mama, hoje claramente estabelecida, há controvérsias sobre o impacto da terapia sobre o câncer de ovário.
Para o ginecologista Eliezer Berenstein, da Faculdade de Medicina do ABC (SP), os resultados do "Million Women Study" já eram esperados porque muitas mulheres foram tratadas antes de 2002, quando veio o alerta dos riscos da TRH.
Naquele ano, o maior estudo controlado da terapia foi interrompido ao verificar-se que, no grupo que recebia hormônios, aumentaram eventos cardiovasculares, como o AVC, além do risco do câncer de mama.
A pesquisa, iniciada em 1995, envolveu 16 mil mulheres com idade média de 63 anos.
Para reduzir os riscos, muitos médicos preconizam que a reposição hormonal seja individualizada, adaptada ao histórico familiar da mulher, e por tempo determinado, no máximo, cinco anos.