Empresas devem aumentar em até 40% o investimento em propaganda. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) definiu que as indústrias farmacêuticas podem reclassificar na categoria de venda livre de prescrição médica os seus medicamentos que fazem parte da nova lista do Grupos e Indicações Terapêuticas Específicas (Gite) por meio da bula eletrônica, e não na renovação do registro, como estava previsto antes. Isto significa que as fábricas poderão fazer a mudança imediatamente, sem a necessidade de esperar a data de renovação do registro do medicamento, que tem validade por cinco anos.
A Anvisa ampliou de 18 para 35 as classes terapêuticas cujos remédios não precisam de receita para serem comercializados, entre meados do ano passado e janeiro deste ano, e com essas novas definições, estabelecidas no final de março, os laboratórios ganharam em tempo.
De acordo com o vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Medicamentos Isentos de Prescrição (Abimip), Piero Rapazzini, a expansão das classes terapêuticas e a nova regulamentação da Anvisa fortalecem o segmento, que movimentou em 2003 US$ 1,9 bilhão, quase 40% do mercado farmacêutico geral brasileiro. “Não sabemos estimar em quanto, mas já haverá neste ano um crescimento significativo por causa da transferência natural para este mercado dos medicamentos que pertenciam às outras classes e que foram incorporadas ao segmento”, disse o vice-presidente.
Crescimento pode alcançar 12%
Hélio Anastácio, presidente da Farmasa, indústria de capital nacional localizada em São Paulo, acredita que o mercado deverá crescer aproximadamente 12% nos próximos dois anos, alcançando mais 5 pontos percentuais do faturamento total das vendas de medicamentos no Brasil, de cerca de U$ 5 bilhões em 2003.
A expansão decorrerá de maiores vendas dos medicamentos já consolidados e também do lançamento de novos produtos, que surgirão porque as novas regras da Anvisa permitem também drogas dessa categoria que já estejam sendo vendidas há mais de cinco anos na Europa ou nos Estados Unidos – e aprovadas pelos órgãos reguladores internacionais – ingressem no mercado nacional diretamente no segmento de venda livre. Além disso, as empresas podem contar agora com um poderoso instrumento de venda para mais produtos de suas linhas: a propaganda direta para o consumidor. A legislação brasileira não permite publicidade de remédios que precisam de prescrição, mas para os OTCs ( livres de receita) a propaganda é liberada.
O vice-presidente da Abimip, entretanto, disse que todas essas transformações no mercado de OTCs levarão as empresas para um reposicionamento estratégico. Para ele, as mudanças acontecerão, mas de maneira gradual. Os laboratórios no Brasil, principalmente, os de capital nacional, têm a cultura da prescrição médica, afirmou Rapazzini. “Exceto as grandes companhias, geralmente multinacionais, que já investem há mais tempo em propaganda direta ao consumidor, as outras terão de ser reorganizar, o que é um processo lento, pois precisa de investimento cujo retorno é de médio a longo prazo”, disse.
Investimentos aumentam 40%
Rapazzini estima que os recursos aplicados em marketing neste segmento, de cerca de R$ 500 milhões anuais atualmente, aumentarão 40%, mas em até quatro anos. “Há uma tendência natural para se investir em mídia, principalmente, nas marcas mais conhecidas e vendidas, mas não é um plano de curto prazo”, confirmou o presidente da Farmasa. Segundo o executivo, a decisão da empresa é não investir inicialmente, pois ele acredita que o médico é o grande balizador do sucesso de um medicamento, além de a Farmasa ter tradição na propaganda em consultório. “É a melhor estratégia. Até para os produtos liberados”, afirmou Anastácio.
A Farmasa tem no portfólio 70 medicamentos, 15 deles livres de prescrição e, desses, dois foram liberados nas últimas resoluções: o antigripal Descon e o anti-histamínico Loralerg, que representam 10% das vendas da companhia. Os OTCs são responsáveis por 35% do faturamento da Farmasa.
Buscopan recebe R$ 6 milhões
Entre os remédios liberados está também o Buscopan, produzido pela Boehringer Ingelheim do Brasil, subsidiária da multinacional alemã Boehringer Ingelheim, em Itapecerica da Serra (SP). O antiespasmódico – indicado para cólicas menstruais, renais, estomacais e intestinais e também para o tratamento da síndrome do intestino irritável -, há 50 anos no mercado brasileiro, está recebendo R$ 6 milhões em investimentos publicitários, incluindo propaganda na televisão, iniciada no final de abril.
A campanha, elaborada pela agência Leo Burnett Publicidade, será veiculada até o final de 2004. Com essas ações, a gerente do grupo respiratório, gastroentestinal e de adoçantes da Boehringer, Pauline Dapelo, prevê um aumento de até dois dígitos nas vendas do produto neste ano. “O resultado virá principalmente da propaganda. É a primeira vez, nestes 50 anos, que vamos falar diretamente com o consumidor sobre o produto, o que é um grande diferencial.”
Segundo a executiva, Buscopan lidera mundialmente o segmento de antiespasmódico, com 31% do mercado global, e também é o sétimo medicamento mais comercializado no País. Baseada em dados do IMS Health, empresa que audita o setor farmacêutico, Pauline disse que o segmento de antiespasmódicos movimentou R$ 118 milhões, com a venda de 15,2 milhões de unidades no Brasil, em 2003. Buscopan deteve 80,4% do volume em unidades e 61% em valor, seguido pelo Atroveran, da DM Indústria Farmacêutica, com 8,3% e 15% do mercado, respectivamente, e pelo Dicetel, da Altana Pharma, com 2,4% em volume e 10,4% em valor.
As novas regras da Anvisa não alteram as formulações dos produtos. As empresas têm apenas de modificar as bulas e as embalagens dos medicamentos, que deixam de ser tarjadas, explicou Pauline. “Exceto, os medicamentos injetáveis, que continuam precisando de receita médica.”