Fornecedores e prestadores de serviços de hospitais municipais e estaduais estão suspendendo o trabalho por terem dívidas de milhões a receber do governo do estado e da prefeitura, segundo relatórios das comissões de saúde da Câmara de Vereadores e da Assembléia Legislativa do Rio (Alerj). Segundo o vereador Carlos Eduardo (PPS), as dívidas da prefeitura superam R$ 200 milhões. Ontem (24/04), acabou o estoque de verduras e legumes do Hospital Universitário Pedro Ernesto (Hupe), da Uerj, porque a empresa fornecedora, sem receber desde agosto, suspendeu as entregas. Um elevador do Hospital Miguel Couto quebrou com um paciente dentro e o resgate levou uma hora e meia.
A alimentação de pacientes com dieta especial internados no Hupe, como doentes renais e diabéticos, sofreu redução nos últimos dias por causa da falta de alimentos em estoque. A fornecedora Comercial Milano estaria sem receber da universidade desde agosto e suspendeu a entrega de diversos produtos na quinta-feira. A dívida, segundo o deputado Paulo Pinheiro (PPS), presidente da Comissão de Saúde da Alerj, chega a R$ 219 mil. Uma das responsáveis pela produção do cardápio dos pacientes, Tânia de Souza Porto, afirma que faltam produtos básicos na despensa: – Estamos sem alimentos essenciais para pacientes diabéticos e renais. Parlamentar diz que firmas substituíram cardápios A empresa não é a única fornecedora de alimentos ao Hupe em dificuldades. A firma responsável pela alimentação dos demais pacientes e acompanhantes e dos funcionários do centro cirúrgico, que não podem se ausentar do local de trabalho, também acumula dívidas e, segundo Pinheiro, restringiu o fornecimento.
A alimentação dos funcionários foi cortada na semana passada. O deputado afirma ainda que a comida servida aos pacientes em toda a rede é de qualidade inadequada. – Para não perderem os contratos, as empresas continuam fornecendo, mas substituíram as proteínas mais caras por outras mais baratas. Trocaram, por exemplo, frango e carne por ovo e salsicha. Sem receber salários há três meses, os funcionários da Liderança Conservação e Serviços Ltda., que atende ao Hospital Rocha Faria, em Campo Grande, decidiram ontem entrar em greve. Desde que foi contratada, em dezembro, a empresa não recebeu um único pagamento, de acordo com o deputado. A dívida chegaria a R$ 900 mil.
A situação na rede municipal também é grave. Há dez dias, segundo Carlos Eduardo, a Nextel cortou o serviço de rádio por falta de pagamento. O serviço era usado pelos chefes de emergência na busca por vagas e na comunicação com outras unidades. Parte das ambulâncias particulares contratadas para fazer transferências também está parada. Uma das empresas, que está sem receber desde dezembro, a Star Assistance, com crédito de R$ 750 mil, retirou oito dos 13 veículos à disposição. – Estou com o salário dos 120 funcionários atrasado há dois meses e com dificuldade para abastecer os carros. A empresa não tem fôlego para suportar mais dez dias – afirma um dos sócios, Jorge Oliveira. Falta de pagamento prejudica manutenção Carlos Eduardo destaca ainda que empresas responsáveis pela manutenção predial e de equipamentos, por terem dívidas que superam, em alguns casos, R$ 1 milhão, não estão fazendo a manutenção preventiva.
Um defeito no compressor da câmara mortuária do Miguel Couto, no fim de semana, deixou dez corpos sem refrigeração por 24 horas, provocando forte mau cheiro. Ontem à tarde, o elevador da unidade quebrou. Dentro dele havia um paciente com fratura e sua mãe. O resgate pelo Corpo de Bombeiros levou uma hora e meia. – A Secretaria municipal de Saúde, com um orçamento de R$ 1,4 bilhão em 2006, não poderia estar negligenciando dessa forma a manutenção, deixando os hospitais em petição de miséria – critica o vereador Tanto a Secretaria municipal de Saúde quanto a estadual reconheceram terem dívidas com fornecedores.
Segundo o órgão municipal, parte dos débitos deve-se ao fato de o orçamento de 2006 ter sido aberto apenas em março. Com isso, as faturas de serviços que chegaram após dezembro só começaram a ser processadas a partir daquela data. Segundo a secretaria, alguns pagamentos referentes ao começo do ano já foram feitos. Outros contratos sofreram atraso devido à necessidade de revisão de valores e dos serviços prestados. O órgão estadual reconheceu ter débitos relativos há dois meses com fornecedores e afirmou que está providenciando o pagamento. Procurado pela manhã, o setor de comunicação do Hupe não comentou a falta de comida na unidade até o fim da tarde. As duas comissões de Saúde vão enviar relatórios ao Ministério Público estadual pedindo providências.