contato@sindipar.com.br (41) 3254-1772 seg a sex - 8h - 12h e 14h as 18h

O SUS e o elogio fatal

            O SUS (Sistema Único de Saúde) é uma conquista nacional que está sendo vítima da má-gestão e do discurso triunfalista de que o sistema está em perfeito estado de saúde, como alardeou recentemente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

 

            Médico, com ampla militância no SUS, o mineiro Marx Golgher tem uma visão pessimista do momento.

 

            1) Há uma carência básica da Assistência Básica Ambulatorial (PAB), instaurada no SUS pelo ministro gaúcho Carlos Albuquerque, de gestão fundamental e pouco reconhecida. O PAB estabelecia parâmetros mínimos de atendimento médico, com o Ministério da Saúde pagando duas consultas/habitante/ano por município nos ambulatórios, parâmetro mínimo estabelecido pela OMS. Essa seria a porta de entrada efetiva no SUS, condição essencial para assegurar o bom funcionamento de qualquer sistema de saúde do planeta.

 

            2) Apesar de pactuado e pago pelo Ministério da Saúde, mais de 80% dos municípios jamais chegaram perto desse mínimo. Como cerca de 20% das consultas médicas têm caráter de urgência e emergência, é licito concluir que, apenas em Belo Horizonte (área de atuação de Golgher), cerca de 200 mil habitantes tiveram seus males piorados ou morreram.

 

            3) Outro problema é o programa do médico de família, cuja eficiência é polêmica, dado o fato de que o sistema domiciliar limita o trabalho dos médicos a poucas famílias ou dá margem a fantásticas maracutaias.

 

            4) Na falta de atendimento primário, o SUS transfere a porta de entrada do sistema para o atendimento secundário nos hospitais, muito mais caros. Daí o porquê dos elevadíssimos custos do SUS, com gastos cada vez mais elevados, a sustentar um serviço cada vez mais precário.

 

            5) Uma pneumonia, atendida rapidamente num razoável sistema ambulatorial, com radiografia para o imediato diagnóstico e remédios fornecidos na hora, iria custar aos cofres públicos cerca de R$ 50. No hospital, o custo salta para mais de R$ 250.

 

            6) Em 1995, o Ministério da Saúde fazia cálculos de que eram necessários cerca de R$ 15 bilhões -o dobro do ano anterior- para dar plena assistência médica no SUS. Hoje em dia, há queixas de que os mais de R$ 40 bilhões do orçamento da pasta são insuficientes. Ou seja, houve um aumento real de recursos destinados à Saúde, sem que tenha havido melhoria no atendimento.

 

            7) Na época em que foi ministro, José Serra publicou artigo consistente, reforçando a conclusão de vários especialistas, de que a “situação é atípica". Ou seja, não há controle dos gastos, da qualidade de serviço, embora se encha as burras do Ministério da Saúde de bilhões e bilhões de reais. De cada R$ 1 que entra na pasta, só R$ 0,40 chega à linha de atendimento, constata Golgher.