São Paulo, São Camilo, Unip e Anhembi Morumbi já começaram a investir na estrutura dos novos cursos. O Centro Universitário São Camilo e as universidades Anhembi Morumbi e Unip, do Grupo Objetivo, todos com sede em São Paulo, já estão preparados para iniciar seus cursos de medicina, tão logo os seus requerimentos, já em análise final no Ministério da Educação, sejam aprovados. O processo mais avançado é o da São Camilo, que já obteve autorização, publicada pelo Conselho Nacional de Educação. Falta apenas a assinatura do secretário nacional de Educação para a publicação no Diário Oficial da União.
A Anhembi Morumbi e a Unip têm seus processos, também iniciados em 2003, em fase final de tramitação. Mas preferem não antecipar os investimentos que já realizam para iniciar as turmas de medicina.
A expectativa do São Camilo é que a publicação seja feita a tempo de iniciar o curso ainda no próximo semestre, com 50 vagas. O valor da mensalidade não está definido, mas deve ficar próximo dos R$ 2,8 mil cobrados por outras escolas particulares que recentemente lançaram seus cursos em São Paulo.
Para isso, o centro universitário conclui investimentos de R$ 25 milhões no campus Pompéia. E outros R$ 4 milhões na aquisição de novos equipamentos para os laboratórios. Parte dos recursos são próprios, parte do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), afirma o professor Paulo Eduardo Marcondes de Salles, pró-reitor administrativo.
Tradicional na área de saúde, com cursos em enfermagem, fisioterapia, nutrição e terapia ocupacional, o curso de medicina vai ampliar em 45% o número de vagas, hoje de 11 mil. "A necessidade de ampliar o espaço é decorrente do excepcional crescimento da instituição nos últimos anos", diz Salles. A universidade oferece 17 cursos de graduação, 45 de pós-graduação e cinco cursos técnicos em dois campi.
As atividades educacionais dos camilianos na área de saúde, no Brasil, iniciaram-se em 1963, com o objetivo de suprir os hospitais com recursos humanos qualificados. "O curso de medicina será fundamental para dar sinergia à essa atividade, que é complementar à atuação na área hospitalar. Parte do corpo docente virá da equipe de médicos. Mas também vamos buscar profissionais no mercado."
Os docentes serão titulados para os três primeiros semestres e, à medida em que as primeiras turmas forem se desenvolvendo, serão contratados novos quadros. O Centro Universitário tem hoje 500 professores.
Parte da infra-estrutura já está disponível, devido aos diversos laboratórios utilizados por outros cursos da área de saúde, como enfermagem, nutrição e fisioterapia. "Precisamos apenas aumentar o biotério (viveiro de cobaias e outros animais empregados em experiências de laboratório, produção de soros, vacinas, etc.) e ampliar a capacidade de alguns laboratórios."
Salles diz que a medicina da São Camilo já começa com um diferencial – uma rede de 31 hospitais no Brasil, cinco na cidade de São Paulo, que receberão os estudantes desde o início, como observadores, para que possam ir vivenciando a prática hospitalar. Outro diferencial é que parte das vagas será destinada para candidatos de regiões onde a instituição tem hospital e o nível econômico é muito baixo.
"O candidato vai fazer o curso para o vestibular nesses locais, vem para São Paulo para prestar o concurso e, se selecionado, recebe 100% de bolsa, moradia e ajuda de custo." Em contrapartida, depois de formado, deverá atuar nos hospitais das regiões de onde é oriundo e terá o compromisso de prestar serviços nessas unidades por um período de quatro a cinco anos. Segundo Salles, há espaço para novos cursos de medicina, apesar do maior número de universidades no setor de saúde. "Há hospitais em cidades do Nordeste que não têm médico residente no hospital, ele aparece apenas duas a três vezes por semana."
Conselho regional questiona qualidade
O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) é frontalmente contra novos cursos de medicina, diz o presidente Desiré Carlos Callegari. Segundo ele, existem 27 cursos no estado e 151 no Brasil, que formam quase 15 mil médicos por ano.
Estudo do Inep, ligado ao Ministério da Educação, registra, no final de 2004, 140 cursos de medicina – 73 privados e 67 públicos. Nos últimos 44 anos, foram abertos 2,57 cursos por ano, com grande concentração no Sudeste.
Segundo Orlando Pilatti, coordenador geral de acreditação de cursos e instituições da Secretaria de Educação Superior (Sesu), seis cursos foram abertos em 2005, todos privados: Universidade Católica de Goiás, Faculdade São Lucas, em Porto Velho (RO); Instituto de Ciências da Saúde da Funorte, em Montes Claros (MG); Faculdade Brasileira de Vitória (ES); Faculdade Boa Viagem, de Recife (PE); e Faculdade de Ciências Médicas, de Campina Grande (MS).
No Estado de São Paulo, são dois novos cursos: o da Universidade Federal de São Carlos, com 50 vagas, e o da Uniceres (União das Escolas do Grupo Ceres de Educação), em São José do Rio Preto, para 60 alunos.
Na opinião de Callegari, a maioria dos novos cursos não possui corpo docente qualificado, inclusive para inserir o novo médico no mercado. A questão fica ainda mais grave quando se trata de residência médica. "Só 7,5 mil graduados têm condições de fazer residência, o que resulta na formação de um médico generalista, com pouca informação."
Segundo Pilatti, da Sesu, o sentimento corporativista na área de medicina é muito forte. Ele diz ainda que o direito ao exercício da profissão é nacional e o objetivo é contribuir para a melhoria da qualidade de ensino. "Há uma preocupação com a inserção do profissional e com o progresso científico e tecnológico na área." E existe um departamento que cuida apenas da supervisão da residência médica.
Pilatti explica que as exigências são cada vez mais rigorosas e que, desde 1986, qualquer curso superior tem de solicitar seu reconhecimento quando está na metade do funcionamento, comprovando que está atendendo o projeto proposto. Ele reconhece que alguns cursos já autorizados enfrentam problemas. Como o da Unicastelo, em Junqueirópolis, no interior paulista. Procurada por este jornal, a universidade não quis se pronunciar.