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Lula promete salvar Incor em 48 horas

 

            O futuro do Instituto do Coração (Incor) do Hospital das Clínicas vai ser definido nas próximas 48 horas. A determinação foi anunciada nessa domindo (12/11) pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em reunião a portas fechadas com a cúpula do Incor e os ministros da Fazenda, Guido Mantega, e da Saúde, Agenor Álvares, e o presidente da Câmara dos Deputados, Aldo Rebelo (PC do B-SP). Eles se reuniram na Base Aérea de São Paulo, antes da viagem de Lula para a Venezuela.

 

            A ordem foi dada como um puxão de orelha nos ministros. Logo depois que a diretoria do hospital apresentou um plano de reestruturação da Fundação Zerbini, mantenedora do Incor que hoje acumula uma dívida de R$ 250 milhões, Mantega relutou, afirmando que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) era sujeito a regras e qualquer novo empréstimo teria de ser bem avaliado – a diretoria do Incor tenta conseguir um empréstimo ao BNDES de R$ 120 milhões para tomar medidas urgentes no Incor, como honrar salários dos funcionários e pagar fornecedores, mas está com dificuldade para conseguir um agente financeiro (fiador).

 

            Lula, então, disse que o Incor não poderia ser tratado como uma empresa qualquer e que eles (os ministros e Rebelo) teriam de achar uma solução urgente nas próximas 48 horas. O Incor, afirmou Lula, é um hospital que cuida de pessoas carentes com excelência. "Vamos achar uma solução dentro do prazo junto com o governo de São Paulo", afirmou Mantega, depois da reunião.

 

            O presidente Lula também não gostou da chance de o Incor aumentar o número de atendimentos a pacientes privados. A possibilidade, como afirmou ao Estado o diretor-geral do Incor, Jorge Kalil Filho, na semana passada, foi apresentada como forma de aumentar a arrecadação. Hoje, 20% dos pacientes são de planos particulares – legalmente, o hospital poderia aumentar para 40%. A idéia de Jorge Kalil, porém, é aumentar para 25%, caso nenhuma providência seja tomada.

 

 

JATENE

 

            O cardiologista Adib Jatene, membro do Conselho Deliberativo do Incor, vai participar da elaboração de uma solução financeira. Hoje, ele vai a Brasília encontrar técnicos do Ministério da Saúde para achar maneiras de liberar dinheiro ao Incor.

 

            Em entrevista ao Estado publicada ontem, Kalil afirmou que se a Fundação Zerbini não for acudida imediatamente, o hospital pode parar. O último sinal vermelho foi o atraso salarial dos funcionários, na quarta.

 

            Pela primeira vez na história da instituição, os 3 mil funcionários não receberam a complementação salarial de cerca de 60% paga pela fundação – o restante vem do governo do Estado. O dinheiro foi depositado no dia seguinte, mas o pagamento de encargos trabalhistas foi deixado em aberto.

 

            A dívida da Zerbini é antiga. De acordo com o promotor Airton Grazioli, da Promotoria de Fundações, órgão ligado ao Ministério Público, o tamanho da dívida já seria suficiente para a fundação precisar de intervenção. Isso só não teria ocorrido pelo tipo de atividade da Zerbini, que envolve pacientes do SUS.

 

            A decadência financeira da Zerbini começou no fim da década de 90, com a construção do Incor 2, onde hoje funciona a maioria dos atendimentos de alta complexidade do hospital. Até esse momento, o superávit era de US$ 50 milhões. O segundo rombo foi a construção do Incor Brasília, em 2004, do qual o Incor São Paulo está em processo de separação jurídica.

 

            A saúde financeira do Incor foi também sendo minada aos poucos com o repasse do SUS aos procedimentos de alta complexidade, que hoje fica em torno de 20% em relação aos gastos do hospital.

 

            Outra meta de reestruturação a curto prazo da diretoria do hospital é cortar funcionários, diminuindo 15% da folha de pagamento e incrementar parcerias científicas com laboratórios farmacêuticos. Também foi detonador da crise, de acordo com diretores do Incor, o fato de o hospital funcionar com "portas abertas" para procedimentos de alta complexidade – qualquer paciente pode ser transferido de outros hospitais sem pré-agendamento.

 

            Além de Jorge Kalil Filho e Adib Jatene, estavam presentes à reunião de ontem David Uip, diretor-executivo do Incor; José Manoel de Camargo Teixeira, superintendente do Hospital das Clínicas; e Roberto Kalil, cardiologista do Incor. A cada ano no Incor são feitas 5 mil cirurgias, 290 mil consultas, 13 mil internações e 2,5 milhões de exames.