Não é só na exportação de serviços que o Brasil pode entrar no novo mercado de trabalho global e gerar, aqui, empregos qualificados. O país tem grande potencial num setor que cresce a passos largos: o turismo de serviços. Com a forte queda nos custos de transporte nos últimos anos, pessoas do mundo inteiro estão atravessando as fronteiras, não só a lazer ou a trabalho, mas também como pacientes, estudantes ou consumidores.
Na última reportagem da série "Trabalho sem fronteiras", o potencial do Brasil nesse tipo de turismo aparece principalmente em serviços médicos, de educação e, ainda, de realização de congressos.
O laboratório Fleury,
– O atendimento é feito
Incluindo viagem, cirurgia sai por metade do preço Pacientes de outros países procuram o Fleury para a realização inclusive de cirurgias de pequena complexidade. A atividade é estimulada pelos próprios planos de saúde.
– Em alguns casos, o preço de um pacote com a viagem e a cirurgia no Brasil sai até 50% menos do que se a mesma cirurgia for realizada nos EUA ou na Europa – diz Rabelo.
Se o custo pesa na decisão dos pacientes do Fleury, a qualidade do serviço faz a diferença na Integração África, braço para o continente africano da paulista Integração Escola de Negócios.
A diretora-comercial da empresa, Marli Santander, apostou em Angola quando o país nem tinha saído da guerra civil que o assolou por quase 30 anos. Depois de receber um cliente angolano, Marli despertou para esse mercado: – Percebi que, apesar de termos o português como língua em comum, Angola tinha necessidades específicas de treinamento.
Por isso, montamos a primeira turma só para angolanos em 1999 – conta Marli.
Desde então, a Integração já recebeu mais de mil angolanos em cursos de secretariado, gestão financeira e RH, entre outros.
Funcionários de grandes empresas angolanas, como a Sonangol, estatal de petróleo e gás, passaram pelos bancos da Integração.
Em julho de 2002, apenas quatro meses após o término da guerra civil, Marli visitou Angola pela primeira vez e, em fevereiro deste ano, montou uma filial da Integração África
Pitanguy sofreu pirataria na Coréia do Sul Assim como no comércio de mercadorias, a prestação de serviços não está livre da pirataria, ainda mais em áreas na qual o Brasil é referência. O cirurgião plástico Ivo Pitanguy descobriu que havia na Coréia do Sul uma clínica chamada Pitanguy. O médico está processando a empresa em tribunais internacionais.
Sua fama em cirurgia plástica é tão grande que 40% dos pacientes da Clínica Pitanguy são estrangeiros.
Um nicho que o Brasil explora pouco e tem potencial é o turismo de congressos, lembra o diretor de Ensino do Iuperj, Adalberto Cardoso: – Não é preciso ter inglês fluente, apenas infra-estrutura turística. A violência espanta, mas é um campo em que o país tem vantagem – diz Cardoso, lembrando que Chicago, apesar do clima frio, recebe milhares de pessoas para congressos. – Há interesse pelo Brasil. Rio e Salvador são cidades que podem explorar essa vocação.
Clientes dos EUA gastam US$ 40 bilhões
Países asiáticos disputam mercado
O turismo médico já é prática corriqueira entre americanos. O que começou como uma exótica solução para reduzir as despesas de empresas com seus executivos de primeira linha hoje é uma indústria bilionária, que atende igualmente a ricos e à classe média. Em 2006, o turismo médico movimentou US$ 40 bilhões só com americanos.
Josef Woodman, autor do livro "Patients beyond borders" ("Pacientes além das fronteiras", numa tradução livre) estima que, até 2010, essa cifra dobre, alcançando US$ 80 bilhões.
Também não é para menos: quem precisa de um marca-passo gasta, no mínimo, US$ 130 mil nos EUA.
Na Índia, gasta menos de um décimo disso: US$ 10 mil.
Sufocados pelas despesas crescentes com saúde num país onde o serviço público só está disponível para os comprovadamente pobres, americanos de classe média buscam cada vez mais atendimento no exterior.
Atentos a isso, países asiáticos promovem uma verdadeira disputa por pacientes americanos. Este ano, o governo de Cingapura – país onde, assim como a Índia, o inglês é língua oficial – traçou como meta receber um milhão de pacientes estrangeiros por ano até 2012, o que geraria uma receita de US$ 7 bilhões. Hoje, cerca de 400 mil estrangeiros vão ao país anualmente em busca de atendimento médico, e esse mercado tem crescido mais de 20% ao ano.
No Brasil, alguns hotéis e agências de viagem já oferecem no exterior pacotes completos de turismo, incluindo cirurgias plásticas, área médica na qual o país é referência no exterior. Ivo Pitanguy, um dos cirurgiões plásticos mais bem conceituados do mundo, refuta essa recente onda de turismo médico. Na sua visão, tratase da "mercantilização da medicina". Ele alerta que os procedimentos não podem ser banalizados e que é preciso escolher profissionais que participem da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.