Os homens são as principais vítimas de doenças crônicas e de problemas de saúde que podem levar à morte. Apesar da fragilidade masculina, a procura dos homens pelos serviços de atenção primária à saúde é considerada muito baixa, comparada à conduta das mulheres. As conclusões fazem parte de um estudo apresentado ontem no 3º Fórum de Políticas Públicas e Saúde do Homem, realizado na Câmara dos Deputados.
Coordenado pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), em parceria com a Frente Parlamentar de Saúde, o evento definiu estratégias a serem entregues ao Ministério da Saúde para a elaboração de campanhas educativas e pesquisas sobre doenças específicas dos homens. A intenção é reduzir índices como o de câncer de próstata, responsável por 6% das mortes na população masculina.
Presente na abertura do fórum, o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) destacou a necessidade de criação de uma Semana Nacional de Saúde do Homem. A proposta está em um projeto de lei de autoria do parlamentar em conjunto com o deputado Clodovil Hernandez (PTC-SP). "O problema é a cabeça do homem", ressaltou Clodovil ao falar sobre a necessidade de mudar a cultura masculina de resistência à saúde preventiva.
A Política Nacional de Atenção à Saúde do Homem é considerada prioridade pelo ministro José Gomes Temporão. A proposta vem sendo discutida desde outubro passado, quando ele ainda estava à frente da Secretaria de Atenção à Saúde (SAS). À época, Temporão tentou constituir um grupo de trabalho para pensar em políticas públicas voltadas para a população masculina, mas o trabalho não avançou. "Estamos dentro do prazo. Era necessário levantar pesquisas", justificou Adson França, do Departamento de Ações Programáticas Estratégicas da SAS.
Para identificar o perfil epidemiológico dos homens, o ministério liberou R$ 3 milhões. Uma pesquisa está em curso e deve ser concluída até o final deste ano. Como referência do quadro atual de saúde do homem, o ministério adota o levantamento da Rede Interagencial de Informações para a Saúde (Ripsa). Os dados fazem parte dos Indicadores e Dados Básicos para a Saúde (IDB 2006).
Óbitos
O IDB aponta entre as principais causas de morte no sexo masculino doenças do aparelho circulatório, seguidas de neoplasias (tumores) e das causas externas, como violência e trânsito. Essas últimas causas representam 80% dos óbitos de homens entre 15 e 59 anos no país. "Com esses indicadores, foi possível identificar parceiros que podem nos ajudar a mudar o cenário", disse Neidil Spindola da Costa, assessora do Ministério da Saúde.
De acordo com Spindola, é preciso qualificar os profissionais que atendem à população masculina, sensibilizar os homens e melhorar o serviço de saúde. "A gente não tem atrativo para que o homem busque a unidade básica de saúde. Tradicionalmente, o homem não tem hábito de prevenção. Chega mais adoecido ao SUS e morre mais precocemente", comentou.
"A urologia é a porta de entrada do homem ao sistema de saúde", ressaltou o presidente da SBU, Sidney Glina. Ele destacou que é comum detectar problemas cardíacos e taxas elevadas de glicose no atendimento feito por urologistas.
Hoje, o SBU começa uma campanha educativa para erradicar o câncer de pênis no Brasil. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), os tipos de câncer que mais matam homens no Brasil são de próstata, pulmão e estômago. Dos 30 mil casos de câncer em homens brasileiros, apenas 70 são de câncer de pênis. O número é considerado baixo, mas preocupante.
A iniciativa é resultado de uma pesquisa realizada pelos urologistas da entidade. Os estados do Nordeste e Sudeste apresentaram os maiores índices do tipo de câncer no país. A ação da SBU vai percorrer cidades do interior do Maranhão por 41 dias. O estado apresentou o maior número de casos.
"Hábitos simples de higiene, como lavar os órgãos genitais depois das relações sexuais, poderiam erradicar a doença. O câncer de pênis não era para existir", disse o médico José Carlos Almeida, representante da SBU no Distrito Federal.
O resultado de Goiás e DF coloca as duas unidades da Federação na 7ª colocação do ranking nacional da doença, com 3,68% dos casos relatados. Nos hospitais de Base e Universitário de Brasília, cerca de 50 casos são detectados anualmente.