Finalmente, na reportagem de domingo (9/12), uma versão não-politizada da psiquiatria. Manicômio é coisa do passado. Não há psiquiatra que seja a favor de manicômios! Porém, esse é, na verdade, um movimento antipsiquiatria e de briga por mercado de trabalho. Essas disputas terminam por aumentar o preconceito contra o tratamento da doença mental e mantêm o público mal informado sobre recursos terapêuticos. Com o progresso das neurociências, temos mais conhecimento sobre o funcionamento do cérebro, e a abordagem moderna não é mais cartesiana, que separava corpo e mente. Hoje a visão é integrada, em que cérebro e mente são uma mesma unidade.
Vera Lemgruber, chefe do Setor de Psicoterapia do Serviço de Psiquiatria da Santa Casa da Misericórdia do RJ (por e-mail, 10/12), Rio
Como mãe de um portador de transtornos mentais graves, que sofreu inúmeras internações em hospitais psiquiátricos durante mais de 20 anos, e que hoje se trata num Centro de Atenção Psicossocial (Caps) com maior qualidade de atendimento, deixo registrada minha indignação, pois, se não conseguimos avançar além do que já fizemos, foi, sem dúvida, graças aos contra-reformistas que, se aderissem ao novo modelo implantado pela Coordenação de Saúde Mental do Ministério da Saúde, diminuiriam, em muito, sua razão para as críticas. As constantes queixas de falta de psiquiatras seriam corrigidas, caso os que criticam pudessem voltar seu olhar para o crescente número de pacientes que hoje vivem em liberdade, dentro de seu ambiente. Hoje, essa crítica se avoluma, pois começam a perceber o sucesso que vimos obtendo, até servindo de modelo para outros países.
Dulce Edie Pedro dos Santos (por e-mail, 9/12), São Vicente, SP
A Associação de Familiares e Amigos de Doentes Mentais do Brasil (AFDM-BR ), que convive e luta contra o abandono e descaso aos portadores de transtornos mentais por parte dos responsáveis pela saúde mental no Brasil, desde 1991, presta congratulações pela brilhante e corajosa reportagem de Soraya Agegge. Ressaltamos e enfatizamos a total omissão de socorro para com os doentes mentais e seus familiares. Informamos também, como ilustração, o processo ditatorial que vem sendo implantado em portarias do Ministério da Saúde, em total desrespeito à lei 10.216, que rege o processo de saúde mental no Brasil. Em nome de milhares de pacientes e de seus familiares em todo o país, nosso muito obrigado.
Marival Severino da Costa, presidente da AFDM-BR (por e-mail, 10/12), Rio
A afirmação que "sem hospícios, morrem mais doentes mentais" é absurda por não ter sustentação hígida nem na premissa, nem na conclusão. Em verdade, não se trata de dizer que os doentes mentais estejam morrendo mais – para o que se exigiria um estudo específico e inexistente -, mas sim que houve aumento no registro de mortes atribuídas aos transtornos mentais. Tal aumento é perfeitamente explicável pela melhoria na qualidade dos dados sobre mortalidade no Brasil.
A redução na indefinição de causas de morte foi mais de dez vezes maior do que o afirmado incremento de mortes por transtorno mental. Além disso, o registro de mortes por causas neurológicas e geniturinárias cresceu em proporções semelhantes ao das causas mentais, sem que tenha havido redução de leitos nessas áreas.
Luís Fernando Tófoli, professor adjunto de psiquiatria da Universidade Federal do Ceará (por e-mail, 9/12), Fortaleza, CE
"Sem hospícios, morrem mais doentes mentais". Digna de premiação dos homens já que, tenho certeza, será premiada pelos céus, pois os doentes mentais foram largados pela Previdência, mas não pela providência divina. Sugiro fazerem uma série sobre esse tema e mais, aprofundar as investigações sobre as instituições denunciadas na matéria, além de verificar se existem instituições que se beneficiam com o tal projeto em vigor.
Antônio Geraldo da Silva, presidente da Associação Psiquiátrica de Brasília (por e-mail, 9/12), Brasília, DF
Como psiquiatra, considero lamentável a declaração do sanitarista Pedro Gabriel Delgado (9/12). Ele admite que a rede pública deixa de empregar o ECT, terapêutica segura, eficaz e que, muitas vezes, pode salvar a vida de um paciente (como mostrado na reportagem), por uma questão meramente ideológica, sem qualquer embasamento científico. Cabe lembrar o que diz o artigo 57 do Código de Ética Médica: "É vedado ao médico deixar de utilizar todos os meios disponíveis de diagnósticos e tratamento a seu alcance em favor do paciente."
Alexandre Magno Ferreira de Andrade Gomes (via Globo Online, 10/12), Rio
A matéria "Sem hospícios, morrem mais doentes mentais" assombra aquele que preza a imparcialidade e a honestidade dos meios de comunicação. Ingenuamente ou não, O GLOBO serviu de veículo privilegiado de defesa de interesses estranhos aos profundos avanços que vêm sendo construídos com muito trabalho na área da saúde mental ao longo dos últimos anos. Causa perplexidade a determinação em defender uma situação felizmente ultrapassada, aquela das soluções fáceis: abomináveis manicômios, depósitos humanos, eletrochoques e soterramento dos problemas da saúde mental. Aqueles que bebiam nessa fonte agradecem.
Rodrigo Lyra Carvalho (por e-mail, 10/120, Rio
Parabenizo O GLOBO pela contundente reportagem. O Sindicato Médico do Rio Grande do Sul foi um dos pioneiros ao levantar a voz contra a adoção da Lei Antimanicomial, antevendo a realidade que se transformaria a saúde mental no Brasil, a reboque de uma política de saúde pública injusta e ineficaz, apesar dos imensos esforços dos trabalhadores que atuam no SUS, incluindo os médicos. A matéria é uma contribuição inestimável na luta que travamos aqui e no Brasil inteiro pela revisão urgente da reforma psiquiátrica.
Maria Rita de Assis Brasil, vice-presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (por e-mail, 10/12), Porto Alegre, RS
Sou psicóloga, trabalhadora na área da saúde mental, e a reportagem do GLOBO é uma ofensa a nós, trabalhadores, usuários e familiares que, no cotidiano da clínica, trabalhamos pela inclusão de nossos pacientes na comunidade, pelos direitos dos usuários e pela sua cidadania. A experiência da loucura é singular e não se trata de excluí-la, mas de incluí-la sem negar as diferenças. A reportagem tem meias verdades e opiniões de pessoas claramente contra a reforma psiquiátrica brasileira, elogiada no exterior e degradada dentro do país.
Ana Lúcia East (por e-mail, 9/12), Rio
Parabenizo a coragem e a lucidez da reportagem sobre a realidade da desassistência psiquiátrica em nosso país, envolta em uma mística e canastrona retórica de modernidade, mas que está regada a atraso e obscurantismo científico, social e político.
Não é de hoje que o movimento da luta antimanicomial (Lama) tem vitimado os doentes mentais e seus familiares, promovendo o fechamento de todos os leitos psiquiátricos públicos disponíveis, deixando em funcionamento apenas aqueles que não têm rotatividade, pois os pacientes que ainda os ocupam não têm família e a gravidade de seus quadros mentais impede que sejam mandados para a rua. Essa situação se arrasta desde 1986, mas estamos chegando ao ponto mais crítico e é necessário que a sociedade brasileira se conscientize do que está por trás desse movimento, que só serve a quem o promove.
Paulo Cesar Geraldes psiquiatra, (por e-mail, 9/12), Rio