Abusos na busca pela beleza colocam a saúde em risco | ||||||||||||||||||||||||
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Vale tudo para conseguir cabelos lisos e um rosto sem rugas? Na busca desenfreada por um padrão utópico de beleza, muitas vezes a saúde fica em segundo plano. Para coibir abusos e inverter essa lógica, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) trabalha com a preocupação de garantir a segurança dos cosméticos comercializados no país. Água antiacne, iogurte da juventude, chocolates que deixam a pele mais macia são alguns exemplos da vasta gama de artifícios usados com fins estéticos. Como são normalmente aplicados sobre a pele, cabelos e unhas, os cosméticos podem apresentar riscos de produzir efeitos |
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indesejáveis ao usuário. Por esse motivo, são produtos submetidos ao controle da vigilância sanitária. No último mês de maio, a Anvisa lançou, em Belo Horizonte (MG), o Guia de Controle de Qualidade de Cosméticos. A publicação traz diretrizes, informações e métodos de ensaio para o controle de qualidade desses produtos, além de compilar recomendações das metodologias mais usuais para a análise dos ensaios industriais. O trabalho é resultado de uma parceria entre a Anvisa, a Câmara Técnica de Cosméticos (Catec) da Agência, a comunidade acadêmica, os laboratórios oficiais e o setor produtivo. “O guia é uma orientação para que as empresas alcancem os resultados exigidos pela legislação. Nele, os profissionais poderão ter, por exemplo, informações sobre como melhor proceder à análise das substâncias que compõe a fórmula”, explica a gerente-geral de Cosméticos da Anvisa, Josineire Sallum. Para a diretora do Conselho Regional de Farmácia de Minas Gerais, Adriana Pereira Gomes, o guia também pode fornecer subsídios às ações de fiscalização. “É uma base de dados a mais para que possamos fazer a fiscalização do exercício profissional de forma mais eficiente”, avalia.
O Brasil é hoje o terceiro maior mercado consumidor de cosméticos no mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos (que ocupam o primeiro lugar) e o Japão. A Anvisa recebe, anualmente, entre três mil e quatro mil pedidos de registro de produtos cosméticos. Já as notificações – obrigatórias para produtos de grau de risco baixo – chegaram a quase 70 mil em 2006. A atual legislação sobre cosméticos inclui uma lista restritiva contendo a concentração máxima das substâncias e as advertências obrigatórias nos rótulos dos produtos; além das listas positiva e negativa que contém mais de 400 substâncias que não podem ser utilizadas em cosméticos. Traz também requisitos específicos para produtos infantis. Categorias – Os cosméticos são divididos em duas categorias, de acordo com o risco que o produto pode impor à saúde. Os de maior potencial de risco são considerados Grau II. Entram, nessa categoria, alisantes, tinturas e ondulantes, que necessitam de registro para serem comercializados. Já os de menor potencial de risco, Grau I – como xampus, condicionadores e maquiagem em geral (que não contenha filtro solar) – ,precisam ser notificados à Anvisa para que a Agência tenha um histórico de cada produto. “Quando o produto não está registrado, significa que sua composição não foi avaliada e ele pode conter substâncias proibidas ou de uso restrito, em condições e concentrações inadequadas ou não permitidas, acarretando riscos à saúde da população”, alerta a gerente-geral Josineire Sallum. Segundo ela, produtos nestas situações podem causar várias reações, desde uma simples intolerância até alergias mais graves. “Nesse caso, o consumidor não deve utilizar o produto e deve acionar o órgão de Vigilância Sanitária de sua cidade”, orienta. Os perigos das escovas “milagrosas” A escovação dos cabelos à base de chocolate e até de morango com champanhe está literalmente “fazendo a cabeça” das mulheres. O que muita gente não sabe é que elas não possuem propriedades comprovadas de alisamento ou nutrição capilar. Em se tratando de cabelos, a discussão em torno do uso do formol é uma das mais recorrentes. Escova Francesa, Alisamento Japonês, Escova Definitiva ou Escova Progressiva são modismos que vêm e vão. Os produtos usados nesses procedimentos – e não o procedimento propriamente dito – devem ser registrados na Anvisa. Formol – Por lei, o uso de formol só é permitido nas formulações com a função de conservante e no limite máximo de 0,2%. O uso indevido de produtos com formol pode causar alergias, irritação nos olhos, vermelhidão, lacrimação e dermatites. Os Centros de Vigilância Sanitária têm recebido inúmeras denúncias de casos ocorridos pela utilização imprópria de alisantes, causadora de sérios danos à saúde, como queimaduras no couro cabeludo, queda parcial ou total dos cabelos, problemas no trato respiratório e até morte por choque anafilático. “Minha experiência com a escova progressiva foi, no mínimo, desastrosa. Quando estava já na metade do procedimento, senti uma forte ardência na garganta e nos olhos e nem consegui terminar a aplicação”, conta a arquiteta Larissa Duarte. A publicitária Patrícia Alencar também viveu de perto os perigos das chamadas escovas milagrosas. “Dois dias após a aplicação, meu couro cabeludo começou a descamar, como se fosse caspa. Depois de uma semana, tufos de cabelos caiam na minha mão quando eu passava a escova”, relembra. “Foi uma experiência horrível e desde então não recomendo para ninguém porque acredito que, realmente, o formol faz muito mal à saúde”, completa a publicitária.
Dermatologistas, esteticistas e até psicólogos concordam que o uso de cosméticos pode ajudar a aumentar a auto-estima do consumidor. Quem é que não gosta de se olhar no espelho e se sentir bonito e saudável? Mas a procura desesperada pela beleza pode levar ao desencadeamento de problemas emocionais e até mesmo de doenças mentais, conforme argumentam profissionais de saúde. “Vemos na televisão e em revistas rostos perfeitos e corpos deslumbrantes. Pouco a pouco, quem não tem esse estereótipo vai adquirindo um sentimento de insatisfação com o próprio corpo e o rosto”, alerta a psicóloga Eliane Magalhães. “Em decorrência disso, as pessoas se aborrecem, não hesitando em recorrer a métodos embelezadores. Algumas não agüentam a pressão e são acometidas de doenças como a depressão”, afirma a psicóloga. A qualidade de vida está diretamente ligada à busca pelos cuidados com a saúde. Porém, segundo Eliane Magalhães, não é preciso recorrer às últimas novidades em cosméticos para a garantia de uma vida saudável. “Basta que a pessoa adquira consciência corporal, utilize produtos e faça tratamentos que não façam mal e saiba que, enquanto se cuida adequadamente, está fazendo bem à sua saúde física e mental”, aponta a psicóloga.
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