Uma cirurgia delicada, realizada no Hospital Universitário (HU) em Londrina, separou gêmeos siameses, do tipo xifo-onfalópagos, que estavam unidos pelo abdôme. O procedimento, feito na última sexta-feira, durou cerca de quatro horas e os meninos, de cinco meses, passam bem. A expectativa é que possam ter uma vida normal daqui para frente.
Os gêmeos estavam unidos um de frente para o outro, e, segundo o cirurgião pediátrico Lúcio Marchese, eles tinham o fígado ”extensamente unido”, assim como o pericárdio, membrana que envolve o coração, além do esterno e das costelas.
A maior dificuldade da cirurgia, segundo o médico, foi separar os fígados, que estavam ”fundidos”. ”Essa foi a parte mais demorada e perigosa, porque foi preciso cortar o órgão ao meio”, explicou. O pericárdio também teve que ser separado e fechado em torno de cada coração.
O risco principal, durante o procedimento, era de hemorragia. O segundo, de não haver tecido (pele) para fechar o abdome e o tórax das crianças. ”Tínhamos tudo preparado, teflon e pericárdio bovino, caso necessitassem de prótese”, disse. E o último risco, era de no pós-operatório aparecerem infecções. ”Eles tiveram alguns problemas respiratórios, que foram superados. Ficaram apenas um dia na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e agora estão se alimentando bem”, disse.
Um dos fatores de sucesso da cirurgia, que envolveu duas equipes, com 19 profissionais, entre anestesistas, cirurgiões e enfermeiros, foi o preparo anterior. A fisioterapia foi fundamental para ”esticar” a pele e fazer o alongamento das paredes internas e dos músculos. Durante os cinco meses de vida, explicou o cirurgião, a mãe foi orientada a fazer uma separação mecânica forçada, que nada mais era que tentar separar os meninos. Isso formou pele suficiente para que depois da cirurgia o abdome pudesse ser recoberto.
Os meninos agora estão bem, e poderão ter uma vida normal como qualquer outra criança. O tórax ainda está um pouco deformado, mas deverá ser corrigido com fisioterapia. ”No futuro pode ser que eles precisem de (cirurgia) estética. Isso ainda será avaliado”.
O nascimento de gêmeos siameses é raro. Segundo o médico, na África estatísticas apontam um caso para cada 50 mil nascimentos, e no Brasil e nos Estados Unidos, 1 caso para cada 100 mil nascimentos. No HU, este foi o terceiro caso de separação de siameses, o último em 85. Um caso bastante conhecido em Londrina e em todo o País foi o das gêmeas Marta e Maria, operadas com sucesso na Santa Casa em janeiro de 1971.
Nem sempre é possível separar gêmeos siameses. Em Londrina, dois casos, um em que a união era pela crânio, e outro, em que só havia um coração, não foram possíveis as separações. Hoje, gêmeos siameses podem ser identificados já durante a gestação através de exames como a ultrassonografia e a ressonância magnética.
A família dos meninos preferiu não se identificar e nem quis que eles fossem fotografados, mas certamente os gêmeos, apesar da pouca idade, já deixaram uma grande lição – Marchese disse que ao final da cirurgia, os meninos estavam agitados e chorando, apesar dos sedativos, e não havia o que os fizessem parar. ”Pensamos em colocá-los unidos, do mesmo jeito como estavam antes da cirurgia, e na mesma hora sossegaram”.