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Consagração do bom senso e da boa informação

Quando se pensa no progresso científico da medicina, a história nos mostra um quadro monotonamente pernicioso. Do cientista queimado vivo por ter revelado o sistema de circulação do sangue pelo corpo, ou daquele que sofreu o escárnio de seus pares por ter dito que médicos precisavam lavar as mãos antes de fazer um parto, o que ainda perdura, nos dias de hoje, é que o “novo” se apresenta como assustador e/ou herético. Ainda que esteja a favor da vida, da melhoria da condição de saúde dos seres humanos, ou, no mínimo, para oferecer alguma esperança.

Este foi, ainda mais uma vez, o panorama com que nos defrontávamos em relação ao debate das pesquisas com células-tronco, no Brasil – desta vez, no entanto, com um final diferente, para alívio de todos os interessados na aprovação do projeto. O tema deteve as atenções nesta semana, com a cobertura massiva da imprensa brasileira, que levou a informação cientificamente correta para consubstanciar o apoio da opinião pública. Vitória da ciência, vitória da comunicação bem feita, vitória da liberdade democrática.

Ao aprovar o projeto de lei da Biossegurança, o Congresso Nacional deu um passo gigante na consolidação do Brasil como um país de liderança tecnológica e visão estratégica na utilização de recursos para o bem da Humanidade. O uso de células-tronco como recurso terapêutico já é uma realidade funcional para diversas doenças crônicas e uma esperança concreta para os portadores de alguns tipos de câncer, de deficiências imunológicas e de doenças genéticas. Pela primeira vez, em toda a sua trajetória, a medicina pode pensar na efetiva cura de condições de saúde que até hoje nos diminui, como médicos, e que ferem os princípios básicos da dignidade do viver.

O Brasil foi o país pioneiro no desenvolvimento de políticas de saúde contundentes e governamentais no tratamento da AIDS. A pesquisa científica brasileira no caminho dos transplantes é respeitada na comunidade internacional, e agora temos os meios legais de ingressar num mundo onde os primeiros levarão a vantagem.

Encorajada pelas histórias bem-sucedidas de doentes que recuperaram a vontade de viver, a comunidade científica brasileira vem investindo com firmeza nas pesquisas com células-tronco, utilizando o material que tem à mão. O Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo, por exemplo, “importou” células-tronco embrionárias da Universidade de Harvard e, a exemplo de vários outros centros, também estuda amostras recolhidas do sangue do cordão umbilical e da medula óssea. A partir de agora, com a aprovação do projeto, novos horizontes de abrem para o nosso desenvolvimento no setor da Medicina Regenerativa.

As experiências com células-tronco revolucionarão a medicina, beneficiando milhões de pessoas ao permitir o tratamento de doenças genéticas e crônico-degenerativas, hoje incuráveis. Tais avanços, muitas vezes, demoram a ser percebidos. Nesse sentido, vale lembrar que o polêmico bebê de proveta de 1978 transformou-se em um marco dos grandes avanços da medicina reprodutiva e, só no Brasil, centenas de crianças nascem anualmente, trazendo realização pessoal e felicidade para suas famílias. Esses bebês, há menos de 30 anos, seriam impossíveis. As técnicas de reprodução assistida hoje utilizadas foram, também, combatidas, discutidas, consideradas heréticas por alguns setores. Mas a ciência venceu, o bom senso imperou, a Vida foi contemplada. É o que esperamos que ocorra agora com as pesquisas com células-tronco. Em nome da medicina. Em nome das inúmeras vidas que um dia serão beneficiadas. Em nome de Deus.

(*) Roger Abdelmassih é especialista em reprodução humana e autor do bestseller Tudo por um Bebê