A ambição de se tornar a AmBev do setor de laboratórios de exames clínicos, expandindo-se regionalmente, parece estar expressa no nome escolhido para o grupo em 1999: Diagnósticos da América S.A. (Dasa). Crescer em ritmo acelerado, via aquisições e também de forma orgânica, tornando-se um consolidador, é a vocação que a Dasa tem perseguido desde então.
Hoje a empresa é a maior do setor na América Latina, atendendo a 18 mil pacientes por dia. Dando sequência ao plano de crescimento, na próxima semana finaliza a oferta inicial de ações a investidores e estréia na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) no dia 18, quinta-feira. Avaliada em até R$ 1 bilhão, a empresa colocará até 40% do seu capital no mercado.
Em recente apresentação a analistas e investidores, em São Paulo, a direção da Dasa revelou que no momento tem 15 laboratórios diferentes na mira. São potenciais aquisições em estudo. Apenas uma pequena parte deve se concretizar.
Segundo uma fonte que acompanha as decisões estratégicas da Dasa, um mercado bastante cobiçado é o da grande Belo Horizonte, a capital mineira. A mesma fonte diz ainda que oportunidades de compra no Chile são avaliadas.
A Dasa está presente nos três maiores mercados do Brasil para análises clínicas: São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná. Em relatório divulgado em outubro, a área de análise de ações do Unibanco destacou Minas Gerais como mercado potencial para eventuais aquisições, pois há 3,8 milhões de vidas cobertas por planos de saúde no Estado. Também foram citados Rio Grande do Sul (1,9 milhão), Distrito Federal, Santa Catarina, Espírito Santo, Bahia e Goiás.
A entrada de um grupo de fundo de investimento em private equity no capital do laboratório Delboni Auriemo, em 1999, marcou o início do processo de aquisições. Foram seis compras de lá para cá – média de uma por ano.
Os fundos, liderados pelo Pátria Banco de Negócios, dividem o controle da Dasa com o médico Caio Auriemo. Presidente da empresa e do conselho de administração, Auriemo detém 51% do capital votante da holding Dasa Participações. Os fundos têm 49% e o direito de indicar o vice-presidente do conselho e o diretor financeiro.
De 1999 a 2003, a receita líquida do grupo cresceu 39% ao ano. De 2001 a 2003, a taxa foi de 22% ao ano. Aos analistas, a empresa informou que pretende investir R$ 40 milhões ao ano em 2005,2006 e 2007 para abrir novas unidades. Serão oito por ano. No mercado paulista, o crescimento tende a ser orgânico, exceção feita a uma boa oportunidade de compra.
Em novas regiões, os executivos da companhia foram taxativos: a estratégia é sempre comprar um líder local, que serve de plataforma para a expansão futura. Como regra, a Dasa tem incorporado laboratórios que fazem apenas análises clínicas, como exames de sangue e urina. Na sequência, introduz nas novas unidades os chamados exames de imagem, como ultra-som e ressonância magnética. Segundo a empresa, a introdução de exames de imagem pode dobrar a receita com a mesma base de clientes.
Ao adquirir um novo negócio, a Dasa procura obter retorno de 30% a 35% sobre o capital investido. Mas o impacto imediato de uma incorporação é sempre negativo. A maioria das aquisições tem sido financiada pelos próprios vendedores. Por conta disso, cerca de R$ 28 milhões da sua dívida tem como credores antigos proprietários dos laboratórios. A dívida serve também como garantia para cobertura de eventuais contingências.
Mesmo mantendo seu ritmo de expansão, a empresa não acredita que terá problemas com os órgãos que regulam a concorrência. A explicação é que o setor é muito fragmentado. Estima-se que a Dasa tenha 10% a 12% do mercado da Grande São Paulo.
Está implícito no modelo de negócio da Dasa não ampliar demais as margens. O objetivo é manter a margem lajida/receita líquida em torno de 30%. O lajida é a geração de caixa operacional antes do pagamento de juros, impostos, depreciação e amortização. O entendimento da empresa é que é necessário repassar parte dos ganhos de escala aos preços para atrair novos usuários e também dificultar a entrada de novos laboratórios.
Para reduzir seus riscos no plano de expansão, a Dasa apóia-se no que chama de modelo multi-marcas, multi-região, multi-produto e multi-pagador. Tem três segmentos de laboratórios diferentes, cada um voltado para um tipo de classe social. Além disso, busca diversificar as regiões de atuação bem como as fontes de receita em clientes individuais, seguros de saúde, planos de saúde e outros.
Um problema que a empresa exibe em seus números é a lucratividade. Nos primeiros nove meses deste ano teve prejuízo de R$ 6,3 milhões. Segundo seus executivos, foi tudo em função do peso dos prêmios pagos nas várias aquisições. Excluídas as amortizações dos ágios, os resultados estão positivos desde 2000, afirmam.