Com renda alta e os maiores custos de consultas, exames e internações do país, o Distrito Federal é um atraente mercado para a saúde particular. Atualmente, pelo menos R$ 64 milhões são investidos apenas nas obras de três novos hospitais, sem contar uma quarta construção que está nos planos de uma grande operadora de planos de saúde.
Não é à toa. Levantamento da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) mostra que os brasilienses pagam uma das maiores mensalidades desses contratos. Além disso, uma pesquisa realizada este ano pela consultoria Stategy, especializada na análise dos balanços de operadoras de planos de saúde, afirma que o custo da internação em Brasília é entre 35% e 45% maior do que a média nacional de R$ 2,3 mil.
Como forma de superar essa dificuldade, operadoras de planos de saúde têm preferido, a exemplo do que acontece em outros estados, investir elas mesmas na construção ou incorporação de hospitais. Além da Medial, que inaugura seu primeiro hospital no DF no início de novembro, a Amil, maior empresa do setor de medicina de grupo no Brasil, estuda propostas para erguer seu próprio hospital na Asa Norte.
"Já temos algumas propostas de bancos interessados em financiar o projeto", revela o superintendente da Amil Brasília, Moacir Zanatta. "Nos procedimentos de baixa complexidade, Brasília tem o maior custo do Brasil", completa.
O mais adiantado dos novos hospitais é o Alvorada, em Taguatinga, arrendado da Unimed pela Medial Saúde e totalmente reformado com investimentos de R$ 12 milhões a inauguração está prevista para o dia 6 de novembro. Será o primeiro hospital próprio da operadora fora de São Paulo. "Brasília tem alto poder aquisitivo e alta densidade demográfica, é uma praça grande que vai concentrar nossos investimentos nos próximos anos, ao lado de São Paulo e Rio de Janeiro", diz o presidente da Medial, Luiz Kaufmann.
Capitalizada graças à oferta de ações em bolsa de valores, realizada este ano, a Medial tem dinheiro em caixa para investir na ampliação da rede. Segundo Kaufmann, a capital, ao lado das metrópoles paulista e carioca, será o destino de R$ 200 milhões em investimentos previstos pela empresa para o próximo ano.
A mais difícil das obras em andamento na capital é do Instituto do Câncer Infantil e Hospital Pediátrico de Brasília, tocada pela Associação Brasileira de Assistência às Famílias de Crianças Portadoras de Câncer e Hemopatias (Abrace). A área, de 16,5 mil metros qquadrados, foi cedida pelo GDF, mas ainda falta dinheiro para completar a construção, orçada em R$ 30 milhões.
"O hospital está 70% concluído, mas ainda precisamos de R$ 2,4 milhões para concluir o que falta. O valor estava prometido pelo Ministério da Saúde, que recuou", explica a presidente da Abrace, Ilda Peliz. Pronto, o hospital do câncer infantil terá 151 leitos, sendo 31 de UTI, e será capaz de realizar 314 mil consultas, 7,6 mil internações e 5,8 mil cirurgias por ano.
"Hoje, as crianças com câncer dividem espaço com os adultos nos hospitais públicos e é possível esperar 40 dias apenas para fazer os exames", diz Peliz. O plano inicial era inaugurar o hospital em dezembro, mas surgiu o problema de, no mesmo local, existir um cemitério de animais, o que já jogara as perspectivas para abril do ano que vem. "Como agora ainda dependemos de recursos, fica difícil marcar uma data", completa a presidente da Abrace, que registra cerca de 230 novos casos da doença por ano.
Antes dele ficará pronto o Hospital do Coração, empreendimento de R$ 22 milhões do grupo Santa Luzia, erguido ao lado do complexo hospitalar no final da Asa Sul são R$ 15 milhões em obras e R$ 7 milhões em equipamentos. O Hospital do Coração terá 30 leitos para internação e 11 leitos para observação e, além de desafogar a demanda atual do Hospital Santa Luzia onde um em cada quatro atendimentos está relacionado com doenças cardiovasculares , vai concorrer com o já instalado Instituto do Coração, que fica no Hospital das Forças Armadas.
"A economia de escala de um hospital especializado compensa, especialmente na negociação com os fornecedores. Ao invés de, por exemplo, comprar um cateter, compraremos 30", explica o diretor de expansões e obras da holding SLPar, Ediwaldo Martins Leal Junior.
Rede própria é nova tendência do mercado
O controle de custos se tornou fundamental para o mercado de planos de saúde, que desde a regulamentação, em 1999, viu os gastos aumentarem com a ampliação obrigatória da cobertura, mas tem parte dos reajustes fixados pelo Governo federal. Depois de reduzir a oferta de planos individuais justamente aqueles cujos aumentos anuais são fixados pela agência reguladora do setor, várias empresas passaram a investir elas mesmas em hospitais e laboratórios.
O exemplo mais agressivo desse novo movimento parece ser a empresa Medial Saúde, que tem sede em São Paulo, mas passou a investir mais fortemente nos mercados do Rio de Janeiro e do Distrito Federal. Aqui, por sinal, a operadora inaugura no início de novembro seu primeiro hospital próprio fora de São Paulo, depois de arrendar e reformar o antigo hospital da Unimed em Taguatinga agora Hospital Alvorada.
"Hoje você só é competitivo se tiver rede própria. Estamos investindo em hospitais, laboratórios e centros de diagnósticos e vamos expandir essa verticalização em São Paulo e outras praças, como Brasília onde a idéia é ter mais de um hospital, como forma de reduzir custos e fortalecer nossas margens", diz o presidente da Medial, Luiz Kaufmann.
A empresa foi a primeira do setor no país a captar recursos com o lançamento de ações os papéis da companhia estrearam no Novo Mercado da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) no dia 22 de setembro. Com a operação a Medial captou R$ 742,2 milhões. Alguns investimentos já foram feitos, como a construção do hospital em Brasília e de um centro de atendimento ambulatorial no Rio de Janeiro.
"Temos R$ 500 milhões em caixa e vamos usar esses recursos para ampliar a rede. No ano que vem devemos investir mais R$ 200 milhões em São Paulo, Rio e Brasília", adianta Kaufmann. A Medial tem cerca de 900 mil associados e espera crescer 25% este ano. E com os investimentos, quer que pelo menos metade dos atendimentos sejam feitos na rede própria hoje em quase 30%.
Apesar de emblemática, a movimentação da Medial nada tem de exclusiva. Somente no ano passado a rede de hospitais que pertencem completa ou parcialmente a operadoras cresceu aproximadamente 20%, com mais de 100 novos estabelecimentos.
Vantagens. "Algumas operadoras que tinham serviços próprios começaram a ter vantagens com o maior controle de custos, assim como hospitais que ofereciam planos de saúde. E com base nos balanços de hospitais e operadoras podemos perceber que quem foi para a rede própria teve realmente melhores resultados. A verticalização é de fato uma tendência", diz o presidente da Federação Brasileira de Hospitais, Eduardo de Oliveira.
A Medial tem opção de compra do laboratório Endomed, outro segmento na mira das empresas. O grupo Amil, o maior da medicina de grupo do país, com cerca de 1,5 milhão de beneficiários, já realiza 75% dos exames dos clientes da subsidiária DixAmico (850 mil vidas) em laboratórios próprios. Mais uma vez, a idéia é reduzir custos com maior controle sobre os exames solicitados e realizados. "Em média, entre 20% e 30% dos exames não são sequer retirados, um tremendo desperdício", diz o superintendente da Amil Brasília, Moacir Zanatta.
A Amil já possui hospitais, como o Paulistano, em São Paulo, e no Distrito Federal o grupo participa da gestão do Hospital Brasília, no Lago Sul. A empresa avalia a construção de um novo hospital próprio na capital. "Estamos estudando investir em um hospital na Asa Norte, onde a oferta é restrita, e já temos parceiros nos procurando para tocar o negócio", revela Zanatta.