contato@sindipar.com.br (41) 3254-1772 seg a sex - 8h - 12h e 14h as 18h

Doações evitam rombos em hospitais

Muita gente se recusa a ser fotografado em reportagens para jornal. Timidez é uma das justificativas mais comuns. O empresário Airton Domingos Damian, 49 anos, também se recusou a aparecer nesta matéria. Motivo? Ele dá sangue e dinheiro para instituições de saúde e está na lista de doadores de medula óssea. Sua justificativa para não aparecer: ”O que faço é para ajudar as pessoas, não para aparecer. Acho que faço pouco. Poderia fazer mais.”
Quem está enfermo em qualquer um dos leitos dos hospitais públicos provavelmente não sabe da existência de gente como Airton Damian. Talvez não tenha consciência de como gente igual a ele é importante para as instituições de saúde.
Damian doa R$ 5 por mês ao Hospital Erasto Gaertner, que é uma das referências do sul do País no tratamento de câncer. O valor pode parecer pouco, mas 25% da renda do Erasto vem de pequenas doações. A cada mês a institução, que atende pelo Sistema Único de Saúde (SUS), recebe R$ 450 mil em doações, o que representa R$ 5 milhões de rendimentos a mais nos cofres do hospital por ano.
No próximo dia 26, a direção do Erasto Gaertner vai lançar um nova campanha pedindo ajuda para a ampliação das dependências do hospital. Parada há 10 anos por falta de recursos, a obra de 3,5 mil metros quadrados será revitalizada a um custo de R$ 12 milhões.
”A ajuda da comunidade propicia a possibilidade de realizarmos um tratamento de melhor qualidade”, explica Claudiane Ligia Minari, coordenadora geral do Erasto Gaertner. Segundo ela, as doações da comunidade evitam que as contas do hospital fiquem no vermelho. Cerca de 88% dos atendimentos do Erasto são pelo SUS, mas a verba que a instituição recebe do Ministério da Saúde cobre apenas 75% dos gastos para atender uma demanda de pacientes que cresce 10% ao ano.
Há 20 anos, no Hospital Evangélico, Eunice Zacharow viu que muitos recém-nascidos não tinham o que vestir. Ela não pensou duas vezes: aproveitou que estava aposentada e criou um grupo de voluntários para ajudar nas necessidades da insitituição. No início, eram cinco pessoas. Hoje, o Voluntariado do Hospital Evangélico conta uma equipe de mais de mil pessoas. Eunice é a coordenadora.
As ajudas não são apenas em dinheiro. Voluntários trabalham juntamente com os pacientes, dando comida, contando histórias ou fazendo companhia. Existem também equipes que trabalham fora do hospital, organizando jantares e outros eventos para arrecadar recursos. Um terceiro grupo não faz parte do voluntariado, mas não deixa de fazer doações. ”Os voluntários são pessoas que doam e não querem aparecer por isso. Eles têm um amor, um desprendimento”, define Eunice.
O Hospital Evangélico é referência no tratamento de queimaduras. Segundo a direção, 7 mil pessoas circulam por dia em suas dependências.

Caridade e satisfação: Brasileiro

tem consciência de que é necessário ajudar

O dinheiro arrecadado pelas associações de apoio ao Hospital de Clínicas (HC) da Universidade Federal do Paraná (UFPR) ajuda a conter o rombo nas contas da instituição. O HC atende 100% pelo SUS, sem convênios ou pacientes particulares. ”Isso faz com que o índice de sustentabilidade seja insuficiente”, diz Giovanni Loddo, diretor geral da instituição. Por mês, o SUS repassa ao hospital um valor próximo de R$ 5,6 milhões. No mesmo período, a instituição gasta R$ 6,5 milhões.
As associações que trabalham em parceria com o HC angariam recursos para reformas da estrutura, compra de equipamentos, materiais e remédios. ”As pessoas não imaginam o que R$ 5 podem fazer”, revela o diretor. Segundo Loddo, as arrecadações de um dos programas de doação do hospital, batizado de ”O HC conta com você”, somam cerca de R$ 40 mil ao mês. ”Pode parecer pouco perto dos R$ 5 milhões que recebemos do governo, mas operacionalmente é muito importante”.
Ruben de Francesco, 48 anos, descobriu na caridade uma forma de satisfação. O compromisso de R$ 150 por mês com o Erasto Gaertner é uma responsabilidade que assumiu há oito anos. Como é representante comercial, não sabe qual será o salário no final do mês: depende da comissão das vendas. Mesmo nos meses em que o dinheiro não entra, ele diz não falhar com as doações. ”Doar é isso: fazer algo sem pedir nada em troca. Quem pratica a caridade está se ajudando também”, ensina.
Maria Helena Sucek nunca precisou dos serviços de um hospital como o Erasto Gaertner. Mesmo assim, isso não a impediu de ajudar a instituição. De lá para cá, são 20 anos colaborando com o tratamento de pacientes vítimas do câncer. Hoje, ela e o marido doam R$ 60 por mês. ”O objetivo é ajudar um pouquinho”, confirma.
Maria Helena explica que o começo da ajuda foi fruto de uma conscientização. ”O brasileiro tem essa consciência de que é necessário ajudar. É que muitas vezes não tem condições de doar”, acredita.