Quem for precisar de uma consulta especializada no Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (HC) pode esperar até um ano para ser atendido. Nas áreas de endocrinologia e neurologia, a direção do hospital planeja restringir o atendimento a novos pacientes
Na área de cirurgias, a espera é ainda maior, principalmente na revisão de prótese de quadril, epilepsia e bariátrica (redução de estômago). Para a cirurgia bariátrica a espera na fila é de cinco anos.
Para o diretor do HC, Giovanni Loddo, a espera sempre existiu pelo fato de a demanda ser maior que a oferta. “Num ônibus circular, se ninguém descer, ninguém sobe. É a mesma coisa com a nossa fila”, afirma Loddo. Entre as dificuldades, Loddo diz que há resistência dos pacientes em receber alta. Eles não aceitariam ser encaminhados à rede básica, o que não possibilita a abertura de novas vagas. Outro motivo da sobrecarga do sistema é que pacientes são encaminhados ao hospital quando poderiam ser atendidos em unidades de saúde. Somada a falta de verba, o hospital não consegue aumentar o atendimento: mensalmente falta R$1 milhão para o custeio do hospital.
Sistema
A prefeitura de Curitiba, responsável por encaminhar os pacientes dos postos de saúde para os hospitais e centros de especialidades, diz que na maioria dos casos a espera não ultrapassa um mês. Para a superintendente de gestão da Secretaria Municipal de Saúde, Eliane Chomatas, a espera ocorre quando o paciente faz questão de se consultar em determinado local e com determinado médico.
Ou seja: se o paciente fizer questão de ser atendido no HC, por exemplo, a espera pode ser mais longa, dependendo da especialidade. Mas, se não houver preferência, o caminho fica mais curto. Mesmo assim, nos serviços de maior demanda, como neurologia, ortopedia, dermatologia, endocrinologia, a demora pode chegar a 180 dias. Segundo Eliane, a espera ocorre porque o número de especialistas disponível é menor que a demanda.
A maior fila é para ortopedia. A auxiliar de cozinha desempregada Maria Aparecida de Matos diz que está há um ano esperando uma consulta em ortopedia – o médico dela pediu urgência no atendimento. No entanto, Maria Aparecida sabe que as dores que sente pelo corpo podem demorar para ter solução. Na unidade de saúde que freqüenta, o médico já avisou que a consulta demora. “Se o médico pedir exame, já sei que vai ter que esperar muito. Ou sara por conta ou, se tiver que acontecer alguma coisa, vai acontecer.” Maria Aparecida já esperou dois anos e meio por um exame de mapeamento do coração, três meses por uma mamografia, quatro por um raio-X da coluna e oito meses por uma endoscopia.
Segundo Eliane, a ortopedia é especialidade com mais dificuldade porque há a parte clínica e a cirúrgica. Ela completa que em breve será realizado um mutirão de atendimento. Com relação à fila de cirurgia bariátrica, ela diz que na capital três novos serviços serão habilitados para oferecer o serviço. Na endocrinologia será aumentada a resolutividade da rede básica. Para a cardiologia, a superintendente diz que nos hospitais não há fila longa como a do HC. Na neurologia, a prefeitura está introduzindo serviços novos, como no hospital São Vicente.
Crise também na urgência
O Hospital de Clínicas também sente sobrecarga no setor de urgência e emergência. A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) geral estava lotada ontem. Além disso, a UTI semi-intensiva estava com dois pacientes além da capacidade. Três pacientes aguardavam leito no pronto-atendimento e seis pacientes aguardavam vaga para cirurgia. “A superlotação na UTI é muito grande”, diz o diretor do HC, Giovanni Loddo.
Na última quarta-feira, com a UTI geral lotada e cinco pacientes aguardando vaga, o HC teve até de pegar emprestado um aparelho respirador. Além disso, estavam lotadas as UTI geral, Coronariana, Neonatal e Pediátrica. (BMW)
Longa espera
Confira quanto demora o atendimento no HC:
Endocrinologia – Primeira consulta – 600 pacientes na fila, 112 consultas ofertadas por mês – Espera de cinco meses
Retorno de pacientes – 1.226 pacientes na fila, 256 consultas de retorno por mês – Espera de cinco meses
Cardiologia
Primeira consulta
691 pacientes na fila 64 consultas por mês Espera de dez meses
Retorno de pacientes
2.997 pacientes na fila 300 consultas por mês Espera de dez meses
Neurologia
Doenças neuromusculares
Primeira consulta
267 pacientes na fila 28 consultas por mês Espera de nove meses
Retorno 300 pacientes na fila 64 consultas por mês Espera de cinco meses
Dores de cabeça
Primeira consulta
258 pacientes 20 consultas por mês
Espera de um ano