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Estrangeiros perdem terreno nos genéricos

            Na batalha pela disputa do mercado de medicamentos genéricos, surgiu a primeira grande vítima: a Apotex, maior laboratório farmacêutico do Canadá.

 

            Depois de investir cerca de US$ 40 milhões e conquistar quase 5% de participação no mercado há dois anos, a Apotex desistiu de atuar diretamente no Brasil e está à procura de um parceiro ou um comprador para a sua fábrica em Itatiba (SP), paralisada desde março. Para zerar o estoque de remédios já produzidos, a empresa está doando-os a instituições de caridade.

 

            A Apotex é um emblema da situação vivida por alguns fabricantes estrangeiras, atraídas ao Brasil pela primeira onda de investimentos em genéricos, no início da década. A espanhola Cinfa, que montou uma fábrica em Atibaia (SP), também está de olho em um parceiro para continuar no negócio. A indiana Ranbaxy admite dificuldades, mas está disposta a redobrar suas fichas no país. Espera-se ainda uma reação da Sandoz, da suíça Novartis, que está se reorganizado para entrar mais firme neste segmento.

 

            Não há apenas um fator que explique o fenômeno. Na maioria dos países, como Estados Unidos e Alemanha, as empresas locais predominam sobre as estrangeiras, diz Vera Valente, diretora executiva do Pró-Genéricos, entidade que reúne fabricantes nacionais e do exterior. "Muitas empresas estrangeiras encaram o país como uma parte esquecida no sul do globo."

 

            Ela acredita que o mercado brasileiro é muito pequeno e avalia que as vendas de genéricos poderiam ser o triplo do tamanho atual "se não fosse a prática ilegal dos medicamentos bonificados que afeta o mercado." Pela primeira vez, as vendas de genéricos devem ultrapassar neste ano o US$ 1 bilhão, rompendo a fatia de 10% do mercado total de remédios.

 

            Para especialistas, o segmento de genéricos não deixa de ser uma commodity no qual o fator preço continua prevalecendo. Para isso, exige-se escala associada a custos fixos baixos, ágeis fornecedores de matérias-primas, políticas comerciais agressivas e conhecimento para enfrentar os entraves burocráticos das autoridades regulatórias.

 

            "Mas falta arrojo por parte de algumas empresas estrangeiras para entender o mercado brasileiro", diz um dirigente de uma multinacional. "Embora isso, muitas vezes, signifique práticas pouco ortodoxas por parte de algumas delas." Outro fabricante, com uma participação discreta de mercado, completa: "O pedágio para entrar hoje em genéricos tornou-se muito alto."

 

            A Apotex pagou caro por sua estratégia. Ela montou uma fábrica de embalagens no Brasil e trazia os princípios ativos a granel ("bulk"). Dependente da importação de produto do exterior, a matriz nem sempre conseguia administrar bem o estoque com suas subsidiárias, além de encontrar dificuldades para a liberação de produtos na alfândega. "Isso sem falar da forte desvalorização cambial que afetou a operação nos primeiros anos", diz um ex-executivo da Apotex.

 

            Há mais de 50 laboratórios com registro de venda de genéricos, mas os quatro maiores fabricantes – todos de capital nacional e controle familiar – respondem por oito de cada dez genéricos vendidos nas farmácias. Embora Eurofarma e Aché façam parte do grupo, a rivalidade é maior se dá entre Medley e EMS, que juntas possuem mais de 60% do mercado e disputam palmo-a-palmo a liderança do segmento.

 

            O processo de consolidação, acreditam especialistas, não está completo e deverá acirrar. "Na medida em que as grandes fabricantes crescem, vão espremendo o espaço das outras", diz Eugênio de Zagottis, vice-presidente da Droga Raia, rede com 139 lojas em quatro estados e vendas de R$ 640 milhões em 2005. "Mesmo que uma ou outra seja vendida, Medley e EMS já ocupam esse espaço."

 

            75% dos genéricos possuem competidores além do remédio de marca. Há 19 fabricantes de um mesmo antibiótico

 

            Lançados no fim dos anos 90, os genéricos são cópias fiéis dos remédios de marca que perderam a patente depois de 20 anos de proteção (e cerca de dez anos depois de terem sido lançados no mercado).

 

            Quando começou a disputa pelos genéricos, a ordem das fabricantes era colocar o produto o mais rápido possível no mercado. As empresas nacionais foram as primeiras apostarem na Lei de Genéricos. Esse jogo continua funcionando assim, mas o grande volume de moléculas, no entanto, já ingressou nas farmácias.

 

            De acordo com um levantamento realizado pelo Valor, dos quase 360 genéricos existentes no país, 75% deles possuem competidores, além do medicamento de referência. É o caso do antibiótico amoxicilina, a molécula de genérico mais vendida no país. Ao todo, há 19 versões do mesmo medicamento produzida por diversos fabricantes lutando por um lugar na prateleira das farmácias.

 

            Com fábricas estabelecidas, a briga entre as fabricantes tem sido hoje no ponto de venda. Descontos de 40% a 60% e prazos para pagamentos superiores a 100 dias dão o tom das negociações envolvendo as farmácias e os laboratórios. "Com ações promocionais nos pontos-de-vendas, os descontos podem chegar a 80%", diz o diretor de um laboratório nacional.

 

            Zagottis, da Droga Raia, lembra que, ao contrário do passado, hoje as margens para a indústria ficaram muito apertadas e o varejo está repassando boa parte para o consumidor. A briga entre EMS e Medley pela liderança tem trazido descontos atraentes ao consumidor, mas há quem veja nisso uma guerra insana.

 

            Para financiar sua carteira de clientes, a Medley tem despesas financeiras maiores do que outras concorrentes e as margens líquidas de vendas, embora tenham crescido de 1,6% para 2,4% entre 2004 e 2005, continuam atrás das exibidas por Eurofarma e EMS, por volta de 14%, que são menos dependentes dos genéricos.

 

            "Gostaria de conceder prazos abaixo de 60 dias, mas não dá, porque o mercado é muito competitivo", diz o presidente da Medley, Jairo Yamamoto. "A estratégia é manter o equilíbrio entre margem e participação de mercado", afirma.

 

            O presidente do laboratório conta que a empresa, pela posição alcançada, tem conseguido fechar importantes parcerias, com empresas como Abbott e Bayer, para o lançamento de remédios que podem garantir margens maiores. "Em 2005, também fizemos um reposicionamento da marca junto à classe médica e o ponto-de-venda, iniciativas que já estamos colhendo resultados."

 

            Com a maior linha de genéricos no mercado, a EMS, cujo patrimônio evoluiu seis vezes apenas 2005, é considerada a empresa mais agressiva do mercado. Possui duas linhas de produtos trabalhadas de forma paralela para atender diversos públicos nas farmácias. "Eles não hesitam em pagar para conquistar mercado", diz Zagottis.

 

            Em seu relatório anual, a Eurofarma informa que dá descontos médios de 50%, chegando em alguns casos a 80%. Mas a empresa não encara de frente os rivais. A Eurofarma se notabilizou em concentrar as vendas em um grupo de farmácias fora das grandes redes e é dona da maior linha de genéricos sem competidores (21 produtos, exceto o remédio de marca).

 

            O Aché, que herdou a linha de genéricos da Biosintética, adquirida por ela em 2005, abriu em maio uma unidade para venda deste tipo de remédio e os isentos de receita médica. A empresa vê o genérico como um meio de complementar sua linha de produtos. "Nossa intenção é ser uma referência no ponto-de-venda", diz o gerente da unidade, Júlio Conejero. "Não queremos entrar na briga por preço", completa o diretor de marketing do Aché, Wilson Flores.

 

 

 

Depois de reestruturação, indiana Ranbaxy refaz aposta no país

 

            A fabricante indiana Ranbaxy, uma das maiores produtoras de genéricos do mundo, passou no ano passado por uma grande reestruturação e espera colher os resultados destas mudanças.

 

            "Apesar de estar posicionada como a quinta maior empresa de genéricos do Brasil, a Ranbaxy não está apresentando uma boa performance no país", reconhece Alok Kapoor, principal executivo da fabricante indiana no Brasil.

 

            Em entrevista por e-mail, o executivo explicou que a empresa reduziu o número de produtos lançados no Brasil em 2005 e que o foco da companhia foi renovar o registro dos produtos já existentes no mercado, em vez de concentrar os esforços nos novos produtos.

 

            "Essa situação já foi contornada e a empresa voltará a lançar no mínimo 10 novas moléculas todo ano, dado que nos últimos meses já lançamos cinco novos produtos", disse o executivo. A empresa também reviu processos e mudou pessoas. "Grandes mudanças precisam de algum tempo para os resultados começarem a aparecer", afirmou.

 

            Kapoor admite que o mercado brasileiro possui uma concorrência forte e agressiva. "Para se manter entre as empresas líderes, é preciso fôlego para acompanhar os prazos, descontos e investimentos praticados neste mercado."

 

            Isso acaba afetando o resultado da empresa, diz. "No entanto, a Ranbaxy é mundialmente reconhecida por sua eficiência em custos e ainda que seja preciso investir pesadamente no mercado, a empresa será capaz de oferecer preços competitivos", aposta. A maior parte da matéria-prima usada nos produtos é fabricada pela própria empresa.

 

            A Ranbaxy, que tinha quase 3% do mercado de genéricos em junho, faturou US$ 23 milhões no ano passado e prevê vendas em torno de US$ 30 milhões para 2006. Sua linha de produtos é composta por 56 moléculas em mais de 130 apresentações.