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Exame reprova 56% dos formandos de medicina de SP

            Mais da metade dos alunos do sexto ano de medicina que participaram da avaliação feita pelo CRM SP (Conselho Regional de Medicina de São Paulo) foi reprovada neste ano.

            Com apenas 44% de aprovados entre os 833 que participaram do exame, o desempenho é pior do que o registrado no ano passado, quando 62% dos 688 inscritos passaram. Em 2005, o índice de aprovação foi de 69% entre 998 estudantes.

            O exame do conselho é voluntário, não tem caráter punitivo e a reprovação não impede o exercício da medicina.

            Para o CRM, os resultados mostram que o ensino de medicina no Estado é deficiente e expõe a população a riscos. "A abertura indiscriminada de cursos não foi acompanhada de qualidade. Faltam corpo docente e infra estrutura adequados", diz Henrique Carlos Gonçalves, presidente do CRM.

            A instituição defende a implantação de um exame de ordem. "O exame deveria ser até mais rigoroso que o da OAB", diz Braulio Luna Filho, conselheiro do CRM e coordenador da prova de qualificação.    "Se um bacharel em direito não for aprovado, ele não irá trabalhar como advogado, mas poderá prestar concurso e atuar. No caso da medicina, deveria ficar fora da área, como nos Estados Unidos", diz.

            "Temos que cuidar da qualidade dos médicos que as escolas estão formando", concorda Roberto de Queiroz Padilha, diretor do IEP (Instituto de Ensino e Pesquisa) do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo.

            Participaram do exame, realizado em duas etapas, em setembro e outubro, 833 de 2.200 alunos de 23 escolas do Estado. As outras oito escolas não fizeram a prova por terem sido abertas há menos de seis anos.

            A USP foi a mais bem colocada: 90,8 % dos 76 que fizeram a prova foram aprovados. Na outra ponta está a Universidade de Marília, em que os dez inscritos no exame não passaram.

            A primeira etapa, com 120 questões, abordava as áreas de pediatria, ortopedia, ginecologia, obstetrícia, cirurgia geral, clínica médica, saúde pública, saúde mental, bioética e ciências básicas. Para passar à segunda fase, era preciso acertar 60%. Foi nessa etapa que ocorreu a reprovação de 56%.

            Na segunda prova, todos foram aprovados.

            O quadro é mais crítico nas áreas de ginecologia (média de acerto de 49,1%), clínica médica (50%) e pediatria (50,4%). Em uma pergunta sobre diagnóstico e tratamento da asma, houve 13% de acerto. Em pediatria, só 32% acertaram um diagnóstico de pneumonia.

            Para Luna Filho, o resultado é preocupante porque, em geral, são as especialidades mais requisitadas nos prontos socorros, onde a maioria dos recém formados vai trabalhar.

 

Para USP Ribeirão, resultado é positivo

 

 

            Cursos conceituados na área, como o da Unicamp e o da USP de Ribeirão Preto, que tiveram índice de aprovação no exame do Cremesp na faixa dos 50%, não consideram o resultado representativo ou preocupante.

            "O percentual dos estudantes presentes é muito baixo para refletir o que é a medicina da Unicamp", diz Angélica Maria Bicudo Zeferino, coordenadora do curso. "Não são todos os nossos alunos que são de excelência e, como o universo avaliado é muito pequeno, somente nove pessoas, não podemos tomá lo como parâmetro."

            O presidente da comissão da graduação da faculdade de medicina da USP Ribeirão, Luiz Ernesto de Almeida Troncon, considera o resultado positivo. Segundo ele, o fato de a instituição ser a quarta mais bem colocada mostra o investimento feito na escola.

            Com índice de aprovação de 85,7, a Unifesp teve 14 participantes. "O exame é punitivo, porque não permite que o estudante repare os seus erros ao longo do curso", afirma Bruno Ferreira Funchal, coordenador geral do Centro Acadêmico Pereira Barreto, da Unifesp.

            "Sabemos quais são as escolas ruins, mas elas não são fechadas. Quem acaba sendo punido é sempre o estudante", afirma Mauricio Braz Zanolli, coordenador da Associação Brasileira de Educação Médica de SP. Ele defende uma avaliação contínua.