Falta de médicos no País
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Dos 5.564 municípios brasileiros, 455 não contam com um único médico da saúde pública durante os 365 dias do ano. Na Região Sudeste, faltam profissionais em 111 municípios. No Sul, o número sobe para 116. O problema é mais grave no Nordeste, onde 177 cidades não têm médico. Em sua grande maioria, são cidades pequenas, pobres e distantes das capitais e grandes centros econômicos.
O levantamento foi feito pela pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), sob encomenda do Ministério da Saúde, e divulgado no encontro da Global Health Workfare Alliance (GHWA), que ocorreu no fim de semana
Os números refletem a dificuldade das Secretarias Estaduais de Saúde de encontrar médicos dispostos a trabalhar em municípios pequenos e longínquos, onde não há laboratórios de análises clínicas, prontos-socorros equipados e centros cirúrgicos. Entre as especialidades com maior carência, aponta o estudo da UFMG, estão a anestesiologia, a psiquiatria, a medicina intensiva e, principalmente, a pediatria. No Nordeste, 42% dos hospitais públicos disseram ter dificuldade para aumentar o quadro de anestesistas e de pediatras. No Sul, 25% têm o mesmo problema. Para os especialistas, a falta de médicos não decorre somente do número insuficiente de profissionais formados anualmente pelas 176 faculdades de medicina existentes no País – número menor apenas do que o da Índia. Tão grave quanto esse problema é a falta de atrativos financeiros e profissionais que estimulem os médicos a atuarem no interior, onde ganham pouco, as condições de trabalho não são as ideais e não há acesso a informações especializadas numa área do conhecimento que vem se expandindo cada vez mais rapidamente. A má distribuição de médicos tem um impacto direto nos indicadores de saúde. A falta de atendimento básico, por exemplo, é um dos fatores que concorreram para a epidemia de dengue que assola o País nos períodos de chuva. Hoje também começam a faltar profissionais dispostos a trabalhar nas favelas das capitais e nas periferias das cidades de médio e grande portes, afetadas pela violência e com precária infra-estrutura. Para enfrentar o problema, o Ministério da Saúde concebeu três programas. O primeiro é o Pró-Saúde, que busca treinar médicos para a rede pública.O segundo é o Telessaúde, programa pelo qual os centros de excelência clínico-hospitalar das grandes cidades oferecem aos médicos dos municípios mais longínquos, pela internet, educação continuada e uma "segunda opinião", ajudando-os nos diagnósticos. O terceiro é o Programa Saúde da Família (PSF), que funciona há aproximadamente 15 anos. Mesmo assim, cerca de 35% dos municípios brasileiros permanecem até hoje sem atendimento pelas equipes do PSF. Embora o governo já tenha prometido adotar plano de carreira e benefícios salariais para estimular os médicos da rede pública a trabalharem em pequenas localidades, muito pouco foi feito até hoje. A última medida anunciada pelo governo foi a criação de fundações estatais de direito privado, que teriam a flexibilidade jurídica para contratar médicos para os municípios. No entanto, apesar de a proposta ter sido muito bem recebida pelos especialistas, o governo até hoje não mobilizou a bancada situacionista na Câmara e no Senado para aprová-la. Sem essa iniciativa, o problema da insuficiência de médicos e da má distribuição desses profissionais em todas as regiões do País continuará sem solução.
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