Se a rede de hospitais filantrópicos fosse comparada a um paciente, o diagnóstico seria desesperador. O quadro clínico: 13 estabelecimentos fechados nos últimos anos, dívidas de R$ 1 bilhão, mais de 10 mil trabalhadores demitidos e ameaça de falência rondando 17 hospitais.
Para evitar que a situação de agonia evolua para a unção dos enfermos, será lançado amanhã um mutirão para tirar os filantrópicos da crise. A gravidade do apelo pode ser medida pela mobilização: de forma inédita, os donos de hospitais receberam o apoio de médicos, trabalhadores em saúde, prefeitos e autoridades.
Batizado de Mutirão para Salvar a Assistência pelo SUS, o ato começará na Assembléia Legislativa, no Teatro Dante Barone. Depois, os participantes irão ao Palácio Piratini pedir que a governadora Yeda Crusius lidere a campanha para restabelecer o setor. De imediato, os filantrópicos querem 82% de aumento na tabela do Sistema Único de Saúde (SUS) que remunera os serviços hospitalares – o equivalente a mais de R$ 42 milhões por mês.
Estado e comunidade apóiam a mobilização
Presidente do Sindicato dos Hospitais Beneficentes, Religiosos e Filantrópicos, Julio Dornelles de Matos alerta que as dificuldades se agravaram a partir do Plano Real. Entre 1994 e 2006, o SUS reajustou os serviços médicos e hospitalares em 37,3%. Atualmente, paga R$ 4,91 por um exame de Raio X. No entanto, a inflação do período ultrapassou os 400%. Os hospitais alegam que o custo do Raio X é de R$ 27,58.
Matos observa que a rede não tem o lucro por objetivo, foi criada pela comunidade para suprir um vazio do Estado. Ressalta que foi sobrecarregada nos últimos anos – é responsável por mais de 70% das internações pelo SUS -, enquanto os hospitais públicos e privados se retraíram. Como a tabela do SUS congelou, os filantrópicos se debilitaram.
A cruzada ganhou aliados. Um dos diretores do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), Sami El Jundi, lembra que grande parte da categoria atua nos filantrópicos como autônomo, contratado ou empregado. Em qualquer dos regimes, sofre os efeitos da crise.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Saúde (Sindisaúde), João Menezes, destaca que os os funcionários são os mais afetados. Desde 2002, 10 mil foram despedidos. Quem ficou não tem garantias de receber em dia.
– Cerca de metade está com algum tipo de atraso no salário – reclama Menezes.