Mãe das trigêmeas Maria Alice, Vitória Regina e Ana Beatriz, a costureira Débora Nascimento, de 26 anos, recorreu a uma das 126 instituições brasileiras que atendem gestantes de alto risco. No Hospital Municipal Maternidade Escola Vila Nova Cachoeirinha, que atende anualmente 6 mil mulheres nessas condições, ela se diz surpresa com o atendimento. “É maravilhoso poder ficar com as minhas filhas todo o tempo”, diz a mamãe de primeira viagem, que pode ver as prematuras de 7 meses a qualquer momento.
Antes do parto, Débora ficou por 15 dias na Casa da Gestante, uma ala do hospital que abriga as grávidas por tempo indeterminado, de acordo com o grau de risco da gestação, o que facilita seu acompanhamento diário.
Segundo o diretor do centro médico, José Carlos Riechelmann, as doenças que geralmente transformam a gravidez em alto risco são a diabete, as alterações anatômicas do útero e a hipertensão.
Esse foi o caso de Rosângela Ferreira, de 22 anos. Hipertensa, ela foi encaminhada a esse hospital da zona norte por causa do rompimento da bolsa e, após o parto, recebe a orientação de enfermeiras, médicos, fonoaudiólogos e, se necessário, fisioterapeutas e psicólogos. “Aprender a cuidar e ter esse contato com o meu bebê é muito bom”, afirma, enquanto acaricia o pequeno Jonathan.
Riechelman diz que os profissionais conseguem manter recém-nascidos de 6 meses com apenas 700 g. Nesses casos, superam o maior problema, as infecções, já que o sistema imunológico do bebê prematuro é deficiente.
Apesar dos bons resultados alcançados pelo hospital, ele ressalta que a “vergonhosa” taxa de mortalidade no Brasil é regional: “Temos taxas de países desenvolvidos em Estados desenvolvidos.”
Sem assistência, 500 mil mulheres morrem todo dia
A maioria dessas mortes, causadas por complicações relacionadas à gravidez, poderia ser evitada
BRASÍLIA – Embora a Conferência do Cairo tenha dado grande ênfase à necessidade de garantir a saúde feminina, pouco se conseguiu avançar, ao longo dos últimos dez anos nesse campo. Atualmente, mais de 500 mil mulheres morrem todo dia de complicações relacionadas à gravidez – número que corresponde a uma morte por minuto. “Este índice não mudou, desde o consenso”, constata a encarregada do Fundo da População no Brasil, Tania Patriota.
Grande parte das mortes poderia ter sido evitada com o acesso a partos assistidos e cuidados obstétricos de emergência. O relatório da ONU mostra que a pobreza está intimamente ligada ao problema. O risco de uma mulher morrer durante a gestação ou parto na África Ocidental é de 1 em 12. Em países desenvolvidos, o risco é de 1 em 400. O trabalho revela ainda que as diferenças ocorrem mesmo dentro de um mesmo país. No Nepal, por exemplo, a taxa de partos assistidos por técnicos de saúde é elevada entre as camadas mais favorecidas da população, enquanto entre camadas mais pobres essa assistência é extremamente rara.
“Os números comprovam algo que há tempos vem sendo defendido: é preciso melhorar o acesso ao planejamento familiar e garantir a assistência obstétrica”, diz Tania. Ela observa, no entanto, que vários países passaram a ampliar as opções de método de planejamento familiar.
Apesar de uma relativa melhora, a doação de produtos usados na saúde reprodutiva diminuiu. De acordo com o relatório, entre 2000 e 2015, estima-se um aumento de 40% no número de usuários de contraceptivos de países em desenvolvimento.
Outro problema que chama a atenção da ONU é a gravidez precoce. “Problemas obstétricos são a principal causa de morte entre 15 e 19 anos. Sem contar que, quanto mais cedo mulheres têm filhos, maior o risco de elas abandonarem os estudos. A idéia não é reduzir o número de gestações, mas retardá-las.”