Os hospitais estão deixando de ser meros prestadores de serviços a pacientes internados e começam a investir em atendimentos em consultórios hospitalares, que cresceu 18% no último ano, passando de 5.545 consultas para 6.544. “A busca por uma nova fonte de receita é um dos caminhos para manter a estrutura viável”, afirma Adriano Mattheis Londres, vice-presidente da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp).
Segundo Londres, fatores como a redução da média de permanência nos hospitais explicam essa tendência. "Em 2004, cada paciente internado ficava 4,03 dias no hospital; hoje, a média é de 3,93 dias por paciente". Além disso, o número de consultas de emergência que geram internação também caiu. Dados da Anahp mostram que, em 2004, 8,2% das consultas levaram a internação. Em 2006, esse número caiu para 6,2%.
"Por isso, não temos grandes aberturas de hospitais, mas sim expansão da área de atendimento de unidades já consolidadas", diz Londres. A Maternidade Pro Matre, em São Paulo, é um exemplo. Paralelamente à reforma do hospital, que consumiu recursos de R$ 25 milhões e foi encerrada com 83 leitos, sendo 60 normais e 47 da UTI (unidade de terapia intensiva) neonatal, a empresa está investindo na construção de um novo edifício, exclusivo para atendimento. A Pro Matre ainda não divulga o valor investido.
Focos de investimento
Assim como os consultórios, as áreas de UTI também têm recebido atenção de investimentos das redes hospitalares. "A UTI é uma grande geradora de recursos e demanda, especialmente agora que a população brasileira está envelhecendo mais", diz Londres.As taxas de internação em UTI têm apresentado queda nos últimos anos. Em 2002, 16,4% dos pacientes internados necessitavam de cuidados intensivos. No último ano, esse número foi de 11,7%. A evolução técnica na detecção de tratamento de doenças são alguns dos fatores que explicam essa mudança. No entanto, os índices de ocupação nas UTI continuam altos: 69,6%, em 2005, contra 66,2%, em 2004.
Qualidade e certificação
Londres destaca, porém, que a forma mais eficiente de aumentar a receita é investir em qualidade. Certificados de acreditação como o ONA (Organização Nacional de Acreditarão) e o da Joint Commission International (JCI) colocam as redes de hospitais na mira
Apenas três hospitais brasileiros já foram certificados pela JCI, o Samaritano, o Hospital Israelita Albert Einstein, ambos de São Paulo, e o Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre. O próximo na lista da JCI será o HCor – Hospital do Coração.
Informações do sistema de Indicadores Hospitalares da Anahp mostram que os convênios médicos são a maior fonte geradora de receita dos hospitais. Na região Sudeste, os convênios respondem por 88% do faturamento, contra 11% de particulares e apenas 1% do Sistema Único de Saúde (SUS).
Entre as operadoras de saúde complementar, a medicina de auto-gestão responde por 46,8% do faturamento da demanda; seguido das seguradoras, com 20,3% e da medicina de grupo, 26,3%. As cooperativas têm a menor participação, 6,6%
Gestão do desempenho é o principal desafio
O uso de ferramentas de Business Intelligence (BI) deve crescer nos próximos anos no setor hospitalar. O gerenciamento da informação se tornou a principal aliada estratégica para os prestadores de serviços da saúde. O tema foi debatido durante o 7° Fórum da Associação Nacional dos Hospitais Privados, realizado na semana passada, em São Paulo.
Segundo Sergio Bento, superintendente financeiro do Hospital Samaritano, de São Paulo, o uso de ferramentas de tecnologia da informação e comunicação (TICS) no mercado de saúde tem avançado, mas lentamente. "Nos últimos anos entendemos que estávamos na era da informação e passamos a acumular dados em nossos servidores. No entanto, é necessário distinguir quantidade versus qualidade."
Segundo o executivo, o volume de dados neste mercado é grande e a maioria dos hospitais não está preparada para lidar com o gerenciamento da informação assistencial. A necessidade de investimento parte especialmente da mudança de formato de remuneração. A remuneração atual praticada no mercado hospitalar é o pagamento por serviço (fee for service). Com a proposta de alteração para pagamento por pacotes ou por performance, que exige detalhamento de dados, o uso de sistemas que apurem o custo por departamento ou procedimento é fundamental.
No Hospital Samaritano, a evolução do sistema de custo hospitalar para avaliação de desempenho do negócio teve sua primeira fase de implantação em 1995, com a apuração do custo departamental. Em 2002, a segunda fase contemplou a implantação de conceitos de margem de contribuição e resultados por atividade. "Criamos o conceito de negócio assistencial, com apuração do resultado direto de cada unidade, ou seja, adotando o conceito de margem de contribuição." Em 2004, o hospital evoluiu do sistema de custo hospitalar para um sistema de avaliação de desempenho do negócio, passando a formatar pacotes e diárias globais com a utilização da ferramenta BI.
O Samaritano deve iniciar a quarta fase da implantação com a adoção do custeio por processos e atividades. Por ter custo elevado, ainda não há previsão do início de implantação deste conceito (curva ABC), que deve ocorrer em médio prazo.