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Interior sofre com a falta de especialistas

Pelo menos mil municípios brasileiros, o equivalente a 20% do total, não contam com um médico sequer, segundo o Ministério da Saúde. No Paraná, embora a situação seja melhor, a falta de médicos especialistas é uma pedra no sapato dos gestores municipais. Os médicos alegam que o mercado das capitais e municípios de grande porte é mais competitivo. Mesmo cidades-pólo do estado, como Maringá, Londrina e Cascavel, que têm faculdades de Medicina, não conseguem atrair especialistas. O resultado são listas de espera em que pacientes aguardam meses por uma consulta.

Cascavel, no Oeste do Estado, tem dois cursos de Medicina – um particular e outro estadual. Apesar da aparente oferta de mão-de-obra, o diretor de Atenção à Saúde, da Secretaria Municipal, Rubens Griep, revela que as principais carências estão nas áreas de neurologia, oftalmologia, reumatologia, cirurgia vascular e psiquiatria. Em alguns casos, a espera por uma consulta pode demorar oito meses. Segundo Griep, a prefeitura da prioridade ao atendimento de casos mais graves, e não de quem está em primeiro na lista.

Até para as especialidades exigidas no sistema básico de saúde pelo Ministério não há profissionais disponíveis. Segundo o secretário de Saúde de Cascavel, Nadir Willi, apenas 41 profissionais se inscreveram para concorrer às 49 vagas abertas em concurso realizado no último domingo para contratar ginecologistas, clínicos gerais e pediatras. “Esse é o quinto concurso que estamos fazendo”, comenta Willi.

Pacientes do sistema público de Maringá, no Noroeste, têm dificuldade para encontrar profissionais disponíveis nas áreas de dermatologia, neuropediatria e reumatologia – para a realização de consultas – e de otorrinolaringologia – nos procedimentos cirúrgicos. Apesar disso, o secretário de Saúde do município, Antônio Carlos Nardi, diz que Maringá superou as dificuldades e se tornou um “centro de excelência” quando se fala em especialidades médicas, porque se agrupou ao consórcio de saúde e aumentou os investimentos no setor, que chegam a 19,8% do orçamento municipal.

O meio encontrado pela prefeitura de Londrina, no Norte, de reduzir a demanda na maioria das especialidades, foi a execução de um projeto de regulação. Segundo a secretária municipal, Marlene Zucoli, o caso de cada paciente é analisado para identificar se é realmente necessário o encaminhamento para um especialista. Se a resposta for positiva, os próprios médicos dos postos, que muitas vezes têm títulos de especialistas, trocam informações para agilizar o atendimento. O protocolo é seguido há cerca de um ano e diminuiu a lista de espera das principais especialidades. Hoje, ainda há carência nas áreas de ortopedia e otorrinolaringologia, cuja espera chega a cinco meses para as consultas, mas, conforme Marlene, o projeto de regulação está sendo expandido para essas duas áreas.

Em Ponta Grossa , nos Campos Gerais, não há faculdade de Medicina. Mas a cidade está a apenas 107 quilômetros da capital, que concentra o maior contingente de médicos. O Centro Municipal de Especialidades, que também atende pacientes da região, registrou somente mês passado 9,8 mil consultas, que foram feitas por 55 especialistas. Devido à quantidade reduzida de médicos, que deve ser suprida por um novo concurso em andamento pela prefeitura, muitos pacientes esperam mais de um mês para ser atendidos. Apesar de a coordenadora do Centro, Rejane Kossatz, afirmar que o tempo médio de espera é de 40 dias, há pacientes que demoram até três meses para conseguir um especialista.

A dona de casa Odircia Mendes Rosa, 40 anos, sofre de bronquite asmática e só depois de três meses após ter procurado o Centro Municipal pela primeira vez, pôde ser medicada por um pneumologista. “Enquanto isso, eu fiquei tomando remédios mais fracos, mas que não resolviam meu problema”, afirmou. O retorno, que estava previsto para abril, ocorreu apenas nesta semana. “É muito concorrido”, comenta.

 

Municípios driblam déficit com consórcios

 

As prefeituras que enfrentam problemas para preenchimento de vagas de especialistas contratam médicos para atender a toda uma região, por meio dos consórcios intermunicipais de saúde. No Paraná, há 22 consórcios. Eles são mantidos por convênios entre as prefeituras, que entram com contrapartida de recursos. O valor varia de acordo com o número de habitantes. As cidades também recebem verbas do Estado e da União.

Os médicos são pagos pela tabela do SUS. Por ano, segundo a Secretaria de Estado da Saúde, são enviados aos consórcios R$ 6,6 milhões para convênios e R$ 25 milhões para consultas. O superintendente de Gestão de Sistemas de Saúde da secretaria, Irvando Carula, explica que o consórcio é uma boa alternativa principalmente em municípios pequenos, onde não existem estruturas de hospitais e clínicas.

 

Maioria dos formados tem especialidade

 

Dos 16 mil médicos que trabalham no Paraná, 60% têm pelo menos uma especialidade, conforme o Conselho Regional de Medicina (CRM). Há ainda 1.470 residentes em formação. Depois dos seis anos do curso, a residência que atribui ao recém-formado um título de especialista dura cerca de dois anos. Durante esse período, ele não pode clinicar como especialista, embora possa atuar como clínico geral.

Apesar de alguns gestores públicos defenderem o emprego de residentes para a redução do déficit de especialistas no interior, o presidente da Comissão Estadual de Residência Médica do CRM do Paraná, João Carlos Simões, argumenta que isso seria uso de mão-de-obra barata. “O residente precisa de um médico preceptor que o ampare, porque ele está em formação e não recebe honorários para isso”, lembra.

O superintendente de Gestão de Sistemas de Saúde da Secretaria de Estado da Saúde, Irvando Carula, concorda com Simões. “O residente é um estudante e não um trabalhador”, aponta. Ele acrescenta que não há como convencer os médicos a se fixarem no interior porque o país é democrático. “Não estamos em Cuba, estamos no Brasil e o médico pode trabalhar onde escolher”, comenta.

A residência médica esteve em discussão semana passada em Curitiba durante o 1º Congresso de Médicos Residentes do Paraná, que começou na quinta, numa iniciativa do CRM que reuniu vários conferencistas..

Embora a distribuição de médicos pelo interior não esteja relacionada à existência de faculdades, já que o profissional pode escolher a cidade em que irá trabalhar depois de formado, o Ministério da Saúde está incentivando a abertura de escolas médicas em regiões onde há escassez de profissionais em todo o país. A respeito das especialidades, segundo a assessoria de imprensa do Ministério, não há projetos de interiorização.

 

 

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