Nem sempre é fácil lidar com um transtornado mental. Chamado de louco, o indivíduo muitas vezes é afastado da sociedade, e a falta de informação faz com que a própria família tenha dificuldades para conviver com esse tipo de doença. Para esclarecer a população, a Semana da Luta Antimanicomial no Distrito Federal, que termina hoje, realizou debates, minicursos, exibição de filmes e palestras visando à inclusão social e tratamentos mais humanos.
O movimento pretende divulgar a Reforma Psiquiátrica, que visa oferecer melhores condições de tratamento para transtornados mentais. A idéia é ajudar o doente reinserindo-o na sociedade, ao invés de isolá-lo em manicômios, que é o que se costuma fazer.
Não ao preconceito
A luta antimanicomial está integrando, pela primeira vez, instituições públicas (Secretaria de Saúde do Distrito Federal, Hospital São Vicente de Paulo e Ministério da Saúde), ONGs e universidades. A Semana é uma comemoração anual da superação dos manicômios, pela aceitação das diferenças e inclusão social dos que sofrem transtornos mentais e contra a exclusão e o preconceito.
Segundo Henriqueta Camarotti, assessora especial de saúde mental e coordenadora do Colegiado de Saúde Mental da Secretaria de Saúde, essa é a primeira vez, após oito anos, que as normas da Reforma Psiquiátrica são adotadas como padrão de tratamento desses problemas.
Ela afirma, ainda, que a reforma no Brasil inclui a potencialização dos Centros de Apoio Pssicossociais (Caps), a residência protegida – abrigo de pacientes que perderam o contato com os familiares e precisam de ressocialização -, e a equipe matricial de saúde mental na regional de saúde – que inclui psiquiatra, psicólogo e assistente social atuando na sociedade.
Canal informativo
O Hospital São Vicente de Paulo (HSVP) tem um importante papel na Semana da Luta Antimanicomial, que é o de criar um canal informativo entre a sociedade e as necessidades da Reforma Psiquiátrica. Hoje, o hospital, que realiza em torno de 35 mil consultas psiquiátricas por ano, trabalha para alinhar a política de tratamento de transtornos mentais do DF com a do Ministério da Saúde.
Segundo Ricardo Lins, diretor do hospital, o atendimento manicomial cerceia a liberdade do transtornado, e o afasta da sociedade. No DF não há manicômios, mas ainda existe forte influência desse tipo de tratamento. O HSVP, que funciona
Ainda segundo Ricardo Lins, há também a necessidade de se criar uma rede de atendimento em todo o Distrito Federal, que dividiria os pacientes de acordo com suas necessidades.
Os cozinheiros que trabalham na Cantina Terapêutica do Hospital São Vicente de Paulo são também pacientes. Na lanchonete eles têm a oportunidade de conviver e trabalhar, apresentando melhoras em seus transtornos emocionais por meio de laços de amizade e estímulos para o crescimento pessoal.
Narcisa Silia Marinho faz acompanhamento psiquiátrico no hospital há 18 anos. Já fez tratamento
Ela teve muitas dificuldades para conseguir um emprego e se inserir na sociedade, o que provocou crise nervosa grave e a levou a tentar suicídio. "Sofri muito com o preconceito", garante. O serviço na lanchonete a fez progredir e sentir-se muito bem e capaz, tanto que espera um dia trabalhar numa cozinha fora do HSVP. "Faço de tudo: sorvetes, tortas e salgados em geral", conta. Como cozinheira, Narcisa pôde montar a casa e fez amizades. "Somos uma família aqui", declara. Os colegas concordam.
Já Maria de Lourdes da Silva Neto mora com a mãe. É casada e tem uma filha pequena. Devido a seus transtornos, também teve dificuldades de se integrar à sociedade. Trabalha na cantina e é paciente do hospital há cinco anos. Maria diz que fazer amizades a ajudou a lidar com a síndrome do pânico. "Antes eu me sentia muito triste, querendo ficar sozinha", desabafa.