O Paraná perdeu ontem mais um hospital psiquiátrico. A Casa de Saúde Nossa Senhora da Glória, fundada há 60 anos e que há década e meia funcionava numa grande área no bairro Cachoeira, divisa de Curitiba e Almirante Tamandaré, fechou as suas portas nesta segunda-feira (31 de outubro), dando agilidade à transferência dos últimos pacientes. Os 89 leitos remanescentes foram desativados e os 50 funcionários estão sendo demitidos. O prédio e a área do hospital não tiveram uma finalidade decidida, mas, com certeza, devem estar comprometidas com as dívidas, sobretudo trabalhistas. O vínculo com o SUS há muito vem decretando prejuízos por conta dos baixos valores pagos – cerca de R$ 28 por uma diária que inclui hospedagem, higienização, serviços médicos e de enfermagem, cinco alimentação, roupas, remédios e uma série de cuidados especiais, incluindo atividades de recreação e ressocialização. A desintegração da estrutura hospitalar psiquiátrica está prevista na reformulação da política de saúde mental no país. Contudo, a assistência prevista com os Centros e Núcleos de Atenção Psicossocial (Caps e Naps) ainda é embrionária. O Paraná deveria ter cerca de 170 destas unidades em funcionamento. Não tem 10% em condições satisfatórias. Em contrapartida, dos 28 hospitais psiquiátricos que existiam no Estado, a metade ainda sobrevive. Ou melhor, agoniza.
Os últimos a fechar foram o São Marcos, de Cascavel; Pinheiros, de São José dos Pinhais; e Franco da Rocha, de Ponta Grossa. Outros foram reduzindo seus leitos para o sistema público. Pacientes e familiares sofrem, especialmente porque há pouca ou quase nenhuma perspectiva de uma assistência eficaz. As filas só fazem aumentar no centro de triagem metropolitano, assim como a lista de ocorrências trágicas do cotidiano das cidades. Expressivo percentual de homicídios domésticos ou de agressões nas ruas envolve pessoas que estavam ou deveriam estar sob tratamento psiquiátrico. A defesa de um tratamento mais humano criou uma legião muito maior de excluídos do sistema público. Entre os dependentes químicos, a possibilidade de assistência sob a proteção do SUS é contida. Quase um “prêmio de loteria”.
Há alguns meses, alertada pela Fehospar, a imprensa chamou a atenção para o problema da desassistência na área de saúde mental e o sério risco de fechamento de todos os hospitais psiquiátricos. Os que resistem ingressam ainda em novembro com nova ação judicial cobrando reciprocidade do governo federal. É uma corrida contra o tempo. E 2006 pode ser o ano do fim não só dos hospitais com alguma característica asilar, como prega a reforma psiquiátrica. Pode ser o das portas fechadas àqueles que necessitam da gratuidade da assistência na especialidade. Os hospitais-dia privados tendem a buscar outras alternativas de sobrevivência, já que não são em nada poupados quando cobrados em sua carga tributária ou em suas funções profissionais ou sociais.
Covardia
Pobre da nação que joga dinheiro no lixo com uma campanha como a do desarmamento e deixa hospitais psiquiátricos fecharem, despejando doentes nas ruas. Malditos sejam os governantes que enxergam, mas cobrem os olhos para situações deprimentes como essa. E amaldiçoados devem ser todos aqueles que viram as costas, fingindo que o problema não é com eles e se omitem como cães covardes. Onde está o nosso governador paladino que permite com que isso aconteça sem, pelo menos, fazer o que sempre faz: esbravejar. E só…