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Minas Gerais: Pediatria entra em crise

A falta de pediatras na rede pública e na área de convênios mobiliza entidades de classe e abre o debate sobre essa importante especialidade médica. Preocupados com o fechamento dos serviços para atender crianças em hospitais e com a pouca valorização da profissão, representantes do movimento nacional SOS Pediatria, que reúne as sociedades Brasileira e Mineira de Pediatria, Conselho Regional de Medicina, Associação Médica de Minas, Sindicato dos Médicos e Associação Nacional de Médicos, querem discutir a questão e buscar soluções. Segundo eles, as condições de trabalho não atraem mais profissionais em número necessário.

 

De acordo com diretor de Defesa Profissional da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Mário Lavorato, o problema é nacional e só será resolvido quando houver mudanças no modelo de assistência. Atualmente, as áreas da medicina em que os serviços são bem pagos envolvem procedimentos complexos e que contam com recursos de alta tecnologia, como cirurgias e exames. Como na pediatria muitos casos têm solução rápida, a especialidade não assegura grande retorno financeiro aos hospitais.

 

Por isso, muitos interromperam o atendimento na pediatria. O último em Belo Horizonte foi o Hospital Life Center. “Houve contratação de muitos pediatras, alguns até deixaram seus empregos para criar o serviço no Life Center, mas depois foram dispensados”, garante o diretor da SBP, Mário Lavorato. O Life Center informou, em nota oficial, que o encerramento das atividades no setor de pediatria foi justificado pela “adequação ao planejamento estratégico do hospital, cujo foco passou a ser os procedimentos de alta complexidade”. O hospital investiu na abertura dos centros de cardiologia, hemodinâmica, neurologia, neurocirurgia e oncologia.

 

O Mater Dei é um dos poucos hospitais que mantêm o atendimento completo na área de pediatria – três consultórios para pronto atendimento, exames 24 horas, ala reservada a internação e brinquedoteca. Apesar de não ser um setor é rentável, o objetivo é oferecer atendimento integral à família. “A pediatria não é uma área que dá lucro, mas mesmo assim a mantemos, porque a criança de hoje será o adulto de amanhã. Se for bem atendido desde pequeno, poderá criar um vínculo com a instituição. Não vemos a situação de uma forma isolada. A partir da consulta com o pediatra, outros atendimentos podem surgir”, explica o diretor-clínico do Mater Dei, Henrique Salvador.

 

Retorno
Para os pediatras que trabalham em consultórios a situação é ainda mais difícil. Segundo o diretor da Sociedade Brasileira, Mário Lavorato, só em impostos o profissional gasta 40, 6% do que ganha. Pela própria fragilidade das crianças, muitas vezes o pediatra precisa marcar a segunda consulta – até 30 dias depois da primeira avaliação, o que é considerado um retorno – sem ser remunerado.

 

Um levantamento feito por empresa de consultoria mostrou que 27% das consultas prestadas por pediatras são consideradas retornos. “A tendência é que cada vez mais a prevenção seja valorizada e isso é o que os pediatras fazem, acompanhando a saúde das crianças. É preciso que o pediatra seja valorizado, pois, caso contrário, toda a sociedade vai sofrer com a falta desses profissionais. Atualmente, por causa desses problemas, a procura por essa especialidade já tem diminuído nas vagas de residência médica”, afirma Mário Lavorato.