O escritor inglês Thomas Morus não criou apenas a palavra ‘utopia’, mas também ‘eutopia’. Enquanto utopia significa país imaginário, projeto irrealizável, quimera, fantasia, eutopia quer dizer lugar bom, perfeito, ideal. Por que só a primeira pegou é algo que merece ser investigado.
Isso foi em 1516. Fazia apenas 16 anos que Cabral e seus homens tinham descoberto a Terra de Santa Cruz, lugar “onde se plantando tudo dá”, um paraíso, como sonhavam os europeus do Renascimento, cansados das experiências civilizatórias do Velho Mundo, mas confiantes que as ciências nascentes dariam respostas aos complicados desafios da vida humana em sociedade.
Cinco séculos passados, muitas e muitas revoluções, eis-nos às voltas com os problemas de sempre: intolerâncias, desequilíbrios, disputas mortais, obscurantismos, dominações, carências, desigualdades, incapacidade de se utilizar toda a ciência acumulada em prol de um plano de felicidade comum. Enfim, o sonho quinhentista de que era racionalmente possível criar um ambiente social tranqüilo e progressista escapa sempre como um objetivo inatingível, inacessível, utopia mesmo.
Mas a eutopia, de repente, é possível. Pode pelo menos ser perseguida. Não estamos fazendo outra coisa, nesse momento nacional, a não ser debatendo alternativas para transformar nosso país em um bom lugar, por meio da escolha de legisladores e governantes capazes. Melhor, assim deveria ser a campanha eleitoral que, infelizmente, termina girando ao redor do que menos importa. O debate de propostas cede espaço a elementos que pouco contribuem à decisão dos eleitores. A única coisa que precisamos saber é da competência dos candidatos, não exatamente para fazer o que cabe a cada cidadão, mas para criar um ambiente favorável ao desenvolvimento, facilitar e liderar a busca de respostas para os desafios coletivos.
Precisamos de alternativas, por exemplo, para a geração de empregos e para a melhoria do padrão salarial dos empregados; com a mesma urgência, de soluções para retirar da informalidade cerca de cinco milhões de pequenas empresas e apoiar quase outro tanto de empresas legalizadas, mas que têm sérias dificuldades para sobreviver, não suportando as exigências oficiais, principalmente a carga excessiva de tributos, taxas, contribuições.
A fomentação do trabalho é uma das principais responsabilidades da ordem pública. São as atividades produtivas que geram divisas, renda, meios diretos e indiretos para mudanças essenciais. Uma política econômica ousada e bem conduzida pode provocar um salto de qualidade à vida de toda a população, que ganha a oportunidade de libertar-se de dependências indevidas, como vem ocorrendo por meio de programas assistencialistas, uma estratégia eleitoreira.
Cabe aos governos e legisladores que estão saindo das urnas a missão de mudar as regras do jogo econômico, aliviando os impostos, incentivando os empreendedores, valorizando o trabalho e o estudo. Amplos investimentos em educação são decisivos. Como pode disputar um bom emprego quem não tem escolaridade mínima para um mercado que já exige o segundo grau para as funções mais simples? Sem isso, não há como cultivar a esperança de dias melhores.
Nossa preocupação é a de profissionais que acompanham a maneira como a gestão pública vem sendo feita, a falta de planejamento, os gastos exagerados, a irresponsabilidade, apesar da Lei de Responsabilidade Fiscal. Da mesma forma como possui ferramentas para fundamentar o crescimento das empresas, a contabilidade tem também instrumentos para tornar eficiente e transparente a gestão pública, desde que em sua direção estejam homens públicos íntegros e competentes.
Maurício Fernando Cunha Smijtink é Contador, empresário da contabilidade e presidente do CRCPR
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