A Polícia Federal prepara uma nova relação com nomes de cerca de cem deputados que teriam se beneficiado dos esquemas de desvios de verbas da Saúde detectados na chamada "Operação Sanguessuga". Os nomes chegaram ao órgão por meio de um CD entregue ao delegado Tardelli Boaventura, que preside a investigação, pela servidora do Ministério da Saúde, Maria da Penha Lino, que foi presa na ação.
O material será encaminhado ainda nesta semana ao juiz da 2ª Vara Federal do Mato Grosso, Jefferson Schneider, que, a exemplo do que fez com outra listagem que aponta o suposto envolvimento de 64 parlamentares, deverá encaminhar o material ao Supremo Tribunal Federal, à Prouradoria-Geral da República, e às mesas diretoras da Câmara dos Deputados e do Senado.
Os parlamentares são suspeitos de apresentarem emendas ao Orçamento da União com o objetivo de destinar recursos para a compra de ambulâncias para diversos municípios do País. A aquisição dos equipamentos era feita por meio de dispensa de licitação junto à empresa Planam, que teve seu dono Darci Vedoin preso pela Polícia Federal.
Até agora, os indícios reunidos nas investigações, segundo uma fonte da PF, dão mostrar claras do envolvimento dos gabinetes dos parlamentares. Maria da Penha, em longo depoimento prestado na semana passada, afirmou que alguns parlamentares assinavam os projetos de emendas em branco. Os papéis, a partir de então, eram levados por representantes da Planam que faziam os cálculos sobre o montante que seria necessário para a venda das ambulâncias e incluía no montante a comissão do parlamentar, que variava, segundo o depoimento, entre 20% e 30% do total.
Processos
No início do mês, a o juiz Schneider encaminhou ao STF uma lista com os nomes de 61 deputados, um senador e dois ex-deputados federais que tiveram seus nomes citados em algum ponto da investigação.
Desses, após reuniões mantidas na última semana, apenas 16 responderão a uma Comissão de Sindicância instalada na Corregedoria da Câmara para instaurar possíveis indícios de quebra de decoro parlamentar. Outros 36 foram absolvidos. Sobre os demais, a Corregedoria aguardará mais informações da PF para determinar como irá proceder. Existe uma grande possbilidade de que nem mesmo os 16 sobre os quais existe investigação parlamentar tenham seus nomes remetidos ao Conselho de Ética, onde o processo poderia culminar até mesmo com a perda de mandato.
A Câmara também resolveu instaurar procedimentos de investigação com o objetivo de punir assessores de parlamentares que estão presos sob a acusação de envolvimento no golpe. Existe ainda uma movimentação comandada pelo deputado federal Fernando Gabeira (PV-RJ), com o objetivo de criar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apuarar o caso, a chamada "CPI dos Sanguessugas".
Apesar de já ter reunido 64 assinaturas das 170 necessárias para a instauração do procedimento na Câmara, a possibilidade de que a comissão seja instaurada é pequena.