Se o Brasil é um grande hospital, como afirmou no passado um famoso naturalista referindo-se aos muitos doentes a saúde profissional dos médicos brasileiros também não é boa, porque no geral seus ganhos não são suficientes e muitos precisam trabalhar em mais de um emprego. Com isso há uma natural tendência a cair a qualidade da prestação de serviços. Artigo de um médico publicado ontem nesta página mostra o grau do problema. Ele denuncia que os Planos de Saúde não reajustam os ganhos dos médicos há nove anos, e sabe-se que o Sistema Único de Saúde, mais conhecido como SUS, paga pouco e também não dá aumento aos médicos há muito tempo. Além disso, afirma que esses profissionais são obrigados a participar de pelo menos dois congressos anuais o que aumenta as despesas e que precisam investir continuamente em equipamentos para não ficarem defasados. Os médicos como qualquer outro profissional têm de estar sempre atualizados e isto exige estudos. Os números mostram que 97% deles estão vinculados ao SUS, recebendo a média de R$ 20 por consulta, o que resulta em atendimento mais rápido e naturalmente pior, até em face do grande número de pacientes, que lotam as ante-salas dos hospitais. Certamente que, desse modo, não é possível exercer a medicina desejada, embora o esforço da classe médica, na maioria consciente da responsabilidade da profissão. É evidente, como já se tem escrito, que o bom exercício da medicina exige exame físico cuidadoso, observação acurada, atenção à história da moléstia, descrição dos sintomas e dos fatores de melhora e piora, e uma análise, ainda que sumária, das condições de vida e da personalidade do paciente, conforme palavras do conhecido médico Drauzio Varella. De sua vez, os Planos de Saúde alegam que não podem melhorar a remuneração dos médicos porque terão de ”repassar isto aos usuários”. Porém os sindicatos e os conselhos de medicina desconfiam de tal justificativa, porque, segundo afirmam, tais empresas ”não permitem acesso às suas planilhas de custos”. No passado dizia-se que os médicos eram a ”máfia de branco” (referência à sua vestimenta alva), e agora parece que esse rótulo recai sobre aquelas duas instituições, uma privada e outra pública. Varella diz que ”os Planos de Saúde conseguem mão-de-obra barata, graças à proliferação das faculdades de medicina”, e que os médicos envolvidos (e nisso há uma crítica a membros da classe) pedem às vezes exames desnecessários, ”por não disporem de tempo a perder com as queixas e o exame físico dos pacientes”. Parece que há uma deterioração na relação entre o SUS e os Planos de Saúde com os médicos, e destes com os pacientes, pela razão de que estes são muitos e os ganhos da área médica são magros. Diante disso, a qualidade dos atendimentos obviamente cai. Dessa forma também irão aumentando os custos sociais pela precária saúde de grande contingente da população e isto é pago com dinheiro público, leia-se o povo, significando que o SUS economiza aqui e gasta lá adiante. Os hospitais também não vão bem de saúde financeira, e assim gira essa roda viva. Mas os laboratórios, os serviços de radiologia e a indústria farmacêutica vão fazendo fortunas.