A companhia farmacêutica americana Pfizer anunciou a aquisição da sua rival Wyeth, também americana, em um negócio de US$ 68 bilhões. A compra vai elevar a receita da Pfizer em 50%, consolidá-la como a número um do atribulado setor farmacêutico e transformá-la de uma empresa puramente farmacêutica numa gigante do setor de cuidados com a saúde, operando com produtos diversificados. É o maior negócio no setor desde 2000, quando a Glaxo Wellcome comprou a Smithkline Beecham por US$ 76 bilhões
Porém, no mesmo dia em que o negócio bilionário foi divulgado, a Pfizer também anunciou uma série de medidas para reduzir custos, incluindo o fechamento de cinco fábricas, que passarão de 46 para 41, e um corte de oito mil postos de trabalho – atualmente, a empresa tem 81,9 mil empregados. A companhia já se prepara para um esperado rombo nas suas receitas quando a proteção da sua patente do medicamento de combate ao colesterol Lipitor – o remédio mais vendido no mundo – expirar, em novembro de 2011.
As demissões começarão no primeiro trimestre e devem estar concluídas em 2011, de acordo com o porta-voz da empresa, Ray Kerins. Os cortes vão atingir muitos departamentos, da administração de vendas até os de manufatura e pesquisa. "As demissões serão feitas metodicamente", disse Kerins.
Como a Pfizer, a Wyeth, fabricante do popular antidepressivo Effexor e da vacina infantil Prevnar, também já tem implantado o seu próprio programa de cortes de gastos, chamado de Project Impact. "Nenhuma medida foi adotada quanto a demissões (na Wyeth) por causa da transação", disse o porta-voz da empresa, Doug Petkus.
Os conselhos de administração das duas empresas aprovaram o acordo de compra, mas os acionistas da Wyeth ainda devem se manifestar, como também os órgãos reguladores antitruste. Além disso, o consórcio de bancos que vai emprestar US$ 22,5 bilhões para o negócio precisa completar o financiamento. Segundo Kerins, esse consórcio é formado pelo Bank of America, Merril Lynch, Barclays, Citigroup, Goldman Sachs e J.P. Morgan Chase.
A Pfizer, que também fabrica o campeão de vendas Viagra, vinha sendo pressionada por Wall Street para adotar alguma medida corajosa, uma vez que vai perder a proteção de patentes nos próximos anos. Quando medicamentos perdem a patente, passam a sofrer a concorrência dos genéricos e as vendas caem, o que deve acontecer inevitavelmente com o Lipitor. As vendas dessa droga trazem quase US$ 13 bilhões anuais para o caixa da Pfizer – que faturou US$ 48,3 bilhões no ano passado.
DEPENDÊNCIA
A aquisição da Wyeth vai ajudar a Pfizer a se diversificar e se tornar menos dependente de drogas individuais, como o Lipitor, e ao mesmo tempo dará mais força para drogas de biotecnologia, vacinas e produtos de consumo. A Wyeth fabrica as vacinas mais vendidas do mundo, como a Prevnar, para meningite e pneumonia, e comercializa, junto com a Angem Inc., o Enbrel, droga número um do mundo para artrite reumatoide.
"A combinação das duas empresas abre uma enorme oportunidade de transformação do nosso setor", disse o presidente e diretor executivo da Pfizer, Jeffrey Kindler. "Esse acordo vai resultar na primeira empresa biofarmacêutica do mundo, cuja mistura de diversificação, flexibilidade e escala vai ajudá-la a ter sucesso nessa dinâmica área de produtos de cuidados com a saúde, em todo o mundo".
Juntas, as duas empresas terão 17 diferentes produtos com vendas anuais de um US$ 1 bilhão, incluindo o antidepressivo Effexor, o Lyrica, para fibromialgia e nevralgias, o Detrol, para incontinência urinária, e o Norvasc, para pressão arterial.
Logo depois de anunciada a compra da Wyeth, a Pfizer informou que seu lucro no quarto trimestre despencou, por causa de gastos com um acordo legal envolvendo a comercialização de drogas fora da indicação autorizada. A companhia teve um ganho de US$ 268 milhões, em comparação com os US$ 2,72 bilhões. As receitas caíram 4%, de US$ 12,87 bilhões para US$ 12,35 bilhões.
Já a Wyeth informou que os lucros no quarto trimestre caíram 5,6%, de US$ 1,2 bilhão para US$ 960,4 milhões. A receita caiu 7%, para US$ 5,35 bilhões, em parte por causa de taxas cambiais desfavoráveis.
NÚMEROS
17 medicamentos produzidos pela Pfizer e pela Wyeth têm faturamento de mais de US$ 1 bilhão por ano
US$ 13 bilhões por ano é quanto a Pfizer consegue faturar apenas com o medicamento de combate ao colesterol Lipitor, o remédio mais vendido do mundo.