O novo ministro da Saúde, o sanitarista José Gomes Temporão, 56 anos, não chega a repetir a polêmica frase do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, muito explorada na última campanha presidencial, de que a saúde pública no Brasil é quase perfeita. Mas arrisca-se a uma análise otimista do setor que, para a maioria dos brasileiros, é considerado um caos absoluto. "O Brasil tem uma das políticas de inclusão social mais importantes e o SUS (Sistema Único de Saúde) é, sem duvida nenhuma, um patrimônio da população brasileira", diagnostica ele, listando entre os exemplos mundiais dados pela saúde do pais o Programa Nacional de Aids, o combate ao tabagismo e as taxas de imunização de idosos contra a gripe. "Não quer dizer que a saúde pública brasileira não tem problemas de acesso, de demora no atendimento, de qualidade no atendimento, de falta de oferta de serviços", ressalva, a tempo.
Ex-militante do PCB, ex-membro do extinto MDB de Ulysses Guimarães e do PDT de Leonel Brizola, e há poucos meses no PMDB de Michel Temer, o novo titular da cobiçada pasta de R$ 40 bilhões falou ao Correio sobre seus planos para o ministério que assume hoje. Explicou como pretende evitar a sangria de fraudes e revelou uma faceta pouco conhecida: a de especialista
Saúde pública
"Eu fico muito confortável para dizer que hoje o sistema de saúde brasileiro está sendo objeto de curiosidade do mundo inteiro. Muita gente se pergunta como é que um país com tantos problemas pode ter um sistema de controle e de atendimento. O Programa Nacional de Aids é o mais premiado; o país teve, proporcionalmente, a maior redução de prevalência do tabagismo e isso constará, no mês que vem, de um artigo que a OMS (Organização Mundial de Saúde) vai publicar; podemos imunizar 80% da população acima de 60 anos contra a gripe; somos o segundo maior país transplantador de órgãos do mundo. Então, isso mostra a qualidade da saúde pública brasileira. Não quer dizer que a saúde pública brasileira não tem problemas de acesso, de demora no atendimento, de qualidade no atendimento, de falta de oferta de serviços em muitas situações. Mas, num balanço geral, eu diria que hoje o Brasil tem uma das políticas de inclusão social mais importante e o SUS é, sem duvida nenhuma, um patrimônio da população brasileira."
Prioridades
"Inclusão social com qualidade e desenvolvimento, ou seja, reforçar o SUS como política de inclusão, de expansão de cobertura e de qualificação do atendimento das necessidades da população. E essa qualidade envolve múltiplas dimensões que vão da política de humanização à qualificação dos profissionais, das condições de trabalho, das condições tecnológicas. A outra dimensão é a dimensão da saúde em um espaço de desenvolvimento, de inovação, de produção e de riqueza. Acho que dentro dessa três linhas estarão contidas as prioridades."
Combate a escândalos
Perguntado como pretende combater as fraudes e o uso uso político do ministério, castigado por tantos escândalos seguidos, o ministro respondeu: "Aperfeiçoando o sistema de controle interno. Quando você estrutura uma maneira de operar voltada para dentro da organização, que seja democrática, onde cada funcionário se sinta representado pelo ministro e se sinta respeitado em seu trabalho, você qualifica e melhora essas questões. De outro lado, criando mecanismos de controle e de auditoria mais adequados, e ampliando a transparência das informações do Ministério da Saúde, para garantir que os cidadãos possam ter acesso aos gastos. Esse conjunto de iniciativas pode melhorar muito essa situação".
Técnico político
"Eu sou um técnico, aí também entendido como político na área da saúde pública. Sou filiado ao PMDB e fui indicado pelo governador do Rio, Sérgio Cabral. Não vejo nenhum problema dentro dessa equação. Já fui filiado a três partidos políticos: o Partido Comunista Brasileiro até virar PPS, depois me filiei ao PDT pelas mãos do Leonel Brizola e me desfilei. Agora, me filiei ao PMDB. Na verdade, tem uma questão histórica importante. Eu já fui filiado ao MDB quando o Ulysses Guimarães era presidente. Naquela época, aos comunistas que estavam na clandestinidade era muito comum se filiarem e participarem do MDB, onde poderiam exercer uma atividade política sem serem perseguidos. Então, de certa forma, já fui filiado ao MDB com Ulysses e agora estou com o PMDB, com o Sérgio Cabral. Me sinto muito confortável."
Apoio de Cabral
"Muito importante. O próprio presidente da República me disse que o Rio de Janeiro merece ter o ministro da Saúde. Então, é preciso entender primeiro a importância do Rio na reeleição para a Presidência, a importância do Rio para o presidente Lula, a importância do Rio do ponto de vista da saúde pública. Nós temos problemas sérios no Rio e, portanto, o Ministério da Saúde tem uma preocupação específica com o estado. É evidente que esse apoio do governador foi muito importante.
Música popular
"Meu interesse pela música faz parte da minha vida. Quando eu era pré-adolescente eu aprendi a tocar violão, cantava no próprio secundário; participei de festivais de música. Então, sempre fui muito ligado em música e tenho uma coleção gigantesca de LPs. Aliás, não me desfiz de nenhum deles e quem tiver LPs disponíveis e vai desfazer, aceito doações. Na realidade, escuto de tudo. Na MPB, dos clássicos das antigas, digamos assim, estão Ataulfo Alves, Candeias, Paulinho da Viola, Chico Buarque, mas também escuto rock, pop, jazz. Enfim, é impossível entrar na minha casa e não ouvir música. Sempre estou ouvindo música. Então, isso faz parte da minha formação e o meu hobby forte mesmo é a música e eu sou daqueles que tratam música como uma coisa séria e tradicional. Então tenho meu LP e se precisar importar do Canadá uma cápsula nova eu boto lá e escuto as minhas bolachas. Eu tenho uns 2 mil LPs e 3.500 CDs. Música é tudo pra mim. Gosto de livros, mas música é muito importante. Um dos meus quatro filhos é músico e toca violão de sete cordas e toca choro. Então foi ótimo. Acho que ele pegou um dos pedacinhos do meu DNA e leva por aí."