Não bastasse o fechamento de hospitais com atendimento específico aos
portadores de distúrbios mentais existe ainda, no Brasil, um faz de conta
que insinua em resolver este grave problema apenas com portarias e
medidas provisórias. Enquanto isso, milhares de pessoas doentes estão
perambulando pelas ruas das cidades, ao invés de estarem recebendo ajuda
médica em hospitais especializados.
No Paraná, o Governo anuncia a construção de 24 hospitais, o que é
uma medida louvável, se concretizada. Só que esse mesmo Governo revelou
que desses 24 hospitais, apenas quatro deles terão leitos destinados à área
de psiquiatria.
Este mesmo Paraná, que tinha seis mil leitos para a área de psiquiatria
possui hoje pouco mais de dois mil quando, por lei, deveria contar com
4.500 leitos, em proporção com a população do Estado. E olha que a
Organização Mundial da Saúde (OMS) diz que o ideal seriam 10 mil leitos.
A situação em que se encontram as instituições de saúde habilitadas ao
tratamento psiquiátrico dos paranaenses, tida como calamitosa e à beira de
um colapso na assistência, foi apresentada dia 26 de abril ao Conselho
Estadual de Saúde, no painel reservado à Comissão de Saúde Mental.
Com base no trágico relatório elaborado pelo Departamento de
Psiquiatria da Federação dos Hospitais do Paraná (Fehospar),
profissionais da área foram direto com o dedo na ferida: "a asfixia
financeira imposta pela política oficial torna impossível a continuidade da
prestação dos serviços em consonância com os protocolos recomendados,
com qualidade e dentro das condições mínimas de dignidade".
Bem. A psiquiatria enfrenta todas as dificuldades comuns a outras
especialidades médicas no Brasil que é a falta de recursos financeiros e
estrutura. Contudo, quando se trata de saúde mental existe uma
complicação adicional: pacientes com transtornos mentais, seus familiares e
até os profissionais da área enfrentam o preconceito da sociedade. Quem
sustenta a tese é o médico Josemar França, presidente da Associação
Brasileira de Psiquiatria, que garante: "o estigma impede, principalmente,
a socialização do paciente que é o ponto fundamental para o tratamento da
doença".