Em até 20 dias, cirurgias e transplantes suspensos pelo Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF/UFRJ) por falta de material hospitalar para o procedimento cirúrgico poderão voltar a acontecer. A previsão é do diretor do hospital, Alexandre Cardoso, que acredita que o reajuste de 15% no repasse de dinheiro do SUS para o hospital, estabelecido ontem em reunião entre a secretaria municipal de saúde e o superintendente-geral do hospital, Luis Carlos Pereira, possa voltar a estabelecer as atividades na unidade.
– Estamos no compasso de espera, nos reajustando internamente para que possamos voltar a realizar as cirurgias. Ainda é cedo para falar, mas é possível que em 15 ou 20 dias retomemos nossas atividades – declarou Alexandre. – O plano operativo anual não fixou reajuste para os procedimentos de média complexidade, a verba continua sendo de R$ 2,47 milhões, os de alta complexidade passam a ter um teto de R$ 2,33 milhões – antes era de R$ 1,80 milhão.
De acordo com Alexandre, os valores correspondem a verba mensal por prestação de serviço. O aumento de 15% no teto não significa um aumento da verba, mas uma possibilidade de gasto 15% maior. Para o diretor, a situação ficaria ainda mais confortável se o MEC assumisse o gasto de R$ 1,30 milhões com o pessoal terceirizado.
Entre os procedimentos cancelados estão os transplantes de orgãos e tecidos, novas internações, cirurgias eletivas, transferência de pacientes de outras unidades de saúde, consultas de primeira vez no ambulatório e procedimentos ambulatoriais. Os demais procedimentos precisam de avaliação prévia da divisão médica.
Pacientes ainda apreensivos
Pacientes e familiares que buscam o serviço do hospital estão preocupados com o cancelamento das atividades. Ciente de que é delicado o estado de saúde de seu pai, o aposentado Sebastião de Paula, de 73 anos, o militar Joanatan de Paula está revoltado com a situação da unidade federal.
– Meu pai tem aneurisma nas duas pernas e precisa de uma operação urgente. Em nove dias de internação já cancelaram a operação duas vezes e agora ele foi encaminhado para casa – disse o militar, angustiado. – A situação dele é uma bomba relógio, não dá para ficar esperando em casa.
Até mesmo a coleta de sangue para hemogramas foi suspensa. A sensação de frustração para quem depende do atendimento público é grande.
– Minha mãe faz hemodiálise três vezes na semana, hoje fui marcar um exame de sangue que a médica pediu e disseram que não tem material para fazer – declarou a técnica de enfermagem Tatiana Gonçalves. – Perguntei qual o material necessário para que eu comprasse e ela pudesse fazer o exame, mas ninguém soube me responder.
Crise atinge ensino
Por ser um hospital universitário, a oferta de estudantes na unidade é muito grande, mas muitos residentes do hospital estão preocupados com os prejuízos que a crise pode levar a suas formações acadêmicas. Sem ter como acompanhar cirurgias e outros procedimentos, a única opção para muitos deles é ir para a biblioteca estudar.
– Nosso aprendizado gira em função dos pacientes e com o hospital vazio não temos substratos para trabalhar – reclamou Márcio Garrison Dytz, há quatro meses residente do hospital. – Nosso tempo aqui é limitado e esses problemas atrapalham o nosso aprendizado.
Residente em clínica médica, Luciana Rego também lamenta a crise no hospital.
– É muito triste ver uma instituição de excelência como esta nessa situação. Para nós é uma perda muito grande, principalmente nas áreas mais práticas.