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Santas Casas em penúrias

A população brasileira, principalmente nas cidades menores, está acompanhando a penúria em que vivem as Santas Casas de Misericórdia, com sérias dificuldades financeiras que comprometem o atendimento à população. Como são entidades que se tornaram referências históricas no atendimento à população, todos se perguntam por que as Santas Casas precisam sempre mendigar auxílios governamentais e de entidades privadas para cobrir os contínuos déficits. E os motivos pelos quais elas ainda não partiram para a administração profissionalizada.
As novas descobertas no campo da medicina, os custos advindos da tecnologia, as exigências dos usuários, a busca pela excelência da qualidade e a regulação governamental alteraram os padrões do exercício da prática médica. Essas transformações fazem com que a permanente crise do setor da saúde exija qualificação e competência de gestão dessas complexas organizações. Para as Santas Casas, as conseqüências da falta de profissionalização são maléficas. As centenárias organizações de saúde enfrentam dificuldades conhecidas por todos: deficiência de serviços, má-administração e desperdício de recursos.
As Santas Casas não são santas e nem casas. São hospitais. Dado o relevante serviço prestado, elas merecem ser tratadas com consideração, atenção e, acima de tudo, com o respeito que merecem as grandes organizações de saúde em todo o mundo. Elas também não são de misericórdia. Essa denominação está afeita aos cuidados com o humanismo, uma das características das organizações de saúde. Mas, mesmo nesse sentido, elas não diferem dos outros hospitais. O que acontece é que as instituições que administram os recursos da saúde se valem do termo para subsidiá-las com sentido misericordioso. Pensam que estão fazendo apenas favores.
Para administrar uma Santa Casa foi criado um termo para o dirigente, o provedor. Escolhido entre pessoas respeitadas na sociedade em que vivem, o provedor toma suas decisões com as melhores das intenções, apegado ao conceito de misericórdia. Infelizmente, porém, essa figura escolhida na sociedade, na imensa maioria dos casos, não tem a menor condição de administrar uma organização tão complexa, simplesmente pelo fato que ele não teve formação na área de saúde ou administração hospitalar.
O modelo de administração das Santas Casas deve ser mudado. Ou melhor, atualizado, levando-se em consideração modernos conceitos de competitividade e produtividade. Além de estudos sobre a capacidade instalada em saúde deveriam ser incorporados aspectos formais e informais da política, tais como o clientelismo, os resultados das eleições em geral e as afinidades partidárias. É comum ser inaugurado um hospital, arranjar-se uma subvenção (insuficiente) e daí arvora-se o direito de pedidos políticos e imposição de favores impensáveis em uma empresa privada.
Atualmente, o sistema regido pela oferta tem uma característica perversa: não é sensível ao aumento dos custos e a tendência é tornar-se cada vez mais caro, prejudicando o atendimento à população e tornando a inadimplência um problema crônico.
Esse quadro precisa ser mudado imediatamente. É sempre bom lembrar que, para os líderes, problemas são transformados em oportunidades de sucesso. No caso das Santas Casas, o que falta é criatividade, iniciativa, envolvimento e liderança. As organizações, as pessoas que trabalham nela e, principalmente, a população que usa os serviços das Santas Casas, merecem respeito. Quem ganha somos todos nós.