O presidente Luiz Inácio Lula da Silva planeja fazer uma mudança ousada em sua equipe, mexendo no Senado. A idéia de Lula é pôr o senador Aloizio Mercadante (PT-SP) no Ministério da Saúde e Renan Calheiros (PMDB-AL) na liderança do governo. Renan trocaria de lugar com Mercadante, que atualmente é o líder. O assunto vem sendo discutido entre quatro paredes pela cúpula do governo, mas o presidente ainda não bateu o martelo, já que não pode tirar Mercadante do Senado em plena crise política.
Com a operação, Lula mataria vários coelhos com uma só cajadada. Há muito tempo ele está descontente com o trabalho do ministro da Saúde, Humberto Costa, que também é do PT e pode ser candidato ao governo de Pernambuco, em 2006. No fim do ano passado, chegou a dar cartão amarelo para o companheiro.
O Ministério da Saúde é dono de um dos maiores orçamentos da área social (R$ 36,5 bilhões) e, na avaliação do presidente, Costa não tem mostrado serviço.
De quebra, Lula resolveria o problema de pagamento de fatura ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), depois do apoio do PMDB para abafar a crise provocada por Waldomiro Diniz, o ex-subchefe de Assuntos Parlamentares da Casa Civil flagrado pedindo propina a um bicheiro. É que o sonho de Sarney, hoje o maior aliado do governo no Congresso, é ser reeleito presidente do Senado, em 2005. Para tanto, precisa mudar a Constituição e contar com a mão amiga do PT.
O plano de reeleição também inclui o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), cujo mandato termina no início de 2005, como o de Sarney. A dor de cabeça do governo, atualmente, é: o que fazer com Renan? Motivo: o atual líder do PMDB no Senado, que controla os votos do partido, é o próximo da fila para a presidência da Casa.
Em conversas reservadas, interlocutores do presidente dizem que a transferência de Mercadante para o poderoso Ministério da Saúde “limparia a área” para Renan, já que ele assumiria a liderança do governo no Senado.
Serra – No Palácio do Planalto, o comentário é que Mercadante pode ter o mesmo destino do presidente do PSDB, José Serra, que também era senador e foi ministro da Saúde no governo Fernando Henrique.
Tanto Serra como Mercadante são economistas da linha “desenvolvimentista”. O senador do PT defende publicamente uma inflexão na política econômica capitaneada pelo ministro da Fazenda, Antônio Palocci Filho, considerado “monetarista”. No governo FHC o embate era entre Serra e o então ministro da Fazenda, Pedro Malan.
Se Mercadante for mesmo para a Saúde, Lula também porá fim a uma ruidosa disputa no Congresso, já que ele e João Paulo Cunha não se entendem. João Paulo é pré-candidato ao governo de São Paulo, em 2006. Mercadante jura que não será. Seu argumento: o presidente do PT, José Genoino, tem prioridade.
Na seara petista, porém, ninguém acredita em tanto despojamento por parte do senador.