Com enorme esforço e quebrando muita pedra, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, conseguiu uma gota de alívio ao anunciar aumento médio de 30% em cerca de mil procedimentos ambulatoriais e hospitalares da tabela do Sistema Único de Saúde (SUS). É o que representa um investimento adicional de R$ 1,2 bilhão – primeira parcela dos R$ 2 bilhões anunciados para o setor em agosto, por Temporão e o ministro da Fazenda, Guido Mantega -, mesmo que em alguns itens possa significar aumento porcentual expressivo, pelo fato de partir de uma base extremamente defasada, resulta em muito pouca coisa – e é claro que longe está de reduzir, substancialmente, essa defasagem.
Como, segundo os dados do Ministério da Saúde, entre 1994 e
De qualquer forma, o pequeno alívio beneficia, particularmente, os hospitais. Os médicos podem acumular vários empregos – e muito sacrifício – para sobreviver da profissão, mas os hospitais que não têm custos cobertos, passando a acumular prejuízos, entram em processo de deseconomia de escala e penúria de trágicas conseqüências. A propósito, na segunda-feira, no mesmo momento em que o ministro Temporão anunciava, em Fortaleza, os reajustes nos procedimentos laboratoriais e hospitalares, em Maceió servidores da rede de saúde pública de Alagoas, em greve há mais de um mês, invadiam a Unidade de Emergência Armando Lages, principal pronto-socorro do Estado. Os telejornais mostraram os doentes acumulados nos corredores, já em péssimas condições de acomodação, ainda tendo o espaço invadido pelos grevistas – cenas próximas do dantesco!
Mesmo em Fortaleza, onde estava o ministro, cirurgiões vasculares do Ceará permaneciam em greve havia mais de dois meses. Apesar de terem recebido aumento de 24% nos procedimentos e mais 30% nos honorários, pela direção de sua cooperativa avaliaram como inócuo aquele reajuste, pretendendo que o Estado complemente o valor das consultas para que cheguem a pelo menos R$ 35 (ainda bem longe dos R$
Neste ponto, cabe lembrar que a CPMF, que já tinha sido imposto, surgido em 1993 e depois abolido, só ressurgiu, em 1996, pela insistência do então ministro da Saúde, o competente e respeitado cirurgião cardíaco Adib Jatene, que encontrou na tributação da movimentação financeira uma fonte de recursos para essa importantíssima área de atuação governamental. Quando se compara o minguado R$ 1,2 bilhão, obtido pelo ministro Temporão, com a dinheirama de mais de R$ 38 bilhões a ser arrecadada pelo governo, via CPMF, sem mais ou apenas com ínfima conexão com a Saúde, tornam-se mais que notórias as profundas distorções do sistema tributário caboclo: o que foi "passado" ao contribuinte como arrecadação "provisória", destinada a solucionar um problema social urgente (a saúde), tornou-se imposição tributária permanente, destinada a sustentar os projetos que rendam mais popularidade ao chefe do governo.