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Preso legista acusado de ter clínica de aborto

            Um dos mais famosos médicos-legistas acusados de fornecer laudos para encobrir mortes sob tortura durante a ditadura militar, Isaac Abramovitch foi preso ontem em uma ação coordenada pelos promotores do Grupo de Atuação Especial e Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de São Paulo. Desta vez, ele é acusado de manter uma clínica de aborto na Rua João Moura, em Pinheiros, na zona oeste.

            Policiais e promotores chegaram ao local por volta das 17h30. Não conseguiram flagrar a realização de aborto. "Ele tinha um sistema interno de TV que torna muito difícil surpreender o momento do aborto", afirmou o promotor Arthur Pinto de Lemos Junior, do Gaeco. Mas, durante a revista da clínica e da casa do médico, os investigadores encontraram três armas, uma delas com silenciador, e remédios com prazo vencido de uso veterinário para a contenção de hemorragias.

            Por isso, Abramovitch foi preso em flagrante sob as acusações de porte ilegal de arma e de ter em depósito substâncias nocivas à saúde. "Ele será enviado ao 13º Distrito Policial, onde ficará preso com outros presos que têm curso superior", afirmou o delegado Ângelo Isola, titular da 3ª Delegacia Seccional. Em seu interrogatório, Abramovitch afirmou que não pratica abortos em sua clínica. Disse ainda aos policiais que ganhou as armas de amigos, mas não informou seus nomes.

            A investigação feita pelo Gaeco começou há cerca de cinco meses. "A parente de uma grávida nos procurou para denunciá-lo", disse o promotor. Segundo ele, a grávida fez aborto na clínica e ficou com seqüelas. Os promotores descobriram que o médico atendia três ou quatro pacientes por dia. "Estimamos que ele ganhava R$ 15 mil por semana com abortos". O médico atendia as pacientes na parte de cima da clínica. Embaixo havia uma passagem secreta que levava aos leitos onde os abortos seriam feitos.

            Segundo o jornalista Ivan Seixas, da comissão de familiares de mortos e desaparecidos políticos, "Abramovitch é um médico comprometido com a tortura". Foi ele que assinou o laudo sobre a causa da morte do estudante Alexandre Vannuchi Leme, primo de Paulo Vannuchi, ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos. Alexandre morreu sob tortura no DOI de São Paulo. Para encobri-la, atestou-se que ele morreu atropelado. A mesma versão foi usada no caso da morte de Antônio Benetazzo, militante do Molipo e amigo do ex-ministro José Dirceu cujo laudo foi assinado por Abramovitch. O médico assinou ainda o laudo da morte de Carlos Nicolau Danielli, dirigente do PCdoB também morto sob tortura no DOI.