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Curitiba: Prontos-socorros em crise

A superlotação do serviço de Emergência do Hospital Cajuru na quarta-feira desta semana reflete a crise dos prontos-socorros em Curitiba. O Cajuru abrigava 44 pacientes na manhã daquele dia. Isso forçou a direção a solicitar ao Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu), da prefeitura, e ao Sistema Integrado de Atendimento ao Trauma e Emergência (Siate), do Corpo de Bombeiros, que encaminhassem os pacientes a outros hospitais. À tarde, voltou à média diária de 30 pacientes. O que não significa que o problema estava resolvido. Todos os dias o Cajuru trabalha no limite, já que tem apenas 20 leitos na Emergência. O mesmo acontece nos outros dois prontos-socorros da cidade, Evangélico e Hospital do Trabalhador.

As duas principais entidades de classe dos médicos são enfáticas em afirmar que a infra-estrutura dos prontos-socorros da capital não cresceu na mesma proporção que a cidade. Com uma população de aproximadamente 1,8 milhão de pessoas, Curitiba conta com apenas 124 leitos nos três prontos-socorros da cidade – média de uma vaga para cada 14,5 mil habitantes. “Há dez anos Curitiba não ganha um novo pronto-socorro e a infra-estrutura desses três hospitais já não é suficiente. Médicos não faltam, inclusive especialistas. O que falta é estrutura”, ressalta o presidente da Associação Médica do Paraná, José Fernando Macedo.

O presidente do Conselho Regional de Medicina, Gerson Zafalon Martins, defende uma triagem ainda maior dos pacientes nas unidades de saúde do município para amenizar a superlotação dos prontos-socorros. “O ideal seria que somente os politraumatizados, ou seja, pacientes mais graves, fossem ao prontos-socorro. O sujeito que torce o pé ou que fratura um braço teria de ser atendido na unidade municipal de saúde. Mas infelizmente as unidades nem raio-X têm”, avalia. É a mesma opinião do chefe da Emergência do Cajuru, o médico Vinícius Filipak. Como exemplo, ele cita o fato de que 40% dos pacientes do Cajuru são da região metropolitana. “Se esse paciente fosse atendido em sua cidade, não só o prontos-socorro ganharia, mas ele mesmo também, pois não precisaria se deslocar até Curitiba.”

Para a presidente da Sociedade de Terapia Intensiva do Paraná, Nazah Cherif Mohamad Youssef, o sistema público em todo o país não tem leitos suficientes de emergência. “Os hospitais não se atualizaram porque não há recurso suficiente a ponto de aumentar as áreas de emergência”, avalia.

Assim como no Cajuru, na Emergência do Hospital Evangélico – com 40 leitos e projeto de ampliação para 80 no ano que vem – não é rara a suspensão temporária do recebimento de doentes. Segundo o diretor-geral, Constantino Miguel Neto, isso acontece uma vez a cada dois meses. “Está cada vez mais freqüente. O problema é mais grave do que aparenta. Isso é só a ponta do iceberg”, diz. “Quanto tempo faz que não aparece um hospital novo que atende SUS?”, questiona.

O chefe de Planejamento e Estatística do Corpo de Bombeiros, major Paulo Henrique de Souza, afirma que a superlotação dos três prontos-socorros de Curitiba tem forçado as ambulâncias a descumprir o previsto de levar os pacientes exclusivamente para os hospitais Cajuru, Evangélico e do Trabalhador. “Isso tem sido mais comum do que o desejado”, comenta.

Quando os três prontos-socorros de Curitiba não têm condições de receber mais gente (além da superlotação, muitas vezes o atendimento é paralisado porque algum equipamento está danificado), o paciente é encaminhado ao Hospital Angelina Caron, em Campina Grande do Sul, ou ao Nossa Senhora do Rocio, em Campo Largo. Isso dobra o tempo de atendimento da equipe de socorristas. Conforme explica o major Souza, o tempo de atendimento do Siate – do acionamento do serviço ao retorno da unidade ao quartel – é de uma hora e quinze minutos nos três prontos-socorros de Curitiba. Quando o deslocamento tem de ser feito para os hospitais da região metropolitana, o tempo aumenta para duas horas e meia. “Nesse período, é uma equipe a menos que fica disponível para o atendimento da população”, afirma o major.

Violência

A superintendente de gestão da Secretaria Municipal de Saúde, Eliane Chomatas, diz que em grande parte a sobrecarga se deve ao aumento da violência, principalmente acidentes de trânsito e agressões físicas. Dados da Secretaria de Estado da Segurança Pública mostram que a violência é crescente em Curitiba e região. No comparativo do primeiro semestre de 2008 com o mesmo período de 2007, os homicídios aumentaram 14% na capital e 29% na região metropolitana.

Além disso, há o atendimento de pacientes da região metropolitana. “Se considerarmos a questão da sobrecarga de pacientes que vêm da região metropolitana, diria que o sistema hoje está realmente no limite. Em alguns momentos há situação maior de estrangulamento”, diz Eliane. Para a prefeitura, se o serviço fosse organizado nos municípios da região metropolitana haveria um desafogamento em todo o sistema da capital. “Precisa organizar a atenção, principalmente os serviços de urgência e emergência nessas cidades”, enfatiza Eliane.

Irvando Carula, superintendente de gestão de sistemas de saúde da Secretaria Estadual de Saúde, concorda em parte com a visão da prefeitura de Curitiba. “Temos na região metropolitana municípios com grande densidade populacional que não têm atendimento. Por outro lado, alguns hospitais da região metropolitana também têm atendido a demanda de Curitiba”, afirma. Segundo Carula, alguns municípios da região metropolitana estão se organizando.

Leitos

A região metropolitana de Curitiba está passando por uma reestruturação para atender casos de urgência e emergência.

Araucária

Hospital Municipal que irá entrar em funcionamento, sem data definida.

São José dos Pinhais

Secretaria Municipal da Saúde está reestruturando os hospitais São José e Atílio Talamini.

Almirante Tamandaré, Colombo e Fazenda Rio Grande

Unidades de emergência dos municípios irão receber cada uma R$ 500 mil em equipamento para se adequar.

Litoral

Hospital quase pronto em Paranaguá, que terá condições de atender procedimentos mais complexos.

Ponta Grossa

Um hospital regional sendo construído.

Estrutura

Confira a estrutura dos três principais hospitais de Curitiba no atendimento a pacientes em estado grave de saúde.

Hospital do Trabalhador

Tem 175 leitos, dos quais 64 para trauma e 20 de UTI, entre adulto neonatal e pediátrica.

Hospital Cajuru

São 191 leitos, dos quais 20 de pronto- socorro e 20 para UTI.

Hospital Evangélico

Tem 600 leitos, dos quais 40 no pronto-socorro e 45 na UTI.

Fonte: Secretaria de Estado da Saúde.