Um remédio essencial para o tratamento dos hemofílicos está em falta na rede pública do país. Em alguns estados, a espera já ultrapassa os cinco meses. O problema é antigo e o governo já tinha feito um alerta no ano passado para o risco de desabastecimento. Estão em falta as proteínas de fator 8 e 9.
Sem o remédio, existe ameaça à vida de muita gente, porque esse remédio auxilia na coagulação sangüínea, estanca uma hemorragia e é importado. O Ministério da Saúde alega que depende dos três únicos laboratórios que fabricam o produto.
A dona-de-casa Josilene Souza Pinheiro tem três filhos hemofílicos. “Eles correm muito, brincam. Tenho medo de que caiam, cortem a boca e sangrem. Ter três meninos hemofílicos não é fácil”, disse.
Se eles se machucam, podem ter sangramentos que não param. Por isso, precisam ter sempre a mão os remédios para hemofílicos.
O Brasil tem hoje 12 mil pacientes hemofílicos. A doença é hereditária e dificulta a coagulação do sangue. Qualquer ferimento pode provocar uma hemorragia externa ou interna.
Muitos pacientes, no entanto, têm tido dificuldade de encontrar o medicamento que estanca a hemorragia. O consultor tributário Célio Silva está preocupado. Diz que há cinco meses o remédio começou a faltar em Uberlândia,
O Hospital de Apoio de Brasília, que distribui o medicamento, também está sem estoque. “Chegando aqui eu fui surpreendido pela terceira vez. Não tinha o medicamento no hospital”, afirmou o técnico
Um dos filhos da dona-de-casa Vânia Santos teve um pequeno acidente na semana passada e demorou para conseguir o remédio. “Ele sangrou na sexta, no sábado, no domingo, na segunda”, disse a dona-de-casa Vânia Santos.
A hematologista Jussara Almeida argumenta que é fundamental voltar a ter estoques do medicamento, para dar qualidade de vida aos pacientes. “O tratamento do hemofílico não é mais hospitalar. É domiciliar. O paciente tem que ter a liberdade de ir para a escola, ir para o trabalho e ter a tranqüilidade de saber que ele tem o remédio em casa e não ter que implorar, mendigar do hospital uma dose mínima”, afirmou a hematologista Jussara Almeida.
O procurador da República Marinus Marcico acompanha o problema e diz que o Tribunal de Contas da União fez, no ano passado, algumas recomendações ao ministério da Saúde para melhorar a distribuição dos remédios.
“O problema da hemofilia é uma crise nacional. Os medicamentos estão faltando em âmbito nacional. Tenho recebido diversas reclamações, diversos pedidos tanto de hemofílicos e, sobretudo, de pais de hemofílicos desesperados com essa situação, que vão ao centro de saúde e não encontram os fatores de coagulação necessários para manter os hemofílicos vivos”, disse o procurador.
“O problema não está na distribuição e nem no gerenciamento do programa. O problema está na restrição de oferta e na dependência do país de três empresas internacionais únicas no mercado. Mas a partir do dia 9 de setembro, com a chegada do novo estoque de produtos ao Brasil, eu acredito que essa situação será plenamente resolvida”, afirmou o coordenadora do Mistério da Saúde Alberto Beltrame.